Sonia Guajajara: sem os povos originários em locais de decisão, não se combate a crise climática
Liderança indígena e deputada federal eleita em 2022 está na COP27 para reforçar a necessidade de políticas de proteção efetivas para os biomas brasileiros e as pessoas que vivem nas florestas
Marina Filippe
Publicado em 10 de novembro de 2022 às 15h14.
De Sharm el-Sheikh
Sem os povos originários nos espaços de poder, o avanço das mudanças climáticas não pode ser contido, é o que reforça a deputada eleita em 2022, Sonia Guajajara na COP27 , a Conferência das Partes, que ocorre até 18 de novembro no Egito.
“O Acordo de Paris e a declaração de Nova York sobre Florestas já escreveu a importância do conhecimento tradicional como aliado do conhecimento científico, e a nossa presença aqui é para dar a visibilidade de que não podemos estar fora das negociações e das tomadas de decisões”, disse em entrevista à EXAME.
Na tarde desta quinta-feira, 10, Sonia Guajajara participou de um painel sobre a proteção dos direitos humanos no contexto da crise climática, no Brazil Climate Action Hub, espaço organizado pela sociedade civil na COP27.
“É a hora de termos políticas nacionais para garantir os acordos feitos no âmbito internacional, em espaços como a COP. Não há como elaborar leis desconectadas do movimento social”, afirmou.
A bancada indígena foi uma estratégia necessária para ter representações nos espaços de tomada de decisão. Agora, a partir de seu mandato e o retorno de Lula à presidência, há a expectativa de medidas para conter o desmatamento. Guajajara é cotada para assumir uma nova pasta a ser criada no próximo governo, a dos Povos Originários.
“Estamos aqui para dizer ao novo governo Lula que uma das medidas prioritárias para conter o desmatamento é garantir a legislação ambiental forte com órgãos de controle para conter os efeitos das mudanças climáticas. Além da promoção da demarcação de terras indígenas e quilombolas que garantam a sobrevivência dos povos e das florestas”.
Ao criticar o aumento do desmatamento na Amazônia e afirmar a esperança de que o governo Lula revogue, segundo ela, cerca de 400 decretos que desfavorecem a preservação, a liderança indígena também abordou a ilegalidade.
“Há uma necessidade de se fazer uma articulação entre os órgãos governamentais e a sociedade civil para garantir uma política efetiva de proteção e o respeito ao modo de vida das pessoas, além de uma segurança econômica para aqueles que vivem de forma ilegal na Amazônia e em outros biomas".
Foi comentado também o papel das empresas. "Vamos fazer com que as empresas consigam assumir a responsabilidade agilize iniciativas como o rastreamento da cadeia dos produtos", afirma Sonia Guajajara.
O painel contou ainda com a presença de César Rodríguez-Garavito, fundador da Climate Litigation Accelerator, Sophie Marjanac, da Climate Accountability Initiative e Luis Roberto Barroso, ministro do STF. “Ainda existe ignorância e negacionismo sobre o problema das mudanças climáticas, e a política tem circunstâncias de curto prazo, pouco olhando para as consequências daqui 30 anos, mas é preciso criar alternativas para não perdermos a Amazônia.
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