Marina Silva alerta sobre desconhecimento de riscos de mudanças climáticas
Marina disse que o país adia os investimentos necessários à transição para um modelo econômico de desenvolvimento mais sustentável
Agência de notícias
Publicado em 30 de maio de 2023 às 15h32.
Última atualização em 30 de maio de 2023 às 15h54.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva , afirmou, nesta terça-feira, 30, que há, no Brasil, quem ainda não tenha compreendido o real alcance das eventuais consequências das mudanças climáticas em curso.
“Existem pessoas que talvez ainda não tenham a necessária clareza do que está em jogo no Brasil”, disse Marina. “Estamos fazendo um debate estratégico para o mundo e para o país. Teremos de ter muita capacidade de mediação, muita resiliência e persistência. Do contrário, ficaremos trancados do lado de fora. Não adianta imaginar que [ países ] vão fechar as portas para os produtos de carbono intensivo [ deixando de importá-los ], mas que vamos poder escorregar para outro lado [ negociando com outras nações ]. Este espaço vai se fechar [ globalmente ] e já deveríamos estar fazendo o dever de casa”, acrescentou a ministra.
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Mudanças na estrutura atual do governo
A exemplo de outras pastas da área socioambiental, como os ministérios dos Povos Indígenas e do Desenvolvimento Agrário, o Ministério de Meio Ambiente e Mudança do Clima pode perder algumas de suas principais atribuições caso sejam mantidas as mudanças na estrutura do atual governo federal que a comissão mista do Congresso Nacional que analisa a medida provisória (MP) 1.154/23 aprovou na última quarta-feira, 24.
Instituída para analisar a MP 1.154/23 com que o Poder Executivo definiu a organização administrativa federal, criando novos ministérios e redefinindo competências de outros, a comissão mista aprovou por 15 votos a três a proposta do relator, deputado Isnaldo Bulhões Jr. (MDB-AL). O texto aprovado altera a organização definida pelo governo Lula, esvaziando algumas pastas de suas competências. Com isso, o Meio Ambiente pode, por exemplo, deixar de responder pelo Cadastro Ambiental Rural (CAR), pelos sistemas de saneamento básico, resíduos sólidos e recursos hídricos e até mesmo pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).
O texto ainda vai ser votado nos plenários da Câmara e do Senado, que têm até esta quinta-feira, 1º, para concluir a análise, sob risco de a MP perder a validade, resultando na automática retomada da estrutura deixada pelo governo de Jair Bolsonaro.
“O presidente Lula deu uma mensagem de que vamos trabalhar até o último momento para preservar as atribuições do MMA e do Ministério dos Povos Indígenas. Disse que vamos continuar com nosso propósito, com nosso programa [ de governo ], e que estas políticas estão no coração do governo”, afirmou Marina, ao participar, por videochamada, do seminário "Retomada Econômica Verde – Aprendizados para a Construção da Agenda Brasileira", realizado pelo Insper Instituto de Ensino e Pesquisa, em parceria com o Instituto Democracia e Sustentabilidade, com a plataforma Por Quê? – Economês em Bom Português e com o Laboratório Arq.Futuro.
Sísifo
Modelo econômico de desenvolvimento mais sustentável
Comparando a luta ambientalista no Brasil à figura mitológica de Sísifo – o mortal condenado pelos deuses gregos a, por toda a eternidade, empurrar uma pedra até o topo de uma montanha apenas para, em seguida, vê-la rolar encosta abaixo –, Marina disse que o país adia os investimentos necessários à transição para um modelo econômico de desenvolvimento mais sustentável.
“Há um esforço que o mundo todo está fazendo. Alguns estão conseguindo mais, outros, menos. No caso do Brasil, é aquele mito de Sísifo. Você rola pedra até o topo da montanha e, depois, ela desce. No outro dia, a operação se repete. Isso não pode continuar acontecendo em um país que reúne as melhores condições para fazer esta transição [ energética ], pelas vantagens comparativas que tem”, acrescentou a ministra. "Ainda bem que existem empresas de todos os setores; acadêmicos; movimentos sociais; governos e agentes públicos alinhados com esta agenda.”
Após garantir que o fortalecimento do Sistema Nacional de Meio Ambiente – ou seja, de toda estrutura legal e burocrática criada para proteger, melhorar e recuperar a qualidade ambiental no Brasil – é uma diretriz do governo Lula, Marina destacou a importância da participação social como forma de garantir que o Brasil migre para uma economia “verde, de baixo carbono e sustentável”.
“É fundamental agora escolhermos [ sobre ] o que queremos divergir e [ a respeito do ] que queremos convergir”, destacou a ministra, dizendo acreditar que os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e alguns dos principais líderes empresariais do país não estão entre os que ainda não se convenceram dos riscos que o atual modelo exploratório dos recursos naturais representa para toda a humanidade e dos potenciais ganhos econômicos e sociais de uma mudança de paradigmas.
“Os esforços para enxergarmos o problema da mudança climática e operarmos para mitigá-lo e [ para nos ] adaptarmos [ às novas condições ] são fundamentais para que possamos [ enxergar a ] oportunidade, gerando [ novos ] empregos, renda e vida digna para as pessoas”, disse Marina, sustentando que os investimentos necessários à transição energética pode gerar um “novo ciclo de prosperidade” global.