Laboratório da Driver: algoritmos para indicar os melhores tratamentos a cada paciente (Foto/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 8 de setembro de 2018 às 08h45.
Última atualização em 8 de setembro de 2018 às 08h45.
Dois oncologistas americanos formados em Harvard, financiados pelo bilionário de Hong Kong Li Ka-shing, estão tentando usar a tecnologia para repaginar o acesso ao tratamento do câncer. Eles estão dando alguns de seus primeiros passos na China – o marco zero do câncer.
A China tem o maior número de pacientes com câncer do mundo, mas o tratamento especializado é tão escasso que os pacientes precisam viajar longas distâncias até os melhores hospitais e têm de morar em lugares precários durante meses para comparecer a consultas curtas com oncologistas.
Esse problema começou a chamar a atenção de grandes investidores, e Li, um dos homens mais ricos da Ásia, tornou-se em 2015 o primeiro financiador da startup dos médicos, chamada Driver. Outros investidores aderiram e, agora com US$ 100 milhões, a empresa está desenvolvendo uma tecnologia para que os pacientes com câncer tenham mais controle sobre seus tratamentos. A startup começa a inscrever formalmente pacientes na China e nos EUA nesta semana, depois de um teste de 17 meses com várias centenas de pessoas.
A Driver pretende usar a tecnologia para resolver um problema perene no coração da oncologia global. Existem muitos medicamentos e tratamentos experimentais contra o câncer, e US$ 133 bilhões em todo o mundo são gastos com esses remédios por ano, de acordo com a empresa de pesquisa Iqvia Institute. No entanto, os pacientes geralmente não conseguem encontrar todas as opções disponíveis, somente as que passam pelo filtro de um oncologista sobrecarregado. Ao mesmo tempo, os pesquisadores nem sempre conseguem se manter a par de outros estudos - às vezes nem mesmo dentro de suas enormes instituições médicas.
Qual é a solução proposta pela Driver? Os laboratórios da startup em São Francisco e no sul da China analisam os tumores, o DNA e outros registros médicos dos pacientes. Depois, um aplicativo mostra aos pacientes os melhores tratamentos e testes clínicos em todo o mundo que correspondem a seus tumores específicos. A Driver funciona nos dois países. Ainda assim, a escassez das informações em que o aplicativo se baseia são particularmente visíveis na China: há apenas 18 oncologistas por 1 milhão de pessoas na China, em comparação com 161 para o mesmo número de pessoas nos EUA, de acordo com um artigo no Journal of Global Oncology.
"Há uma lacuna entre o conhecimento e os pacientes, e ela existe no tratamento do câncer desde 1850", disse Will Polkinghorn, cofundador da Driver. "Queremos fechar essa lacuna."
A primeira grande parceria da Driver também surgiu na China: o Centro Nacional do Câncer, com sede em Pequim, a agência central de pesquisas sobre o câncer pela qual 840.000 pacientes passam anualmente. Na próxima semana, o Centro planeja anunciar oficialmente o uso da plataforma da Driver para gerenciar os mais de 200 testes clínicos em execução constantemente.
Mas, para que suas maiores ambições se concretizem, a Driver precisará que grandes quantidades de pacientes se inscrevam. O serviço completo, incluindo o processamento de tumores e histórico médico, seguido pela curadoria de tratamentos, custará US$ 3.000, o que limita o acesso a pacientes ricos.
Polkinghorn, da Driver, era radioterapeuta no Memorial Sloan-Kettering, um dos maiores centros de tratamento do câncer nos EUA, e o outro cofundador, Petros Giannikopoulos, era um patologista da Faculdade de Medicina de Harvard quando tiveram a ideia. Ambos eram graduados da Faculdade de Medicina de Harvard, mas não conseguiram financiamento no Vale do Silício. Eles tiveram sorte em Hong Kong, onde captaram recursos da Horizons Ventures, um fundo administrado pela companheira de Li, Solina Chau, e o principal canal de investimento do patrimônio dele.