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Criptomoedas não são afetadas por apagão cibernético e usuários elogiam blockchain

“Atualização defeituosa” de um software de cibersegurança da empresa CrowdStrike derrubou operações de diversas empresas ao redor do mundo

Segurança digital vem ganhando destaque no mercado (Reprodução/Reprodução)

Segurança digital vem ganhando destaque no mercado (Reprodução/Reprodução)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 19 de julho de 2024 às 16h05.

Última atualização em 19 de julho de 2024 às 17h41.

O "apagão cibernético" que atingiu diversos países nesta sexta-feira, 19, derrubou operações de empresas como bancos, hospitais, companhias aéreas e bolsas de valores. Entretanto, um segmento do mercado acabou passando sem grandes problemas pelo episódio: as criptomoedas.

O caso rapidamente deu origem a publicações nas redes sociais elogiando as criptomoedas e, mais especificamente, a tecnologia blockchain por trás delas. A empresa Transfero, por exemplo, realizou um post nas redes sociais dizendo que "tudo parou... menos cripto".

A afirmação acabou exagerando o cenário atual. No Brasil, por exemplo, o impacto do problema, gerado por uma "atualização defeituosa” de um software de cibersegurança da empresa CrowdStrike, foi bem menor que em outros países, com menos empresas afetadas. Mas, à EXAME, especialistas avaliam que a tecnologia blockchain realmente mostrou suas vantagens.

Por que cripto não parou?

João Zecchin, sócio-fundador da Fuse Capital e da BRX Finance, avalia que o apagão cibernético "destaca a importância da descentralização nas aplicações dentro do ecossistema blockchain. Diferentemente dos sistemas centralizados, onde um único ponto de falha pode causar interrupções massivas, as aplicações descentralizadas (dApps) são projetadas para operar em uma rede distribuída de nós independentes".

"No universo das criptomoedas e blockchain, a descentralização é um pilar fundamental que mitiga os riscos associados a falhas centralizadas. Em um sistema descentralizado, não há uma entidade única que controle toda a rede, o que significa que a falha de um único nó não afeta a operação global do sistema", aponta.

Ele destaca que a centralização foi exatamente o problema no caso da CrowdStrike, já que "um erro em uma atualização centralizada resultou em um apagão significativo".

"Além disso, a resiliência inerente às redes blockchain, graças ao uso de algoritmos criptográficos e consenso distribuído, torna os sistemas menos vulneráveis a interrupções causadas por erros humanos ou técnicos", afirma.

"Não vemos intermitência alguma nos produtos e ativos em blockchain, que continuam operando de forma estável e segura", destaca Zecchin.

Para o executivo, "eventos como o da CrowdStrike reforçam a necessidade de avançarmos para uma infraestrutura mais descentralizada, onde a robustez e a resiliência são intrínsecas ao sistema, minimizando os riscos de falhas catastróficas centralizadas. As soluções baseadas em blockchain oferecem uma alternativa promissora para alcançar esse objetivo".

Para Cauê Oliveira, head de Research do BlockTrends, "boa parte do movimento que ocorreu internacionalmente com a Microsoft não possui qualquer ligação com o mercado de ativos digitais. Isto ocorre pelo fato destas redes não funcionarem por meio dos sistemas e bancos de dados convencionais, já que blockchains são sistemas fechados descentralizados".

Ele destaca que, no mesmo período em que o apagão ocorreu, o bitcoin seguiu operando em alta, "refletindo a eficiência de um sistema descentralizado que funcionou em 100% nos últimos dez anos. A última vez que bitcoin registrou uma queda na rede foi em 2013, fazendo com que seu tempo de funcionamento total ultrapasse os 99,98".

Ao mesmo tempo, Pedro Henrique Ramos, sócio da área de tecnologia do Baptista Luiz e professor de direito digital do Ibmec, diz que a tecnologia blockchain e os sistemas ligados à CrowdStike "são coisas totalmente separadas".

"O sistema cripto, blockchain, não é exatamente um sistema, um software, é um protocolo de tecnologia que é utilizado para fazer registro de transações e que independe de todo esse sistema do CrowdStrike. É complicado colocar as duas coisas na mesma balança", argumenta.

"Em um primeiro momento podem surgir pessoas dizendo que se todo mundo operasse em blockchain não daria problema, mas mais ou menos. Tem sistemas, como o de emissão de passagem aérea ou sistema de emissão de controle de tráfego de trem que podem ser colocados em blockchain, mas nem tudo pode ser criptografado e colocado em blockchain", ressalta.

Ele pontua ainda que, se corretoras de criptomoedas utilizassem os serviços da CrowdStrike, elas também seriam prejudicadas pelo apagão, e clientes poderiam inclusive ficar sem acesso a suas carteiras e ativos. Por isso, mesmo que a tecnologia blockchain tenha tido essa resiliência, ele defende que é importante "evitar confundir essas duas áreas".

Pedro Lapenta, diretor de research da Hashdex, avalia que "podemos dizer que mesmo um sistema de registro de informações baseado em tal arcabouço tecnológico [blockchain] pode ser parcialmente afetado por incidentes como este".

"No entanto, como as redes de blockchain públicas operam de maneira descentralizada, é muito provável que vários nós permaneçam seguros de problemas locais, preservando a integridade do registro de informações e as operações que vivem sobre tal infraestrutura distribuída. [...] A rede Bitcoin, é bom ressaltar, permaneceu inabalada pelos eventos", pontua.

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