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Fátima Lima, diretora de sustentabilidade da Mapfre: "Não estamos diante de uma agenda setorial, mas de uma transformação econômica profunda" (MAPFRE/Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 20 de dezembro de 2025 às 14h00.
Por Fátima Lima, diretora de sustentabilidade da Mapfre*
A COP30, realizada em Belém, deixou a sensação dupla de urgência e, ao mesmo tempo, de oportunidade. Embora as negociações diplomáticas entre os países tenham avançado em um ritmo mais cauteloso do que muitos esperavam, a presença do setor privado ajudou a dar consistência às discussões.
Empresas, investidores e especialistas levaram estudos, experiências e soluções tecnológicas que contribuíram para tornar o debate mais concreto e conectado às realidades da transição climática.
Saí de Belém com a impressão nítida de que estamos vivendo uma mudança de chave. Houve uma maior participação das empresas, mais trocas de experiências e compromissos assumidos publicamente. Tanto que até rendeu elogios públicos do presidente da COP30, André Corrêa do Lago, que se disse positivamente surpreso com o engajamento do setor privado.
Também ficou claro que esse empenho não se mede pelo número de painéis e sim pela capacidade de transformar essa participação em decisões concretas e que mexem na forma como as empresas realmente funcionam.
Do lado das seguradoras, senti um avanço importante. Pela primeira vez, a discussão deixou de girar somente em torno de “produtos verdes” e passou a tratar da gestão de riscos. Nosso setor não tem como fugir disso. Sinistros climáticos em alta, áreas inteiras se tornando mais vulneráveis, infraestrutura pressionada. Isso não é tendência futura, já está no presente das seguradoras, dos clientes e da economia.
A boa notícia é que começamos a assumir o papel que nos cabe. Seguro é, antes de tudo, um mecanismo de gestão e proteção do futuro. Isso significa que podemos (e devemos) incentivar comportamentos mais sustentáveis, apoiar adaptação, fomentar prevenção e ajudar setores inteiros a fazer a transição com menos perdas. Essa é uma responsabilidade que não podemos delegar.
Ao mesmo tempo, não podemos romantizar o que vimos em Belém. Parte do setor privado ainda opera na lógica das grandes declarações. É compreensível, mas incompatível com a velocidade das mudanças climáticas. Se quisermos contribuir de verdade, precisamos colocar a transição no centro das decisões, no orçamento, nos indicadores, nas conversas de conselho, na estratégia comercial. Não como um capítulo à parte, mas como um filtro pelo qual todo o resto importa.
O que mais me marcou na COP30, porém, não foram os anúncios. Foi perceber que a agenda climática deixou de ser uma disputa entre pressões externas e preferências internas. Ela se tornou um elemento estrutural da competitividade. Quem se antecipar terá mais acesso a capital, um custo menor de risco, mais resiliência e relações mais estáveis com seus clientes e comunidades. Quem postergar e demorar, descobrirá, de forma menos agradável, que clima também corrige o mercado.
O setor privado brasileiro tem capacidade, escala e criatividade para ser protagonista dessa transição. O setor de seguros, por sua vez, tem o dever de orientar os caminhos de menor risco para empresas, pessoas e territórios. A COP30 deixou isso evidente. Agora, a questão central é o que faremos nos próximos 12 meses, não nos próximos 25 anos.
A mensagem que trago de Belém é que não estamos diante de uma agenda setorial, mas de uma transformação econômica profunda. Quem trabalha com risco sabe que adiar a decisão quase sempre sai mais caro do que encará-la com clareza. A COP30 passou e o trabalho sério começa agora, com a adaptação e, principalmente, a implementação.
*Fátima Lima, formada e pós-graduada em marketing pela FAAP e em gestão empresarial pela Universidade de Navarra (Espanha), é diretora de Sustentabilidade da seguradora MAPFRE e presidente da comissão ASG (Ambiental, Social e Governança) da Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg).