Marcela Rocha é diretora-executiva de Assuntos Corporativos da JBS e uma das responsáveis por propagar a cultura de sustentabilidade na empresa (Esfera Brasil/Divulgação)
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Publicado em 20 de março de 2023 às 16h49.
Última atualização em 21 de março de 2023 às 19h36.
Diretora-executiva de Assuntos Corporativos da JBS, multinacional brasileira que é líder global do setor de alimentos, Marcela Rocha é responsável pela gestão da reputação da empresa, que tem metas ousadas na área de sustentabilidade, como a de zerar o balanço líquido de emissão de gases do efeito estufa até 2040. Por sua atuação, a profissional é uma das homenageadas no Prêmio Mulheres Exponenciais 2023, promovido pela Esfera Brasil e pela Conecta.
Segundo Marcela, a sustentabilidade é intrínseca aos negócios da JBS, uma vez que a operação da companhia está conectada à natureza e à produção agropecuária. “A gente aproveita ao máximo os recursos naturais, também porque isso gera mais eficiência, rentabilidade e torna o negócio mais sustentável, tanto financeiramente quanto para o meio ambiente”, explica.
Assim, as ações sustentáveis estão diretamente ligadas à excelência operacional. Do boi, que é uma das principais matérias-primas da JBS, se aproveita tudo: além da carne e do couro, o colágeno vai para a indústria farmacêutica e alimentícia, o sebo vira biodiesel, resíduos orgânicos se transformam em fertilizantes e assim por diante.
Por isso, explica a executiva, a empresa não vê a sustentabilidade como um custo, mas como algo que beneficia todas as áreas do negócio e traz bons frutos. É essa mensagem que a JBS vem buscando disseminar para toda a sua cadeia produtiva. “A gente trabalha para mostrar para todos os nossos fornecedores que fazer o certo dá resultado. Não é somente uma exigência do mercado e da sociedade, mas também algo que torna nossos negócios mais lucrativos”, afirma.
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A área em que a executiva atua é incumbida de fazer a ponte da JBS com o mundo exterior. Marcela cuida da gestão da reputação da empresa que, em 2023, completa 70 anos de história. “A comunicação é fundamental para que todos dentro da companhia e em nossa cadeia de valor participem da mesma jornada de sustentabilidade e passem a tomar decisões levando em consideração os mesmos critérios que a gente”, diz.
A empresa assumiu, há dois anos, o compromisso de se tornar Net Zero até 2040. Isso significa zerar o balanço líquido de emissões diretas e indiretas de gases do efeito estufa. “A JBS é líder em seu setor. É nosso papel mostrar que é possível e chamar mais gente para enfrentar esse desafio de frear o aquecimento global e ampliar a produção de alimentos para abastecer a crescente população mundial”, comenta Marcela. Em sua visão, nenhuma empresa vai resolver isso por conta própria, todas precisam caminhar na mesma direção.
Para que a sustentabilidade vire uma missão dentro da empresa, é preciso que ela seja abraçada, primeiramente, pelas lideranças. “A cultura de uma empresa tem que estar em todos os cantos. Se o topo da cadeia não estiver engajado, aquilo não cascateia nem vira verdade”, observa. No caso da JBS, a agenda sustentável foi uma decisão das lideranças da JBS, que impacta todos os seus 250 mil colaboradores ao redor do mundo, que, por sua vez, precisam tomar inúmeras decisões diárias levando essa estratégia em consideração.
O desafio não está restrito ao universo interno da JBS. A empresa precisa desenvolver essa agenda também em sua cadeia de valor, como por exemplo junto aos mais de 80 mil produtores de gado no Brasil que a empresa monitora diariamente segundo critérios socioambientais bem rigorosos, assim como em relação aos fornecedores desses fazendeiros. “Nossa estratégia é apoiá-los para que atendam aos padrões que demandamos, acelerando o processo de transição.”
A solução encontrada pela JBS foi a criação de 17 Escritórios Verdes para dar apoio a esses fornecedores, que têm acesso à consultoria técnica gratuita oferecida pela empresa e a linhas de crédito em parceria com bancos. Por meio do programa, mais de 4.800 propriedades da Amazônia Legal conseguiram transformar sua produção. “É o jogo do ganha-ganha, porque ajuda a preservar os biomas brasileiros, deixa o produtor feliz, porque aumenta sua renda, e a JBS garante um fornecedor que, do contrário, seria bloqueado pelo compliance socioambiental”, conta.
Essa agenda de apoio da JBS vai além de sua cadeia de valor. No fim de 2020, a empresa criou o Fundo JBS pela Amazônia e se comprometeu a aportar R$ 250 milhões nele até 2025. O objetivo é oferecer apoio técnico e financeiro a projetos locais, realizados em parceria com entidades do terceiro setor, que promovam o desenvolvimento socioeconômico sustentável do bioma. “O Fundo vem investindo em 17 projetos, até o momento, que impulsionam a bioeconomia da Amazônia, como nas cadeias do açaí, da pesca sustentável do pirarucu e do cacau. Mais de 3 mil famílias foram impactadas.”
Na JBS há seis anos, empresa que reúne outras mulheres em cargos de liderança, ela é jornalista e começou a carreira como repórter. “Eu olhava para cima e via muito homem, só tive chefe homem. E eu me perguntava: ‘Será que um dia eu vou conseguir?’. Mas a grande diferença foi ter em casa um exemplo de uma mulher que nunca se limitou”, lembra.
Segundo Marcela, na infância, a mãe foi uma executiva de Recursos Humanos da extinta Telesp. Hoje, aos 63 anos, ela continua sendo seu maior exemplo. “Ela se rodeou de pessoas que impulsionavam aquela força motriz, que é uma mulher competente querendo crescer. Então eu cresci com esse referencial. Ser mulher nunca foi um fator limitante”, afirma.
Hoje, como diretora-executiva de uma multinacional, Marcela entende a importância de referências para as jovens. “Com o passar dos anos, eu vi o quanto é importante, depois que você chega a uma determinada posição, compartilhar isso com as pessoas, porque elas precisam acreditar que é possível”, diz.
Com passagem por agências de publicidade, ela afirma que nunca se permitiu ter rótulos e foi trilhando a carreira sem qualquer limitação. Marcela está à frente das áreas de comunicação, mídia e relações institucionais da JBS, incluindo organismos não governamentais, entidades setoriais e poder público.
A executiva revela que sempre usou uma estratégia para que o fato de ser mulher não seja um fator mais relevante do que as suas capacidades: “Meu segredo para transitar em áreas que, de fato, têm muito mais homens do que mulheres, é sempre me preparar muito para qualquer circunstância, para que meu conhecimento não seja questionado”.
Marcela comenta também a necessidade de maior inclusão de mulheres na política. “O volume de mulheres em cargos eletivos é reduzido, mas acho também que nós, mulheres e homens aliados, precisamos escolher mais mulheres”, pontua. Para ela, essa mudança já está em curso e todos fazem parte dela.