Future of Money

Venda de íris no Brasil? Entenda como funciona o World e as críticas ao projeto

Lançada em 2023, iniciativa é liderada por Sam Altman, CEO da OpenAI, e busca distinguir humanos de inteligências artificiais

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 14 de janeiro de 2025 às 11h33.

Tudo sobreSam Altman
Saiba mais

Na última segunda-feira, 13, um vídeo viralizou no TikTok e em outras redes sociais: uma jovem mostrou como foi "vender meu olho" ao visitar um local em São Paulo com uma fila de pessoas com o mesmo objetivo, seguindo o passo a passo para realizar a operação e ganhar uma quantia em dinheiro. Por trás do vídeo está o World, projeto liderado por Alex Blania e Sam Altman, o CEO da OpenAI.

O World, inicialmente chamado de Worldcoin, foi lançado em 2023 e se espalhou ao redor do mundo. Hoje, o projeto conta com uma criptomoeda e uma rede blockchain próprias. Ele chegou a ter operações no Brasil em 2023 por poucos meses como um teste, mas voltou oficialmente no final de 2024.

O projeto tem ganhado espaço em diversos países, com destaque para a Argentina e, mais recentemente, o Brasil, atraindo pessoas interessadas na recompensa pelo registro de íris. Porém, ele também tem sido alvo de críticas e preocupações das autoridades.

O que é o World?

O World é um projeto da empresa Tools for Humanity que busca ajudar a diferenciar humanos de robôs e inteligências artificias. A ideia é que cada usuário tenha uma World ID, espécie de "passaporte" que serve como uma "prova de humanidade", atestando que o dono desse registro é realmente um humano.

Em entrevista exclusiva à EXAME, Alex Blania explicou que a ideia surgiu em meio à explosão de bots e conteúdos sintéticos na internet e, principalmente, nas redes sociais, com uma dificuldade crescente em diferenciar contas de humanos e aquelas operadas por IAs. Ele acredita que o problema tende a piorar, exigindo algum tipo de solução.

O objetivo do World, portanto, é auxiliar governos, empresas e os próprios usuários nessa tarefa, se tornando uma "credencial da humanidade".

Para isso, porém, é preciso que a rede do projeto conte com o maior número possível de usuários com a "prova de humanidade". Afinal de contas, sem esse alcance, o serviço de diferenciação de humanos e IA seria pouco útil. É aí, então, que entra a relação entre o registro de íris e a recompensa em criptomoeda.

Venda de íris?

A prova de humanidade do World é dada a partir do Orb, uma máquina que conta com uma espécie de câmera fotográfica. O Orb é o responsável por fazer o registro da íris dos usuários. Depois que o registro é feito, os usuários ganham o World ID e a garantia da empresa de que são humanos.

A princípio, porém, não haveria um incentivo claro para realizar esse tipo de registro. E é aí que entra a recompensa em dinheiro. Na verdade, os usuários recebem uma quantia determinada em worldcoins, a criptomoeda nativa do projeto. No momento, 1 unidade de worldcoin equivale a US$ 2, com uma capitalização de mercado de US$ 1,7 bilhão e figurando entre as 75 criptos mais valiosas do mundo.

A lógica por trás do projeto reflete a chamada Web3, a próxima geração da internet. A ideia é que os usuários recebam recompensas como forma de incentivo não apenas para a participação em projetos, mas também para cederem seus dados. O argumento é que na geração atual da internet, a Web2, os usuários já fariam tudo isso sem receber nenhuma recompensa monetária.

Nesse sentido, a Tools for Humanity afirma que o processo de registro de íris não seria uma "venda", mas sim uma operação com posterior recompensa como forma de atrair e engajar usuários. O valor é dividido em duas partes: uma metade é dada logo após o registro e a outra é distribuída de forma fracionada, ao longo de 12 meses. O montante pode ser sacado pelo aplicativo do projeto.

Críticas e preocupações

Desde o seu lançamento, o World tem enfrentado diversas críticas e problemas judiciais ao redor do mundo. Na Espanha, por exemplo, ele foi proibido por uma falta de informações sobre omo os dados são tratados e utilizados, obtenção de dados de menores de idade e a impossibilidade dos usuários retirarem o consentimento para dados.

Portugal também anunciou a proibição das operações da empresa no país, justificando a decisão para "salvaguardar o direito fundamental à proteção de dados pessoais, em especial dos menores". Já na Coreia do Sul, o projeto foi multado em US$ 830 mil por acusações de ter violado as leis de privacidade de dados no país. A Argentina também aplicou uma multa.

A principal preocupação de especialistas gira em torno dos dados de íris que o World pode estar recebendo. A íris é considerada um dado biométrico extremamente sensível, já que ele nunca pode ser alterado. Em casos de vazamento, o prejuízo para o usuário poderia ser grande. No exterior, autoridades também apontaram falhas e ausências nos termos de uso e de concessão de dados da empresa.

Desde então, o World tem se defendido das acusações. O argumento do projeto é que as autoridades não entendem exatamente o seu funcionamento e suas salvaguardas. Segundo o World, o registro de íris é imediatamente deletado após o escaneamento e substituído por um código, que então é usado para gerar a World ID.

A empresa alega, portanto, que não haveria o armazenamento desse dado biométrico sensível ou seu uso para outras finalidades. No Brasil, o World se comprometeu a trabalhar com autoridades para prestar esclarecimentos e afirmou que já está em contato com reguladores. As preocupações, porém, não parecem ser suficientes para afastar o público.

Na última sexta-feira, 10, o World chegou à marca de 10 milhões de usuários ao redor do mundo com a "prova de humanidade". O projeto tem ganhado espaço principalmente em economias emergentes ou em crise, caso da Argentina. No Brasil, o World já ultrapassou 100 mil usuários com registro de íris em menos de 2 meses de operação.

Siga o Future of Money nas redes sociais: Instagram | Twitter | YouTube Telegram | TikTok

Acompanhe tudo sobre:Sam AltmanInteligência artificialCriptomoedas

Mais de Future of Money

Brasil aproveita queda do bitcoin e investe R$ 132 milhões em fundos de criptomoedas

ETFs cripto: especialista prevê 50 novos lançamentos em 2025

Escolhido por Trump para ser secretário do Tesouro planeja abrir mão de investimento em bitcoin

World, projeto de Sam Altman, chega a 10 milhões de usuários com ‘prova de humanidade’