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Joe Biden quer frota totalmente elétrica com 645 mil veículos. O que isso significa?

Em pronunciamento na Casa Branca, presidente incentivou que órgãos federais comprem apenas carros neutros em carbono

Joe Biden (Joshua Lott/The Washington Post/Getty Images)

Joe Biden (Joshua Lott/The Washington Post/Getty Images)

Com menos de um mês à frente da maior economia do mundo, o presidente democrata Joe Biden já demonstrou vontade de associar sua gestão com a causa ambiental.

Em linha com o discurso de campanha, de tornar o combate ao aquecimento global uma prioridade dos Estados Unidos, Biden tomou já no primeiro dia de mandato uma série de decisões que agradaram ambientalistas ao redor do mundo, como colocar de novo os Estados Unidos no Acordo de Paris, tratado de 2015 para redução das emissões de carbono.

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O próximo passo tenta aproximar o país da eletrificação na mobilidade. Em coletiva de imprensa na semana passada, Biden afirmou que deseja converter toda a frota de 645.000 veículos do governo para modelos elétricos e incentivou as agências federais a comprarem apenas veículos com emissão zero de agora em diante.

Hoje, o total de movidos a eletricidade da frota americana é de apenas 3.215 unidades. Os outros 642.000, movidos à combustão, consomem perto de 1,4 bilhão de litros de combustível para rodar em média 7,2 bilhões de quilômetros por ano, segundo dados oficiais do governo americano.

Ao que tudo indica, a guinada elétrica veio para ficar na máquina pública americana. Na mesma decisão, Biden recomendou às agências federais – órgãos públicos em teoria com algum grau de independência das ordens vindas da Casa Branca –, a comprarem carros elétricos "Made in USA" a partir de agora. É uma tentativa de consolidar os Estados Unidos na corrida por esse tipo de automóvel, hoje dominada por montadoras da Europa e da China.

“O governo federal também possui uma enorme frota de veículos, que vamos substituir por veículos elétricos limpos feitos aqui na América, por trabalhadores americanos”, disse Biden.

A frota de 645.000 veículos do governo americano ainda é uma pequena fração dos mais de 200 milhões de veículos de passageiros no país.

Na transição para os carros elétricos, um desafio em especial será mudar a frota dos Correios, uma das poucas estatais do governo americano. Atualmente, os carteiros usam 228.000 veículos – praticamente um terço de todos os carros da frota federal.

Se não for muito bem planejada, a substituição dessa frota pode causar atrasos nas entregas de serviços essenciais como cédulas eleitorais para o voto à distância, uma função tradicional dos Correios por lá.

Apesar do tom otimista, Biden reconheceu o grande desafio à sua frente e chamou o esforço de “maior mobilização de investimento público em infraestrutura de compras e Pesquisa & Desenvolvimento desde a Segunda Guerra Mundial”.

A indústria automotiva terá de acelerar a produção elétrica para atender à demanda que surgirá a partir da agenda sustentável de Biden. A Tesla, maior fabricante americana de carros elétricos dos EUA, por exemplo, já notificou o mercado de que a ambição de produzir uma quantidade estratosférica de 20 milhões de veículos por ano não deve acontecer antes de 2025.

Do ponto de vista do consumidor, é possível que o esforço do governo também amplie a busca por veículos elétricos de passageiros. Com custos de combustível mais baratos e produção em larga escala, veículos elétricos podem custar quase o mesmo que carros movidos a gasolina em apenas três ou quatro anos, de acordo com a BloombergNEF.

Guinada ambiental

Segundo analistas, Biden deve promover uma guinada completa na política ambiental dos Estados Unidos, que ficará mais parecido com a Europa de hoje do que com o país nos tempos da Guerra Fria, passado vangloriado por Donald Trump em seu saudosismo populista.

O Green New Deal, modelo de transição para a economia de baixo carbono promovido por uma ala forte do Partido Democrata, cujo maior expoente é a jovem Alexandria Ocasio-Cortez, tem grandes chances de avançar.

“As mudanças serão percebidas nos 100 primeiros dias”, afirma Stefano De Clara, diretor da Associação Mundial de Mercados de Emissões (IETA), entidade criada para estabelecer diretrizes de comercialização de carbono, em entrevista à EXAME. “Em vários aspectos, será uma postura muito mais alinhada com a União Europeia.”

O velho continente é o bloco que vem puxando a agenda da nova economia. Lançado durante a pandemia, o programa Green Deal prevê mais de 600 bilhões de euros em investimentos na economia de baixo carbono. A Europa também pressiona para regulamentar o artigo 6 do Acordo de Paris, que trata da criação de um mercado de carbono global.

A transição energética, aliada com outras mudanças relacionadas, como a eletrificação dos transportes e a economia do compartilhamento, devem receber boa parte dos investimentos ESG previstos na próxima década.

Em 2020, as companhias de energia renovável registraram um desempenho invejável, e a tendência é que o setor tenha captações ainda maiores nos próximos anos.

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