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Futebol feminino bate recorde de transferências em 2024 e dobra investimentos

Impulsionado por recordes de transações e grandes eventos internacionais, modalidade atinge novos patamares de incentivo e popularidade

Jogadora de futebol em ação: crescimento recorde das transferências internacionais no futebol feminino (Jose Breton / Pics Action/Getty Images)
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 14 de setembro de 2024 às 09h27.

O mercado de transferências do futebol feminino estabeleceu um novo recorde na janela de transferências. Segundo o relatório anual publicado pela Fifa, os gastos em transferências internacionais no verão 2024 alcançaram US$ 6,8 milhões (R$ 38,3 milhões, conforme a cotação do último dia 10).

O valor é mais do que o dobro do número registrado no mesmo período da temporada anterior, quando na ocasião, foram gastos US$ 3 milhões (R$ 17 milhões) e o balanço, fechado no último dia 3, nem considera, por exemplo, a maior transferência do futebol brasileiro e terceira maior do futebol mundial fechada na última quinta, 12, entre o Inter e o América-MEX pela atacante Priscila. Para contar com a brasileira, os mexicanos investiram R$ 2,8 milhões.

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Mesmo sem considerar a transação da brasileira, as cifras já haviam sido impulsionadas devido ao aumento no número de transferências internacionais. Nesta janela, houve até o fechamento do documento, 1.125 movimentações no mercado da bola, ou seja, 272 atletas a mais do que se comparado a temporada anterior mudando seu destino, o que representa um aumento de quase 32%. Com isso, os gastos com taxas de transferências internacionais em janeiro também estabeleceram um novo recorde. O investimento totalizou US$ 2,1 milhões (R$ 11,8 milhões), representando um aumento de mais de 150% em relação à janela de janeiro de 2023, quando foram desembolsados US$ 774,5 mil (R$ 4,3 milhões).

A nível de comparação, nos últimos seis anos houve um aumento no valor das transferências internacionais. Segundo o relatório de 2023, o montante gasto saltou de US$ 561 mil (R$ 3,1 milhões), em 2018, para US$ 6,1 milhões (R$ 34,3 milhões). Em 2024, com a soma das janelas de inverno e de verão, o investimento chegou à marca de US$ 8,9 milhões (R$ 50,1 milhões), representando um crescimento de quase 16 vezes em relação a 2018.

"O crescimento do futebol feminino nos últimos anos é um reflexo claro do aumento de interesse e de investimento”, comenta Renê Salviano, CEO da Heatmap, empresa especializada em marketing esportivo. “As transferências recordes e a maior popularidade das competições são provas de que estamos no caminho certo. Essas mudanças não apenas elevam o nível do jogo, mas também garantem que o futebol feminino se aproxime do status que merece no cenário esportivo global”, completa o especialista.

Avanço e evolução

Nos últimos anos, o futebol feminino tem demonstrado um desenvolvimento contínuo, com clubes e patrocinadores cada vez mais investindo na modalidade. “Desde o início das nossas operações no Brasil, sempre tivemos a convicção de apoiar o futebol feminino, não somente como um esporte, mas como instrumento de transformação social. Perceber esse crescimento expressivo no mercado de transferências revela para nós o aumento do interesse do público e a pujança do futebol feminino”, afirma Marcos Sabiá, CEO do galera.bet, empresa que patrocina o time feminino da Ferroviária. “É por isso que nós nos orgulhamos de termos sido o primeiro patrocinador neste segmento do Campeonato Brasileiro Feminino e hoje, orgulhosamente, patrocinadores da Ferroviária feminina, que é um time que faz um trabalho expressivo e que tem resultados também notáveis na categoria”, acrescentou.

Os eventos internacionais têm desempenhado um papel crucial nesse progresso. A Copa do Mundo Feminina da Fifa 2023 com sede na Austrália e Nova Zelândia, por exemplo, contou com o maior público da história da competição, com 1,97 milhão de pessoas, superando o antigo recorde de 2015, que obteve um público de 1,35 milhão de espectadores.

Além disso, a competição arrecadou mais de US$ 570 milhões (R$3,2 bilhões) em receita para a Fifa - a segunda maior receita de qualquer esporte, atrás apenas da Copa do Mundo masculina - e também contou com 30 patrocinadores, mais que o dobro da última edição disputada na França, em 2019, que somou 14 investidores.

Nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, o esporte foi novamente destaque. Segundo balanço da Globo e da CazéTV, dois grupos de comunicação que detiveram os direitos dos Jogos, o futebol feminino garantiu a maior audiência da Olimpíada exibida pela Globo, com 71,7 milhões de pessoas. Além disso, a modalidade também teve grande relevância no canal de streaming criado por Casimiro Miguel com a Live mode, empresa de mídia e marketing esportivo brasileira. A final do futebol feminino estabeleceu o dia com o maior consumo de audiência simultânea no YouTube durante Paris 2024, ao lado da conquista da medalha de bronze pela seleção feminina de vôlei, com 4,8 milhões de telespectadores.

Camila Estefano, General Manager do Em Busca de Uma Estrela, projeto brasileiro de formação integral, que oferece oportunidades dentro e fora das quatro linhas para meninas que sonham em jogar futebol profissional, celebra o crescimento da audiência: "É gratificante ver a evolução do futebol feminino em todo o mundo, especialmente com o crescimento recente na Inglaterra e na Espanha onde estádios estão lotados e há um forte investimento desde a base. A Copa do Mundo 2023 e os Jogos Olímpicos de Paris foram marcos significativos, atraindo uma audiência global impressionante e destacando o desenvolvimento da modalidade. Tenho certeza de que o futebol feminino continuará a crescer e a conquistar novos espaços de destaque".

Bruno Brum, CMO da End to End, empresa que conecta o torcedor à sua paixão e é um hub de soluções e engajamento para o mercado esportivo, complementa: "Os eventos internacionais desempenham um papel crucial na visibilidade e crescimento do futebol feminino. A Copa do Mundo Feminina da FIFA 2023 e os Jogos Olímpicos de Paris 2024, por exemplo, têm o poder de conquistar milhões de espectadores e gerar um grande engajamento para o esporte. Essas ações não apenas elevam o perfil das jogadoras, mas também atraem investimentos e recursos, contribuindo significativamente para o desenvolvimento da modalidade".

Maiores transações

A forte evolução da modalidade também reflete nas janelas de transferências do ano de 2024 que registraram as cinco maiores transações da história do esporte feminino, enfatizando cada vez mais o investimento que tem sido feito.

A atacante Racheal Kundananji, da Zâmbia, detém o recorde de transferência mais cara da história do futebol feminino. O Bay FC, dos EUA, desembolsou R$ 4,4 milhões para tirá-la do Madrid CFF, da Espanha. Barbra Banda, outra estrela zambiana, é a segunda venda mais cara da modalidade. A atacante deixou o Shanghai Shengli, da China, por R$ 3,8 milhões para o Orlando Pride, dos EUA. Priscila, do Inter, vem na terceira posição, enquanto Mayra Ramírez ocupa o quarto lugar. A colombiana deixou o Levante, da Espanha, por R$ 2,7 milhões, para disputar o Inglês com a equipe do Chelsea. Na quinta posição está a zagueira Tarciane, vendida pelo Corinthians por R$ 2,5 milhões ao Houston Dash-EUA.

Ligas mais poderosas

Entre as ligas que lideraram o mercado de transferências, a NWSL (National Women’s Soccer League), dos Estados Unidos, se destacou. Nesta janela de verão, a liga americana contratou 128 novas jogadoras, o que representa um impressionante aumento de 287,9% em comparação ao ano anterior, quando foram contratadas 33 jogadoras. Em termos de comparação, as ligas espanholas registraram um aumento de 47,4%, com 84 novas jogadoras, enquanto as ligas inglesas tiveram um crescimento de 12,5%, trazendo 63 novas atletas.

“A National Women's Soccer League tem tido um papel importante no crescimento e inovação no futebol feminino desde a sua fundação. A liga não apenas ampliou significativamente sua base de fãs, mas também elevou o padrão de profissionalismo e competitividade, o que se reflete na procura das jogadoras estrangeiras em atuar em solo americano e na formação de atletas locais que refletem no grande desempenho da seleção americana campeã de quatro mundiais e cinco vezes ouro nos Jogos Olímpicos", afirma Fábio Wolff, membro do comitê organizador da Brasil Ladies Cup, torneio de futebol feminino, e especialista em marketing esportivo. "O impressionante aumento de 287,9% nas contratações de novas jogadoras nesta janela de transferências é um reflexo claro do crescente reconhecimento e valorização do futebol feminino nos Estados Unidos”, completou.

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