Privação de sono faz o cérebro comer a si mesmo
Ficar sem dormir faz as células imunológicas trabalharem demais – o que pode ser bom a curto prazo, mas depois de um tempo aumenta os riscos de demência
Da Redação
Publicado em 30 de maio de 2017 às 10h26.
Última atualização em 30 de maio de 2017 às 11h59.
Todo mundo que já teve uma noite mal dormida conhece o cansaço e a exaustão do dia seguinte. Mas a sensação de que precisamos de mais energia para nos concentrarmos e focarmos em atividades cotidianas não é por acaso: privação de sono pode fazer com que algumas sinapses sejam “comidas” por outras células cerebrais. A descoberta é de um time de cientistas da Universidade Politécnica de Marche, na Itália.
Ao comparar o cérebro de ratos com padrões normais de sono com o de roedores que ficaram sem dormir, os pesquisadores perceberam que o cérebro tem um sistema de limpeza que, com quantidades de sono regulares, recria as sinapses danificadas e as transforma em novas membranas e proteínas.
Mas, em cérebros de ratos que tiveram problemas de sono, esse mecanismo tornou-se mais ativo, quebrando mais conexões neurais.
Essa função é desempenhada pelos astrócitos, as células neurais mais comuns , responsáveis pela nutrição dos neurônios e regulação da concentração de diversas substâncias que regulam o bom funcionamento cerebral. Em outras palavras, os astrócitos limpam as células desgastadas e em excesso no cérebro.
“Nós mostramos pela primeira vez que partes das sinapses foram literalmente comidas pelos astrócitos por causa da perda de sono”, afirmou o líder do estudo, Michele Bellesi, ao New Scientist . Os cientistas analisaram esse processo graças a um microscópio eletrônico que reconstruiu as atividades celulares em 3D.
A faxina geral dos astrócitos dos animais cansados não foi motivo para preocupação já que muitas das sinapses atingidas ocupavam muito espaço e eram antigas. Bellesi compara o processo ao cuidado com móveis antigos: assim como a mobília, essas sinapses necessitam mais atenção e limpeza.
O que está tirando o sono dos cientistas é que a fagocitose dos astrócitos em casos de privação do sono acelerou o funcionamento das micróglias, as menores células imunológicas do sistema nervoso, que agem como guardiãs do cérebro. Estudos anteriores comprovam que a ativação das micróglias tem relação com o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, como Azheimer e demência.
A pesquisa foi publicada no Journal of Neuroscience . A equipe de Bellesi defende que ainda precisa se aprofundar mais para saber o quanto a privação de sono interfere na ocorrência do Alzheimer.
Por via das dúvidas, melhor não varar muitas madrugadas.
Este conteúdo foi originalmente publicado no site da Superinteressante.