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O IBGC propõe a criação de programas de diversidade nas empresas, com alocação de recursos financeiros (Jacob Ammentorp Lund/Thinkstock)
Rodrigo Caetano
Publicado em 28 de novembro de 2020 às 11h54.
O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) lançou, na sexta-feira 27, uma agenda positiva de governança corporativa. A iniciativa marca os 25 anos da instituição, que é a principal entidade de fomento às boas práticas empresariais do país. A agenda é composta de 6 pilares e 15 medidas, que foram definidas em conjunto com 30 organizações, entre elas a B3, a Rede Brasil do Pacto Global da ONU, o Instituto Ethos e a Associação Brasileira de Startups.
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A agenda positiva é, em parte, uma celebração do aniversário do IBGC, que completa um quarto de século de existência. Mas é, também, um movimento de atualização do instituto, em linha com as mudanças globais no capitalismo, que foram aceleradas pela pandemia. “O mundo está mudando. Há uma maior profissionalização dos conselhos e uma demanda da sociedade por integridade”, afirma Henrique Luz, presidente do conselho de administração da entidade.
Essas mudanças são sinalizadas por iniciativas como a carta do The Business Roundtable, organização que reúne os CEOs das maiores empresas americanas, declarando o rompimento com a ideia de que o lucro é o propósito das empresas. O documento marca o surgimento formal do chamado capitalismo de stakeholder, cuja premissa é de que as empresas existem para gerar valor a todos os interessados (stakeholders), e não apenas aos acionistas.
Luz também citas as cartas de Larry Fink, CEO da BlackRock, gestora que tem 8 trilhões de dólares em ativos na carteira, em que ele também defende o capitalismo de stakeholder.
Diversidade e inclusão
Uma das principais pautas da agenda positiva é aumentar a diversidade nos conselhos de administração. Para Luz, a fotografia atual é péssima nesse sentido, com as mulheres representando apenas 10% dos conselheiros. “Mas, eu sempre prefiro olhar o copo meio cheio. E o filme mostra que, nos últimos anos, esse número aumentou quase 50%”, ressalta.
Para Valéria Café, diretora de vocalização e influência do IBGC, há um caminho longo a percorrer nesta frente. “Houve uma melhora, mas ainda é muito longe do ideal”, diz Café. “E precisamos falar da questão do negro e da mulher negra, em especial, que também precisam ser incluídos.”
Entre as medidas propostas pelo instituto em sua agenda positiva, está a construção de “programas de diversidade e inclusão, com alocação de recursos financeiros e pessoas dedicadas a colocar em prática um plano com ações intencionais para ampliar a diversidade e fomentar a cultura inclusiva na organização, bem como no conselho de administração.”
Caso Carrefour
O tema da governança corporativa ganhou evidência nas últimas semanas por conta de uma tragédia ocorrida em uma loja da rede Carrefour, em Porto Alegre. João Alberto Silveira Freitas, negro, foi espancado até a morte por seguranças brancos contratados pela empresa.
Apesar da forte repercussão do caso na sociedade, acionistas e investidores demoraram a penalizar a companhia. As ações do Carrefour na B3 chegaram a cair 2% no início do pregão no dia do trágico evento, mas, se recuperaram e, às 13h, já registraram leve alta, que se manteve até o fim do pregão.
O caso levantou dúvidas sobre a aderência aos princípios ESG (ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês) no país. “A bizarrice do ocorrido, e a pouca repercussão do tema no âmbito do mercado financeiro, são pauladas na cara”, Fábio Alperowitch, fundador da gestora Fama Investimentos, um dos pioneiros no Brasil a adotar critérios ESG para definir a carteira de sua gestora. “ESG, no Brasil? Conta outra. Está presente nos materiais de apresentação e para por aí.”