Após 123milhas e pirâmides com cripto, CPI quer leis para endurecer punições
Em entrevista à EXAME, presidente da comissão destacou importância de aprimoramento da legislação para evitar crimes
Repórter do Future of Money
Publicado em 25 de agosto de 2023 às 09h00.
Instalada em junho deste ano, a Comissão Parlamenta de Inquérito (CPI) das Pirâmides Financeiras caminha para a etapa final, com pouco mais de um mês adicional de funcionamento. E, em entrevista exclusiva à EXAME, o presidente da comissão, deputado Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ) explicou quais deverão ser os resultados da iniciativa, com foco em projetos de lei para criptomoedas e programas de milhagem.
Ribeiro destacou que a CPI possui atualmente um "papel fundamental" dividido em três pilares: "primeiro, a repressão de crimes que aconteceram e estão acontecendo, depois o pedagógico, que é explicar como funcionam os golpes para as pessoas não caírem de novo, e, também, o aprimoramento da legislação".
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E esse último pilar deverá ser o principal legado da comissão. A expectativa, segundo o deputado, é que sejam apresentados ao menos dois projetos de lei depois do fim da CPI, em setembro, ambos com foco em endurecer punições de crimes. O primeiro será voltado para o mercado de criptomoedas, e o segundo, para o de milhagens.
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Punições maiores
Ribeiro destacou que os crimes de pirâmides financeiros no Brasil "hoje não geram prisão, na prática". "A gente estima que as 10 maiores pirâmides mais recentes tiveram R$ 100 bilhões em valor de investimento e mais de 3 milhões de pessoas lesadas, não dá para ter isso no Brasil. É preciso ter uma punição mais rígida", defende.
O foco inicial da CPI foi um segmento que acabou ficando bastante associado a pirâmides, o de criptomoedas. A prática, que já é tradicional no mercado financeiro, ganhou espaço devido à falta de conhecimento da população e de leis específicas para esse mercado, facilitando a criação de golpes com promessas de ganhos significativos em períodos de tempo curtos.
Exatamente para coibir essas práticas, o Brasil instituiu o Marco Legal das Criptomoedas , que teve Ribeiro como relator na sua tramitação na Câmara dos Deputados . A lei inclui os serviços com criptoativos nas regras para crimes financeiros, incluindo pirâmides. Entretanto, Ribeiro acredita que ainda é preciso endurecer as penas para esses casos.
A ideia é que seja apresentado um projeto de lei com esse objetivo. Além disso, o projeto também contaria com a obrigatoriedade da chamada segregação patrimonial , a exigência de separação de fundos de clientes e corretoras para evitar casos como o da FTX. A medida chegou a ser incluída no Marco Legal das Criptomoedas, mas foi retirada na Câmara antes da aprovação.
"A gente vai ter que ampliar a discussão. Ou segregação patrimonial ou um fundo garantidor, mas a gente precisa de algum modelo para proteger o consumidor", defendeu o deputado. Atualmente, projetos de obrigatoriedade de segregação também tramitam no Senado , e a medida é defendida por diferentes empresas do setor.
Outra medida que deve constar nesse projeto será específica para a atuação de influenciadores e famosos que promovem investimentos nas redes sociais que, muitas vezes, acabam se revelando como pirâmides financeiras, incluindo no mercado cripto.
"Tem influenciador com 3 milhões de seguidores no Instagram, que convida pessoas a entrar na pirâmide e ganha 10%. Como é que ele não é responsável? Se ele influencia através do canal, ele tem responsabilidade. E não dá para achar que isso é normal, anunciar um produto que não é regulado", argumentou o deputado.
Além disso, a expectativa é que a CPI resulte em outro projeto de lei, motivado por um caso mais recente, o da empresa 123milhas . A companhia, que trabalha no mercado de milhagem, se tornou alvo da comissão após suspender pacotes e passagens compradas por clientes da plataforma. Agora, ela será investigada pelas autoridades e seus representantes deverão ser ouvidos na CPI.
Para Aureo Ribeiro, o novo escopo da comissão não é uma fuga de competência. Ele defende que "a 123milhas é uma pirâmide e trabalha com um ativo digital, que se chama milhas. Milhas são um ativo digital, moeda digital, que você vai acumulando". Nesse sentido, o deputado avalia que é provável que a CPI também resulte em um projeto de lei para regulamentar esse mercado e garantir punições.
Mesmo com a nova área de atuação, Ribeiro disse que não pretende adiar a CPI das Pirâmides Financeiras. Com isso, a comissão deve encerrar seus trabalhos no fim de setembro. Depois disso, começará o processo de tentar aprovar os projetos. "Eu vejo um espaço para entendimento e estão construindo um apoio com órgãos e governos, acho que vai ser positivo", projetou.
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