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(Dem10/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 26 de dezembro de 2025 às 14h00.
Em 2025, ficou claro que o debate sobre o futuro do dinheiro deixou de ser teórico. O ano marcou a transição definitiva entre um sistema financeiro baseado em intermediários e um novo arranjo, mais híbrido, em que blockchain, stablecoins e pagamentos instantâneos passaram a operar juntos — não como promessas, mas como infraestrutura em produção.
O Brasil ocupou um papel central nesse movimento. Ao mesmo tempo em que avançou na discussão regulatória de criptoativos, o país assistiu à consolidação do Pix como a espinha dorsal dos pagamentos domésticos. Essa combinação criou um cenário singular: um dos maiores laboratórios de inovação financeira do mundo real, em escala de milhões de usuários.
Mas 2025 também deixou evidente que tecnologia, sozinha, não resolve tudo. As discussões mais relevantes do ano não foram sobre “qual blockchain é melhor”, e sim sobre arquitetura de confiança, modelos de custódia, integração regulatória e uso cotidiano do dinheiro digital.
Se houvesse um consenso em 2025, ele seria este: stablecoins deixaram de ser um instrumento marginal do mercado cripto. Tornaram-se uma camada funcional do sistema financeiro global.
Na América Latina, esse movimento foi ainda mais evidente. Instabilidade cambial, inflação estrutural e restrições a moedas fortes aceleraram a adoção de stablecoins como meio de troca, proteção de valor e ferramenta de comércio exterior. Em operações B2B, especialmente entre Brasil e Argentina, stablecoins passaram a competir diretamente com contratos de câmbio tradicionais, oferecendo liquidação quase instantânea, previsibilidade e menor custo operacional.
Esse avanço, no entanto, trouxe novos desafios regulatórios. A decisão do Banco Central brasileiro de enquadrar determinadas transferências com stablecoins como operações de câmbio revelou um dilema global: como aplicar regras do século XX a instrumentos financeiros nativos da internet.
O debate sobre a incidência de IOF em stablecoins pareadas ao real expôs uma questão central de 2025: paridade 1:1 exige coerência regulatória. Tratar stablecoins lastreadas em moeda local como se fossem operações internacionais ignora seu potencial como instrumento doméstico de eficiência, inovação e competitividade.
Outro marco de 2025 foi o maior ataque hacker já associado ao ecossistema do Pix. O episódio não comprometeu o sistema em si, mas revelou a fragilidade de modelos excessivamente dependentes de intermediários, APIs privilegiadas e estruturas centralizadas.
O aprendizado foi direto: segurança não é apenas tecnologia, é arquitetura.
Enquanto sistemas tradicionais reagiam com bloqueios generalizados e suspensão de operações, estruturas baseadas em autocustódia e monitoramento on-chain demonstraram maior resiliência. A transparência da blockchain, combinada com análise em tempo real, mostrou-se mais eficaz para rastrear fluxos, conter danos e preservar usuários finais.
Em 2025, autocustódia deixou de ser um conceito ideológico e passou a ser entendida como um modelo de mitigação de risco sistêmico. Dar ao usuário controle direto sobre seus ativos não elimina riscos, mas reduz drasticamente a superfície de ataque associada a custodiante único, falhas humanas e vazamentos de credenciais.
O Pix consolidou-se como um dos sistemas de pagamento mais eficientes do mundo. Mas o avanço de 2025 foi perceber que ele não precisa competir com blockchain — pode coexistir com ela.
Enquanto o Pix resolve pagamentos domésticos instantâneos em reais, blockchains oferecem liquidação global, operação 24/7 e programabilidade. A convergência dessas duas vias aponta para um modelo híbrido, em que o usuário não precisa escolher entre sistema financeiro tradicional e cripto: ele transita entre ambos conforme o contexto.
Na prática, isso se materializa quando alguém guarda valor em dólar digital e paga no Brasil em reais via Pix, com conversão no momento do pagamento, preservando previsibilidade e reduzindo fricção. Esse tipo de ponte entre vias domésticas e globais tende a se tornar mais comum à medida que a experiência do usuário evolui e a regulação amadurece.
O principal aprendizado de 2025 é que o futuro do dinheiro não será definido por um único sistema, uma única moeda ou uma única blockchain. Ele será componível.
Pagamentos instantâneos, stablecoins e autocustódia não são caminhos concorrentes, mas peças de uma nova infraestrutura financeira. Países que entenderem isso mais rápido tendem a atrair inovação, capital e talento. Os que insistirem em enquadrar novas tecnologias apenas como instrumentos de arrecadação correm o risco de ficar à margem.
Se 2024 foi o ano da experimentação e 2025 o da consolidação, 2026 tende a ser o ano da escala. A pergunta que fica não é mais “se” o dinheiro vai mudar, mas quem estará preparado para operar nesse novo sistema — e sob quais regras.
O futuro do dinheiro já começou. Em 2025, ele apenas ficou impossível de ignorar.
*Rocelo Lopes é fundador da SmartPay/Rezolve AI.
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