Na atual temporada, além de Kauã, o Flamengo já havia negociado o meia Matheus França e o volante João Gomes com equipes da Premier League (Buda Mendes/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 28 de agosto de 2023 às 16h35.
Última atualização em 28 de agosto de 2023 às 16h35.
Cria da Gávea e com diversas convocações para as seleções de base, o goleiro Kauã, de 20 anos, acertou sua transferência para o Eintracht Frankfurt, da Alemanha, na última semana, e renderá cerca de R$ 8,4 milhões ao Flamengo. Nos últimos anos, a base tem sido uma importante fonte de receitas para o rubro-negro. Desde 2017, o clube já faturou mais de R$ 1 bilhão com vendas de atletas formados nas categorias de base.
Na atual temporada, além de Kauã, o Flamengo já havia negociado o meia Matheus França e o volante João Gomes com equipes da Premier League. Até o momento, o clube já arrecadou mais de R$ 200 milhões com negociações de atletas da base, valor quase quatro vezes superior à meta de vendas traçada pela diretoria para 2023.
Há seis anos, Vinicius Júnior foi vendido ao Real Madrid, e gerou cerca de R$ 235 milhões (na cotação atual) para o Flamengo. No ano seguinte, Lucas Paquetá foi vendido ao Milan por cerca de R$ 200 milhões. Os dois jogadores representam as maiores vendas da história do clube.
Para Júnior Chávare, dirigente com experiência em captação e formação de jogadores em clubes como São Paulo, Grêmio e Atlético Mineiro, e que hoje é executivo de futebol da Ferroviária, o departamento de base é um dos pilares de um clube de futebol, e por isso requer atenção e investimentos por parte dos dirigentes das equipes.
“As categorias de base, no cenário atual do futebol, representam um setor essencial para os clubes. Quando bem administradas, geram tanto retornos esportivos, quanto ganhos financeiros. Por isso, é fundamental que as equipes valorizem esse departamento e que realizem os investimentos necessários, algo indispensável quando o futebol é pensado a longo prazo. Clubes como o Flamengo, que entendem essa necessidade, tendem a sair na frente dos demais”, analisa Chávare.
Segundo Thiago Freitas, sócio da Roc Nation Sports Brazil, empresa que agencia as carreiras de Vinícius Júnior, Paquetá, Endrick e Gabriel Martinelli, a saída de jovens atletas brasileiros para o exterior é algo cada vez mais frequente, e se justifica por diferentes fatores.
“O Brasil é um notório exportador de talento. Isso se deve, primeiro, porque somos um país de grande extensão e com uma grande população. Depois, porque, ao longo dos anos, estamos empobrecendo em relação às grandes economias do mundo. Por consequência, os clubes daqui tornam-se mais pobres que os dos principais países do exterior, e acabam por aceitar as negociações envolvendo seus jovens talentos. Por fim, em um esporte no qual imperam a disciplina e o jogo posicional, vale cada vez o atleta que gera imprevistos e 'destrói esses castelos', encontrando solução para um momento de pressão. Nesse ponto, seguimos insuperáveis”, analisa Thiago.
De acordo com Sandro Orlandelli, diretor-técnico com passagens por Arsenal, Manchester United, Internacional, Red Bull Bragantino e seleção brasileira, a matéria-prima brasileira segue sendo uma das melhores do mundo, o que contribui para o país figurar como um dos principais centros de formação de atletas.
“Participei ativamente de diversos processos de recrutamento de jovens jogadores. Analisei atletas em 97 países diferentes em um período de mais de 20 anos, e posso afirmar que nenhum jogador, em nenhum país do mundo, oferece o que temos aqui. Isso está ligado à nossa essência como país, por isso sempre iremos revelar jogadores com muita qualidade, que despertam esse interesse externo”, afirma Sandro.