Pesquisa revela percepção de líderes de empresas sobre contratação de pessoas com 50 anos ou mais (Stephen Zeigler/Getty Images)
Marina Filippe
Publicado em 23 de agosto de 2022 às 08h00.
Enquanto a população do Brasil envelhece e as regras para a aposentadoria ficam cada vez mais complexas, o mercado de trabalho ainda tem preconceitos em relação aos trabalhadores com 50 anos ou mais, é o que mostra uma pesquisa realizada pela Maturi, empresa especializada no mercado 50+, em parceria com a consultoria EY Brasil, com a participação de 191 funcionários de empresas em 13 setores.
Segundo relatório do Caged, mais de 700 mil profissionais com mais de 50 anos perderam seus empregos durante a pandemia. Por outro lado, cerca de 60% das empresas afirmam no levantamento que têm dificuldade em contratar pessoas com mais de 50 anos, e 91% acreditam que os profissionais nessa faixa etária têm dificuldade em ser contratados.
Outra informação identificada no levantamento é que as organizações são etaristas, segundo 78% dos participantes. O discurso do mercado sobre a importância do tema não condiz com a prática, uma vez que faltam ações concretas das organizações.
Um exemplo: 80% dos respondentes de empresas não possuem políticas específicas e intencionais de combate à discriminação etária em seus processos seletivos. Além disso, não há uma visão clara sobre como deixar de ser etarista, uma vez que a intenção de ações a serem implementadas são mais generalistas e já conhecidas como mentoria e gestão do conhecimento, e não intencionais como revisão de políticas e inclusão de 50+ em processos seletivos.
“Algumas empresas deram início à implementação de ações que possam acelerar a disseminação de uma cultura inclusiva em toda a organização. Por outro lado, há muito trabalho a ser feito no Brasil em relação a essa pauta, principalmente para que as lideranças a enxerguem como oportunidade estratégica em um país que envelhece a passos acelerados, deixando de ser a principal barreira de entrada dessa população nas organizações", diz Raquel Thomazi, gerente de People Advisory Services da EY Brasil. Segundo ela, é curioso que muitas vezes o líder que têm preconceito com funcionários de 50 anos ou mais também está nessa faixa etária.
De todo modo, o envelhecimento já é percebido nas empresas. Três em cada cinco pesquisados afirmaram acreditar que o envelhecimento da população terá impactos para a sua empresa, 41% já sentem esses impactos e 88% concordam total ou parcialmente com a afirmação de que as empresas que se prepararem para o envelhecimento estarão em vantagem. Portanto, essa não é mais uma questão a ser considerada apenas em cenários futuros.
"A população 50+ é a que mais cresce no Brasil e exige que governos e empresas adotem uma perspectiva mais inclusiva e estratégica. Nas organizações, quem abrir oportunidades de atração e retenção continuará a contar com uma mão de obra produtiva, engajada e capaz de contribuir para a inovação nos negócios. Mas isso não acontecerá da noite para o dia, é preciso muito trabalho, com discussão e novas práticas para conscientização do mercado”, afirma Mórris Litvak, fundador da Maturi.
No estudo, 33% dos entrevistados não praticam nenhuma ação voltada ao tema e, entre as que já praticam algo, as ações costumam ser ainda pontuais e incipientes. Palestras de conscientização e estruturação de grupos de afinidade estão entre as medidas mais implementadas.
"A tendência é que a questão do envelhecimento dos profissionais se torne ainda mais relevante nos próximos três anos, a partir de ações estimuladas pelo RH. O estudo mostra que 57% das organizações pretendem executar ações voltadas ao envelhecimento, como investir no recrutamento de profissionais maduros e na preparação da cultura organizacional, até 2025. Contudo, o tema é urgente e já deve ser trabalhado agora", afirma Morris.
Boas práticas
Na última semana em um evento híbrido com plateia em São Paulo e também online, empresas de diferentes setores se reuniram durante quatro dias para contar como tem olhado para os funcionários e consumidores com 50 anos ou mais no Maturi Fest 2022.
A Johnson & Johnson, por exemplo, retirou do currículo filtros como idade e raça. "Assim não permitimos viéses na escolha dos candidatos. Nas etapas seguintes os recrutadores também estão preparados para não ter preconceito etário e outros", disse Ivanilda Nogueira.
Já Alessandra Peixoto Alves, gerente de atração de talentos da Sodexo On-site Brasil contou que a companhia tem 12.000 funcionários com 50 anos ou mais, isto é 25% da organização. Para ela, a maturidade dos profissionais auxilia na inteligência emocional de toda a equipe. "Muitos desses profissionais trabalham, por exemplo, em cozinha, que é um ambiente de muita pressão. Mas, por conta das experiências anteriores, eles têm calma e tranquilidade para chegar ao melhor resultado e influenciar as equipes positivamente".
No evento foi abordada também a importância da autoestima do profissional e da necessidade de sempre estar atualizado. Bruna Infurna, do LinkedIn, afirmou que em muitas das vagas da plataforma não há cadastros de profissionais mais velhos. "Entendemos que nós e as companhias precisamos deixar a vaga mais atraente para o profissional, assim como ele confiar de que aquele espaço é para ele".
Além disso, própria consultoria EY, por exemplo, capacita pessoas com deficiência e em vulnerabilização social para o mercado de trabalho, leva sempre em consideração o tema etarismo como um dos pilares, a fim de derrubar as barreiras e discriminação que existem contra pessoas com idade avançada. Com foco em diversidade, equidade e inclusão, todos os programas contam com oportunidades para quem tem acima de 50 anos, como é o caso do EY Empodera, programa de capacitação gratuita de pessoas de baixa renda que já impactou mais de 400 pessoas.