Refugiados no Brasil: estudo revela empregabilidade e ação de empresas
O Programa de Apoio para a Recolocação dos Refugiados (PARR), idealizado pela empresa EMDOC, com apoio institucional da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), divulga os dados de contratações e acolhimento de refugiados, além da participação de 300 empresas nos últimos 10 anos
Marina Filippe
Publicado em 20 de outubro de 2021 às 07h00.
Última atualização em 20 de outubro de 2021 às 12h42.
Para apoiar a contração de refugiados no Brasil, o Programa de Apoio para a Recolocação dos Refugiados (PARR), idealizado pela empresa EMDOC, com apoio institucional da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), realiza desde 2011 um trabalho de acolhimento e treinamento das pessoas refugiadas, assim como a parceria com empresas que as recebem para entrevistas de emprego.
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De lá para cá, o mercado está mais flexível para a contratação, mas ainda há muito a ser feito, como mostram os dados do relatório que apresenta os resultados gerais do projeto entre 2011 e 2020, divulgado com exclusividade pela EXAME.
"Nos últimos cinco anos houve um amadurecimento das empresas em relação à contratação de refugiados. Isto acontece por meio de projetos de inclusão e diversidade, a questão humaintária de paises como a Venezuela, e o maior conhecimento sobre as vatangans e desafios na empregabilidade", diz João Marques, criador do PARR.
Atualmente, o perfil médio de profissionais cadastrados no banco de dados do PARR está na faixa etária entre 25 e 45 anos, com Ensino Médio completo e é predominantemente masculino. No entanto, a incidência de profissionais que possuem Ensino Superior completo cresce.
Há também o aumento do público feminino e de outras duas faixas etárias: profissionais de 14 até 23 anos, que podem ser considerados para oportunidades de Jovem Aprendiz, e profissionais acima de 45 anos. Além disso, percebe-se um crescimento acelerado de refugiados da Venezuela desde 2018.
Os dados do relatório também revelam o total de profisionais cadastrados, e os de fato contratados. Contudo, é importante entender que a mesma pessoa pode ser encaminhada para mais de uma entrevista.
Se efetivada, ela passa a ser acompanhada por 90 dias para entender os processos do trabalho e também diferenças culturais.
"Alguns homens não estão acostumados a lidar, por exemplo, com mulheres na chefia. Conversamos com eles e damos suporte para o entendimento das diferenças", diz Marques.
Além disto, as empresas também podem redirecionar os candidatos para outras vagas, em outras companhias, saindo assim do radar da PAAR. "A contratação indireta é muito maior do que os números reportados abaixo". Veja os dados:
- 3.418 profissionais cadastrados
- 72 nacionalidades atendidas, das quais as 10 mais recorrentes são: Venezuela (25%), Angola (18%), República
- Democrática do Congo (17%), Nigéria (9%), Síria (5%), Guiné-Bissau, Guiné-Conacri, Cuba, Colômbia e Camarões. Ou seja, mais de 70% do banco de dados do PARR está concentrado em 5 nacionalidades.
- 1.396 pessoas impactadas diretamente pelo PARR por meio encaminhamento para entrevistas de trabalho, contratações e participação em projetos de formação profissional.
- 1.285 entrevistas realizadas em diversos segmentos empresariais
- 440 contratações efetivadas no mercado formal (34% após entrevista)
- 519 encaminhamentos para projetos de formação profissional. Dentre estes, destaca-se a participação do PARR no
projeto Empoderando Refugiadas. - 355 empresas de diferentes portes e segmentos de atuação cadastradas no PARR. A maior parte destas empresas atua
no setor de serviços a outras empresas (B2B) ou ao consumidor final (B2C). Há também um número considerável de
empresas do setor de produção fabril.
Resultados do projeto: ano 2020
- 270 novos profissionais cadastrados, dos quais 197 (73%) de origem venezuelana
- 276 entrevistas realizadas
- 69 contratações efetivadas
- Principais áreas de contratação: administrativa, atendimento, operacional, serviços gerais e jovem aprendiz.
- 74 novas empresas cadastradas.
Ainda segundo Marques, a pandemia da covid-19 afetou as contratações no início, quando não se sabia o que esperar no futuro do trabalho, mas em seguida retomou o ritmo anterior. "Os números de 2020 são próximos aos de 2019, especialmente por conta da evolução no segundo semestre".
Capacitação
Dentro detse trabalho há o projeto Empoderando Refugiadas, idealizado pelo ACNUR, pela Rede Brasil do Pacto Global e pela ONU Mulheres, com apoio do setor privado. A iniciativa promove a formação profissional e a promoção de oportunidades de acesso ao mercado de trabalho para mulheres refugiadas.
Inicialmente implementado em São Paulo capital em 2015, o Empoderando Refugiadas, atualmente, está também Boa Vista, em Roraima. Refugiadas de diversas nacionalidades participam de encontros de formação profissionalizante que as preparam para entrevistas de trabalho com empresas parceiras interessadas em contratar.
Desde 2015, aproximadamente 250 mulheres participaram da iniciativa, que já mobilizou mais de 300 empresas e organizações pela causa das pessoas refugiadas.
O projeto incluiu participantes de diversas nacionalidades, como Venezuela, RepúblicaDemocrática do Congo e Síria, assim como múltiplos perfis, como a população LGBTIQ+ e pessoas com deficiência.
Em 2020, o projeto contou com duas turmas inéditas dedicadas a refugiadas com deficiência, doenças crônicas e/ou com necessidades especiais.
Além disso, o PARR apoiou a elaboração de perfil profissional das participantes das edições de Boa Vista e de seus familiares. Este perfil profissional, sistematizado em formato de minibiografia, é disponibilizado para as empresas padronizado as informações das participantes antes das entrevistas, favorecendo assim a busca do perfil ideal para a vaga adequada.
Boas práticas
As empresas que já contratam refugiados têm percebido os benefícios. Na rede de shoppings centers Iguatemi, por exemplo, são 28 contratados desde 2017. Todos permancem na empresa desde então. "Há um sentimento de gratidão e pertencimento em comum aos refugiados. Eles não costumam ter pretenção de trocar rapidamente de emprego", diz Marques.
Na varejista Renner há desde 2015 um projeto que, por exemplo, forma mulheres em cursos de costura e outras habilidades necessárias na empresa. A partir disto há um mapeamento para vagas em todo o país.
"Os executivos estão entendendo que os profissionais refugiados não estão pegando o lugar dos brasileiros, que eles estão precisando do trabalho para se reerguerem e, muitas vezes, tem capacitações além das pedidas nos processos seletivos. Tudo isto, dentro da legalidade e com apoio de organizações que acompanham o processo", afirma Marques.