ESG

1/3 do plástico produzido no Brasil pode chegar aos oceanos, mostra estudo

Estudo encomendado pelo Blue Keepers, projeto ligado à Plataforma de Ação pela Água e Oceano do Pacto Global da ONU no Brasil, foi apresentado na Conferência dos Oceanos, em Lisboa

Estudo aponta que cada brasileiro pode ser responsável por poluir os mares com 16kg de plásticos por ano (Priscila Zambotto/Getty Images)

Estudo aponta que cada brasileiro pode ser responsável por poluir os mares com 16kg de plásticos por ano (Priscila Zambotto/Getty Images)

Marina Filippe

Marina Filippe

Publicado em 30 de junho de 2022 às 13h08.

Última atualização em 30 de junho de 2022 às 13h09.

*De Lisboa, Portugal

Um estudo inédito encomendado pelo Blue Keepers, projeto ligado à Plataforma de Ação pela Água e Oceano do Pacto Global da ONU no Brasil, aponta que cada brasileiro pode ser responsável por poluir os mares com 16kg de plásticos por ano. Isto é 3,44 milhões de toneladas do material no meio ambiente, ou ainda 1/3 do plástico produzido no país com risco de chegar ao oceano.

A pesquisa inédita, feita entre julho de 2021 e abril de 2022, faz parte dos dois primeiros relatórios produzidos pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, e foi apresentada em primeira mão na Conferência dos Oceanos das Nações Unidas.

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“Estamos na Década dos Oceanos e o Brasil tem e deve ter cada vez mais protagonismo no tema. As empresas são parte do problema e devem ser parte da solução. Temos um longo caminho a seguir, mas o diagnóstico trazido pelo estudo conduzido pelo Blue Keepers e o Instituto Oceanográfico da USP mostra o que precisamos fazer imediatamente, que é criar soluções não somente em áreas costeiras do Brasil. E para já”, diz Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU no Brasil.

Deacordo com ele, o Blue Keepers instrumentaliza, com base em ciência, as ações e as estratégias de prevenção do lixo no mar no Brasil. "Entramos num novo estágio dessa discussão, que nos possibilita atuar de forma mais estratégica. Contamos com as empresas nesse trabalho, elas são fundamentais”, diz.

O Pacto Global da ONU no Brasil também mostrou o Blue Keepers no evento proprietário na Arena Oceano, com o apoio da Azul Linhas Aéreas e da Corona, marca da Ambev. “Planejar e executar soluções a curto, médio e longo prazos pela preservação e conservação dos nossos mares e oceanos é urgente e prioritário. A marca Corona lidera ações de conscientização e, como aliados do movimento, vamos zerar a poluição plástica das nossas embalagens em três anos. Somando esforços, vamos recuperar e proteger o futuro do qual não podemos abrir mão”, afirma Rodrigo Figueiredo, vice-presidente de Sustentabilidade e Suprimentos da Ambev.

O estudo do Blue Keepers 

O estudo Blue Keepers, que tem patrocínio da Braskem e da Ocean Pact, além de apoio técnico da USP, observou também que existe um alto risco desse estoque plástico chegar até o oceano por meio de rios. Esse nível de risco varia ao longo do território brasileiro, mas áreas como a Baía de Guanabara (RJ), rios Amazonas (Amazonas e Pará), São Francisco (entre Sergipe e Alagoas) e foz do Tocantins (Pará), e na Lagoa dos Patos (Porto Alegre), são especialmente preocupantes. Além disso, diversos municípios, mesmo no interior, têm alto risco de contribuir para o lixo plástico encontrado no oceano e, por isso, é necessário agir localmente nessa questão.

A metodologia desenvolvida traz avanços sobre modelos globais usados em estudos anteriores. O Blue Keepers utilizou parâmetros socioeconômicos e geográficos que não haviam sido representados anteriormente, como a reciclagem informal e a presença de barragens no país. Assim, a própria metodologia é um resultado importante para que outros países busquem diagnosticar suas poluições por plástico.

Realizado o diagnóstico Brasil, o projeto inicia ações locais começando no segundo semestre de 2022, priorizando 10 municípios. O Rio de Janeiro será a primeira cidade a ser assistida pelo Blue Keepers, que identifica de onde vêm os resíduos para criar soluções para prevenir o problema.

O projeto atua como uma ferramenta de planejamento e execução de ações diagnósticas e soluções por meio de parcerias entre os setores público e privado, em alinhamento com o Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar (PNCLM) e a recém-lançada Resolução da ONU Meio Ambiente pelo Fim da Poluição por Plásticos.

As outras cidades prioritárias são Manaus (AM), Belém (PA), São Luís (MA), Fortaleza (CE), Natal (RN), João Pessoa (PB), Recife (PE), Maceió (AL), Aracaju (SE), Salvador (BA), Vitória (ES), São Paulo (SP), Baixada Santista (SP) e Porto Alegre (RS).

"O Blue Keepers é a nossa grande agenda de combate à pouição marinha, e considerando que 80% dos resíduos nos oceanos são gerados em zonas terrestres é preciso engajar o setor público e privado para o desenvolvimento de ações efetivas", diz Camila Valverde, diretora de impacto do Pacto Global da ONU no Brasil, durante a sessão na Conferência dos Oceanos.

O Blue Keepers é uma iniciativa nacional que busca a efetiva mobilização de recursos e inovação tecnológica no combate à poluição do plástico em bacias hidrográficas e oceanos, com o envolvimento de empresas de todos os setores, diferentes níveis de governo e da sociedade civil na preservação do ecossistema.

A iniciativa faz parte da Década dos Oceanos, criada pela ONU em 2020, que visa a conservação e uso sustentável dos oceanos, mares e recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável. Hoje, estima-se que 150 milhões de toneladas de plástico circulem no mar.

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