CEO do PayPal: “Como falar de democracia para os excluídos do sistema?”
Em painel no Fórum Econômico Mundial, Dan Schulman diz que a pandemia revelou problemas antigos, que estavam escondidos e são de responsabilidade das empresas
Rodrigo Caetano
Publicado em 25 de janeiro de 2021 às 15h51.
O nacionalismo que tomou de assalto a política de algumas das maiores economias do mundo, incluindo o Brasil e os Estados Unidos, levantou dúvidas sobre a solidez da democracia . O episódio condenável de invasão ao Capitólio proporcionado por apoiadores do ex-presidente americano Donald Trump no dia da posse de seu sucessor, Joe Biden, acendeu de vez o sinal amarelo nas instituições democráticas. A questão é que, para o CEO do PayPal, Dan Schulman, talvez levantar a bandeira da defesa da democracia não faça muito sentido, diante de problemas maiores da sociedade.
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“Mais de 7 bilhões de pessoas no mundo estão fora do sistema financeiro. Nos Estados Unidos, dois terços dos adultos têm dificuldade em pagar as contas”, afirmou Schulman, ferrenho defensor do capitalismo de stakeholder. “Como esperar que as pessoas defendam a democracia se não acreditam que o sistema funciona para elas?” Esse dilema entre viver a liberdade democrática, porém não perceber os benefícios dela, é o que, na visão de Schulman, tem gerado tanta instabilidade política.
O executivo participou de um painel na versão online do Fórum Econômico Mundial, nesta segunda-feira, que também contou com as presenças de Mariana Mazzucato, economista da Universidade College London, na Inglaterra; Klaus Schwab, fundador e chairman do Fórum; Alexander De Croo, primeiro ministro da Bélgica; e da cantora e compositora beninense Angelique Kidjo. A moderação foi editor-chefe da revista Time, Edward Felsenthal.
Schulman chamou a responsabilidade para as empresas. “Precisamos trabalhar junto com governos e a comunidade”, conclamou. Ele também chamou a ideia de que lucro e responsabilidade social não podem caminhar juntos de “ridícula”. “Essas duas coisas têm de andar juntos.”
Uma pesquisa interna feita pelo PayPal, citada pelo CEO, apontou que metade dos funcionários da companhia tem dificuldades financeiras no final do mês, apesar de receberem na média ou acima do mercado. O mesmo levantamento mostrou que, após pagarem todas as despesas básicas e impostos, essas pessoas ficavam com apenas 4% dos rendimentos. “O mínimo que uma pessoa precisa para ser capaz de poupar e sonhar com uma vida melhor para seus filhos é de 20%”, disse Schulman.
Trabalhando junto com acadêmicos e governos, a companhia adotou medidas para melhorar a renda líquida dos funcionários, como aumento de salários e contribuições menores para os planos de saúde. No ano passado, o porcentual aumentou para 16%. “Esperamos chegar a 20% este ano”, disse o CEO.
Outro problema citado por ele diz respeito ao crédito. Para Schulman, os métodos de avaliação de riscos do sistema financeiro são discriminatórios. “Na pandemia, empreendimentos comandados por negros tiveram um índice de quebra duas vezes maior do que a média geral”, afirmou. “Não há como negar que o sistema é enviesado.”
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