Cachorros: saiba como seu pet pensa (mallivan/Freepik)
Redação Exame
Publicado em 8 de dezembro de 2025 às 08h03.
Se você acha que seu cachorro entende tudo o que você fala, a ciência começa a concordar. Novas pesquisas revelam que os cães não apenas reconhecem palavras, mas também formam representações mentais dos objetos a que elas se referem. Com o uso de ressonância magnética, EEG e testes comportamentais, cientistas investigam como os cachorros lembram, interpretam e se conectam com humanos.
Um estudo feito na Universidade Eötvös Loránd, na Hungria, no começo deste ano, mostrou que os cães conseguem lembrar ações que fizeram por conta própria e repeti-las depois de um tempo — até uma hora depois, se alguém pedir. Isso indica um tipo de memória episódica, mais parecida com a humana do que se pensava. Nada mal para quem costuma esquecer onde deixou o brinquedo favorito.
Outro experimento testou se os cães realmente sabem o que certas palavras significam. Pesquisadores disseram palavras conhecidas, como “bola”, enquanto mostravam objetos que combinavam ou não com o termo. A atividade cerebral dos cães indicou surpresa quando a imagem não batia com a palavra, sinal de que eles entenderam que algo estava errado, o que sugere uma compreensão semântica.
Cães também têm faro para gente boa. Em um estudo com interações sociais encenadas, os animais passaram a preferir pessoas que ajudavam outras, mesmo sem receber nada em troca. Um gesto simples, como entregar um objeto, já era suficiente para o cão escolher um “lado”. Segundo os cientistas, essa escolha mostra como os cães avaliam o comportamento humano de forma rápida.
Eles também modulam as expressões faciais dependendo da atenção que recebem. Quando sabem que estão sendo observados, movem mais os músculos do rosto — o que pode ser um jeito de se comunicar com os humanos. E ao interagir com crianças, os dois lados apresentam aumento nos níveis de ocitocina, hormônio ligado ao afeto.
Só que, na hora de interpretar os cães, os humanos nem sempre acertam. Um estudo trocou reações reais de um cachorro por outras em vídeo e descobriu que os participantes continuavam atribuindo emoções com base no contexto, não no que o animal realmente expressava. Ou seja: podemos estar entendendo tudo errado.
Nem todo cachorro pensa igual. Pesquisadores desenvolveram um índice de inteligência geral canina (g factor), com base em sete tarefas aplicadas a mais de 100 cães domésticos. Os resultados mostraram grandes diferenças entre os animais, e que essas capacidades mudam ao longo da vida. Assim como em humanos, a inteligência canina não é estática.
Genes também influenciam. Um estudo com filhotes indicou que cerca de 40% das variações em habilidades sociais, como seguir o dedo do tutor ou manter contato visual, são hereditárias. Esses achados ajudam a explicar por que alguns cães parecem “gênios” desde cedo — e por que outros demoram mais para entender comandos.
O jeito como um filhote é criado faz diferença. Estudos com cães de assistência compararam dois grupos: um cresceu em lares com famílias; o outro em um campus universitário, cercado de estímulos e interação. O resultado? Nenhuma diferença nas habilidades cognitivas. O que importou, de fato, foi o tempo certo para ensinar cada coisa.
Habilidades como atenção a gestos surgem por volta da oitava semana de vida. Já o autocontrole — útil para ensinar a esperar e fazer as necessidades no lugar certo — começa a aparecer entre a 12ª e a 14ª semana. Jogar um jogo simples, como mostrar comida em uma caixa e depois trancá-la, estimula o filhote a olhar para o tutor em busca de ajuda. Aqueles que jogaram o jogo repetidamente fizeram o dobro de contato visual nas semanas seguintes.
Durante anos, estudos sobre cognição canina se concentraram na visão. Mas o olfato sempre foi o ponto forte dos cães. Alexandra Horowitz criou uma versão olfativa do teste do espelho — método usado para detectar autoconsciência — e mostrou que os cães reconhecem o próprio cheiro alterado.
Ela também analisou comportamentos corriqueiros, como o sacudir o corpo após uma interação. O gesto, segundo os dados, costuma sinalizar uma transição: os cães se afastam ou mudam de comportamento logo em seguida. Outro sinal pouco entendido, o inclinar a cabeça, parece ocorrer quando os cães tentam processar informações significativas, como nomes de brinquedos.