Nova técnica cria implantes de tecido com células do próprios paciente
Método evita rejeição do organismo, maior obstáculo na área de transplantes atualmente
Ariane Alves
Publicado em 22 de novembro de 2018 às 14h17.
São Paulo - Pesquisadores da Universidade de Tel Aviv, em Israel , desenvolveram uma nova tecnologia que permite a criação de implantes de tecido totalmente personalizados usando células e biomateriais do próprio paciente. A grande vantagem do método é evitar a rejeição dos implantes pelo sistema imunológico, que ataca o que pensa ser um corpo estranho no organismo. A descoberta tem aplicações em potencial para transplantes cardíacos, medulares e corticais.
O artigo, publicado pelos pesquisadores na revista Advanced Materials, afirma que a tecnologia permite a produção dos tecidos com uso de reprogramação celular e hidrogel 3D. Segundo a equipe, os tecidos criados com o novo método não são rejeitados pelo paciente, uma vez que são feitos com células do seu próprio organismo.
"Como as células e o material usado são derivados do paciente, o implante não provoca uma resposta imunológica, garantindo a regeneração adequada do órgão defeituoso", explica o professor Tal Dvir, do Centro de Nanociência da Universidade de Tel Aviv, em comunicado.
Gorduras que salvam
O método utiliza uma pequena biópsia do tecido adiposo, responsável por armazenar a gordura ingerida na alimentação, no processo de reprogramação celular, transformando-o em células-tronco pluripotentes. As novas células têm a capacidade de se desenvolver em todas as células de tecidos do corpo humano.
Em seguida, o material extracelular, igualmente importante para a construção dos tecidos do organismo, é moldado com um hidrogel 3D específico para cada paciente. "Fomos capazes de criar um hidrogel personalizado a partir dos materiais da biópsia para diferenciar as células de gordura em diferentes tipos de células e para projetar implantes cardíacos, medulares, corticais e de outros tecidos para tratar diferentes doenças", acrescentou Dvir.
Driblando a rejeição
Atualmente, os métodos disponíveis de criação de tecidos para transplante utilizam materiais sintéticos ou células derivadas de animais e plantas, o que obriga os pacientes a serem medicados com remédios imunossupressores (inibidores da atividade do sistema imunológico), que oferecem certo risco à saúde, além da possibilidade de uma resposta imune levar à rejeição do tecido implantado.
Embora a equipe ainda não tenha transplantado os tecidos personalizados para um corpo humano, seus primeiros experimentos com animais e amostras humanas in vitro sugerem que a resposta imunológica do organismo será mínima.
Segundo o site de divulgação científica IFL Science , a equipe já conseguiu regenerar com sucesso o tecido funcional cardíaco, medular, cortical e adipogênico. Mais adiante, eles esperam regenerar outros órgãos usando as próprias células do paciente, como intestinos e olhos.
A descoberta traz esperanças à medicina, que projeta um cenário em que qualquer tipo de tecido ou órgão humano possa ser construído a partir das células do próprio corpo, substituindo órgãos doentes ou lesionados e tornando o processo de recuperação muito mais tranquilo para os pacientes.