Viagens retomadas nos EUA? Sim, mas é o chamado turismo das vacinas
Pessoas com tempo e dinheiro têm buscado vacinas em cidades distantes das suas. Ex-presidente do conselho do Citigroup está entre esses novos "turistas"
Daniel Salles
Publicado em 21 de janeiro de 2021 às 09h27.
Última atualização em 21 de janeiro de 2021 às 10h56.
Os americanos finalmente voltaram a viajar, embora nem todas essas viagens sejam para negócios ou descanso. Muitos embarcaram no chamado turismo de vacinas.
Frustrados por sites de cadastro congestionados, falta de vacinas contra a Covid-19 e regras de elegibilidade confusas, pessoas com tempo e dinheiro têm buscado vacinas que poderiam salvar vidas em outras cidades.
O ex-presidente do conselho do Citigroup, Richard Parsons, está entre esses novos "turistas". Ele e a esposa voaram de Nova York para Miami neste mês, quando ele descobriu que a Flórida estava vacinando pessoas com 65 anos ou mais “sem fazer perguntas”, disse Parsons, de 72 anos, que inicialmente não se qualificou para receber a vacina em Nova York.
“A Flórida fez uma demarcação simples de quem vai primeiro, então fizemos uma reserva online e, quatro dias depois, estava resolvido”, disse Parsons, que foi vacinado e planeja receber a segunda dose enquanto estiver na Flórida. “Essa não é a resposta para 99% da população, que não pode simplesmente viajar para a Flórida.”
A Flórida não é o único exemplo. Turistas em busca de vacinas começam a chegar em resorts de praia no Havaí, cidades de esqui no Colorado e na cidade de Nova York, que recebeu mais doses do que outras partes do estado, bem como nas proximidades de Nova Jersey e Connecticut.
Não há dados nacionais, mas os estados que rastreiam os números sugerem que dezenas de milhares de americanos estão viajando para tomar a vacina. Mais de 37.000 pessoas que não moram no estado foram vacinadas contra a Covid-19 na Flórida, de acordo com dados estaduais divulgados na terça-feira. O número exclui pessoas que têm uma segunda residência ou negócio na Flórida, onde cerca de 1 milhão foram vacinados.
Em Illinois, cerca de 14.000 pessoas que não moram no estado foram vacinadas. Cerca de 59.000 que receberam a vacina na cidade de Nova York e 22.150 vacinadas em Washington, D.C., não eram residentes, de acordo com dados das cidades.
Quase 15 milhões de doses foram administradas nos Estados Unidos, segundo o rastreador de vacinas da Bloomberg. Especialistas em políticas de saúde dizem que, em geral, quanto mais pessoas forem vacinadas, melhor. Ainda assim, o turismo de vacinas levanta preocupações com pessoas que não têm dinheiro - ou não têm saúde suficiente - para viajar para a imunização.
Também existem questões éticas sobre se é correto apropriar uma dose destinada a uma cidade ou estado específico. O setor de turismo não promoveu grandes campanhas de marketing para evitar dar a impressão que defende burlar as regras.
O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, alertou na terça-feira que, depois de expandir a elegibilidade para pessoas com 65 anos ou mais, a cidade estava perigosamente perto de ficar sem vacinas e poderia começar a fechar centros de vacinação na quinta-feira, a menos que a cidade fosse reabastecida.
Cerca de 25% das doses alocadas para a cidade de Nova York foram administradas a não residentes, segundo dados da cidade. De Blasio disse em entrevista coletiva em 12 de janeiro que o problema era uma “preocupação real” e disse que pessoas que “vivem fora dos cinco distritos e não são trabalhadores essenciais não deveriam receber uma vacina na cidade de Nova York”.
Com a colaboração de Stacie Sherman e Brody Ford.