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Treino em piscina aquecida ajuda a controlar hipertensão

Especialistas apontam hipertensão como fator de risco a diversas doenças graves, como acidente vascular cerebral, infarto, insuficiência cardíaca e doença renal


	Piscina: estudo randomizado foi feito com 32 voluntários cuja pressão arterial permanecia alta apesar da terapia feita com três ou mais classes de medicamentos
 (Getty Images)

Piscina: estudo randomizado foi feito com 32 voluntários cuja pressão arterial permanecia alta apesar da terapia feita com três ou mais classes de medicamentos (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 9 de janeiro de 2014 às 14h54.

A prática de atividade física em piscina aquecida pode ser uma ferramenta valiosa no tratamento de pacientes com hipertensão resistente, mostrou uma pesquisa realizada na Universidade de São Paulo (USP).

O estudo randomizado foi feito com 32 voluntários cuja pressão arterial permanecia alta apesar da terapia feita com três ou mais classes de medicamentos.

Após 12 semanas, o grupo submetido ao protocolo de treinamento não apenas havia atingido patamares considerados ideais de pressão arterial como também apresentou redução dos hormônios responsáveis pela vasoconstrição e tensão dos vasos sanguíneos.

Especialistas apontam a hipertensão como fator de risco para diversas doenças graves, como acidente vascular cerebral, infarto, insuficiência cardíaca e doença renal. Estima-se que esse risco seja cerca de três vezes maior em casos resistentes quando comparados a pacientes com hipertensão controlada.

“A incidência do problema é grande na população hipertensa. Entre 20% e 50% dos pacientes não atinge a pressão alvo mesmo com tratamento medicamentoso”, disse Guilherme Veiga Guimarães, pesquisador da Faculdade de Medicina da USP e coordenador do estudo apoiado pela FAPESP.

De acordo com Guimarães, que coordena o Laboratório de Atividade Física e Saúde do Instituto do Coração (LAtiS-Incor), a ideia de investigar o efeito dos exercícios em piscina aquecida nos hipertensos resistentes surgiu após um estudo anterior, feito com portadores de insuficiência cardíaca, mostrar diversos benefícios.

“Verificamos diminuição da frequência cardíaca, aumento do volume de sangue bombeado pelo coração por minuto, melhora da função cardíaca e aumento do shear stress (tensão no endotélio causada pelo fluxo sanguíneo capaz de induzir uma maior produção de óxido nítrico, que é um agente vasodilatador)”, disse.


“Também houve aumento do peptídeo natriurético atrial (hormônio relacionado com a redução da pressão arterial secretado por células musculares cardíacas atriais) e de vasodilatores como o monofosfato de guanosina cíclica (GMPc), nitrito (NO2) e nitrato (NO3). Por outro lado, houve inibição da vasopressina, hormônio antidiurético, o que resultou na maior produção de urina pelos rins e contribuiu para a queda da pressão sanguínea”, contou o pesquisador.

Quando os indivíduos são submersos, acrescentou Guimarães, apresentam inibição da atividade simpática, responsável pelo aumento da frequência cardíaca e vasoconstrição vascular. Também ocorre supressão do sistema renina angiotensina aldosterona, relacionado com a vasoconstrição e a reabsorção de sódio, que favorecem o aumento da pressão arterial.

“Partimos do pressuposto que, em pacientes com hipertensão refratária, o treinamento em piscina aquecida poderia também promover adaptações neuro-hormonais, cardiovasculares e renais benéficas para o comportamento da pressão arterial e do sistema nervoso simpático”, disse Guimarães.

Hormônios vasoconstritores

Os 32 voluntários de ambos os sexos foram selecionados em um universo de 125 pacientes em tratamento no Hospital Universitário (HU) da USP.

Foram excluídos maiores de 65 anos, portadores de doenças associadas, como diabetes ou insuficiência cardíaca, portadores de lesão em órgãos-alvo, como coração, rins e olhos, portadores de doenças ortopédicas ou dermatológicas que impedissem o uso da piscina, e aqueles cuja hipertensão resistente era resultante de uma outra doença principal, como insuficiência renal, por exemplo.

A média de idade dos selecionados foi de 55 anos – com variação de 5 anos para cima ou para baixo. Todos passaram por uma avaliação anterior ao experimento, que incluiu um teste de esforço cardiopulmonar, coleta de sangue para dosagem hormonal, aferição da pressão arterial no consultório e também por um método conhecido como MAPA (Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial), no qual medidas são feitas a cada 20 minutos, durante 24 horas, por um monitor acoplado à cintura, com o objetivo de registrar as variações durante o ciclo de sono e vigília.


Metade da amostra foi então submetida a sessões de 60 minutos de atividade física em uma piscina aquecida a 32ºC, três vezes por semana, durante 12 semanas. Já o grupo controle foi aconselhado a manter suas atividades de rotina.

“O protocolo era composto por exercícios calistênicos (que usam o peso do próprio corpo como resistência) e caminhadas dentro da piscina. O nível da imersão na água foi até o processo xifoide (altura da boca do estômago), promovendo redução do tônus vascular e resistência periférica”, contou Guimarães.

Cerca de 72 horas após o término da última sessão de exercícios, os voluntários foram reavaliados. Enquanto o grupo controle apresentou resultados praticamente inalterados, como esperado, no grupo treinamento a pressão arterial ambulatorial caiu de 165/88 para 129/76 mmHg – valor dentro da faixa considerada ideal.

Durante o teste de esforço, a pressão máxima caiu de 198/93 mmHg para 175/86 mmHg no grupo treinamento. Além disso, o tempo de tolerância ao exercício aumentou de 9 para 13 minutos em média.

A análise sanguínea também revelou queda significativa dos hormônios vasoconstritores no grupo treinamento. A dopamina, por exemplo, passou de 140 micrograma por mililitro de sangue (µg/ml) para 40 mg/ml. A noradrenalina caiu de 350 µg/ml microgramas para 150 µg/ml.

“Reavaliamos três dias após última sessão de treinamento para ter certeza de que as mudanças não eram apenas resultado de uma vasodilatação momentânea causada pela água quente. E vimos que os benefícios perduravam”, explicou Guimarães.

Segundo o pesquisador, uma nova reavaliação foi feita três meses após o fim do experimento. Embora os pacientes tenham apresentado valores um pouco mais elevados de pressão arterial – de 119/71 mmHg passou para 129/75 mmHg –, ainda estavam dentro da faixa considerada ideal.

Uma parte do trabalho, feita como piloto e sem a inclusão do grupo controle, foi publicada no periódico Blood Pressure Monitoring. Os resultados completos devem ser divulgados em breve no Journal of Cardiology.

“Agora estamos estudando pacientes com hipertensão resistente verdadeira, pois no experimento anterior foram incluídos alguns ‘hipertensos de jaleco branco’, ou seja, pacientes que apresentam pressão elevada no ambulatório, mas tinham resultado normal no MAPA. Nesse novo estudo deixamos apenas os pacientes que apresentam pressão arterial não controlada no ambulatório e no MAPA”, contou o pesquisador.

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