'The Square' mostra Tahrir como uma praça com vida própria
Filme indicado ao Oscar de melhor documentário, é uma viagem subjetiva pelos acontecimentos ocorridos após a queda de Mubarak em 2011 no Egito
Da Redação
Publicado em 2 de fevereiro de 2014 às 08h26.
Cairo.- Vibrante, hipnotizadora e em certos momentos perigosa, a praça Tahrir não só foi protagonista da revolução contra Hosni Mubarak, também foi o eixo da vida política dos últimos anos no Egito, como mostra o filme 'The Square'.
A obra, indicada ao Oscar de melhor documentário, é uma viagem subjetiva pelos acontecimentos ocorridos após a queda de Mubarak em 2011, há quase três anos, através dos olhos dos ativistas.
A relação entre os manifestantes e a praça que os acolhe os faz experimentar sentimentos como o sofrimento e a ilusão é o ponto de partida da produção que, apesar das expectativas criadas, ainda não chegou aos outdoors egípcios.
Sua diretora, a egípcia americana Jehane Noujaim, reconheceu em entrevista por telefone à Agência Efe que tinha que gravar um processo 'doloroso'.
Período em que milhares de pessoas morreram nos protestos reprimidos pelas autoridades, sob o poder do exército ou pela Irmandade Muçulmana no ano governado por Mohammed Mursi, antes de ser deposto pelos militares em julho do ano passado.
'Agora estamos atravessando um período muito obscuro, mas acho que existe essa ideia de que você pode influenciar o seu próprio futuro, inclusive se vai seguir um longo caminho na luta pela liberdade, dignidade, direitos humanos e justiça social, valores que muitos egípcios compartilham', explicou Noujaim.
Apesar do clima de violência, a produtora diz sentir uma 'profunda esperança' e lembra que não faz tanto tempo que no Egito era 'muito difícil falar de política e agora todos pensam e sonham com o futuro'.
Também se baseia na opinião dos personagens do filme, com quem conviveu dentro e fora de Tahrir. 'Não olham o futuro com pessimismo', disse.
Um deles é Ahmed Hassan, um jovem revolucionário sonhador que tenta unir os egípcios em torno de uma série de ideais, e outro é Magdi Ashur, um islamita barbudo que pertence à Irmandade Muçulmana, embora nem sempre concorde com eles.
Segundo Noujaim, essas diferenças e tensões não impedem que eles se adorem e se ajudem mutuamente de uma forma 'tão dilaceradora quanto bela'.
'Surgiu uma relação orgânica entre os egípcios da qual deveríamos estar orgulhosos', afirmou a cineasta, que define seus compatriotas como 'muito passionais'.
Emoções que atingiram seu auge nos surtos de violência em momentos em que a saúde e a segurança da equipe de filmagem se transformaram em uma questão vital para Noujaim.
'Todos da equipe sofremos o efeito do gás lacrimogêneo, disparos e detenções', conta a diretora, que não pôde evitar ser detida e que agora admite que 'havia tanto interesse por captar a história que chegaram a se colocar em situações de perigo'.
Massacres como o de 30 cristãos em 2011 ou os confrontos sangrentos desse ano na rua Mohammed Mahmoud, perto da praça, têm seu dramático reflexo no documentário, assim como a impotência dos ativistas que querem ser ouvidos e se veem calados por forças maiores, como os islamitas.
Também foram sufocados pela pressão dos militares, cuja imagem foi ponderada no período pós-revolução, e voltou a ser violenta desde a destituição de Mursi em torno da figura do ministro da Defesa, Abdel Fatah ao Sisi.
Está previsto que no futuro o documentário chegue às salas de cinema do Egito. Por enquanto, só circulou uma cópia pirata na internet e foram realizadas algumas projeções privadas.
Noujaim confia que as autoridades autorizem a exibição e deixou a burocracia nas mãos da destacada produtora Misr International Film, após uma troca de acusações com a censura, que nega ter proibido o filme.
Enquanto isso, a diretora prefere 'comemorar' a indicação ao prêmio Oscar com um filme que, falando da 'busca pela consciência', já conquistou os prêmios do público nos festivais de Sundance e Toronto.
Foi precisamente depois da última edição de Sundance quando Noujaim voltou a ver os protagonistas de 'The Square' sair às ruas.
Decidiu segui-los e gravar. Assim as gravações prosseguiram até a queda de Mursi. 'Não podíamos seguir gravando indefinidamente. Então senti que os personagens chegavam a uma conclusão emocional: que não vai cair do céu um cavaleiro branco e solucionar todos os problemas'.
Cairo.- Vibrante, hipnotizadora e em certos momentos perigosa, a praça Tahrir não só foi protagonista da revolução contra Hosni Mubarak, também foi o eixo da vida política dos últimos anos no Egito, como mostra o filme 'The Square'.
A obra, indicada ao Oscar de melhor documentário, é uma viagem subjetiva pelos acontecimentos ocorridos após a queda de Mubarak em 2011, há quase três anos, através dos olhos dos ativistas.
A relação entre os manifestantes e a praça que os acolhe os faz experimentar sentimentos como o sofrimento e a ilusão é o ponto de partida da produção que, apesar das expectativas criadas, ainda não chegou aos outdoors egípcios.
Sua diretora, a egípcia americana Jehane Noujaim, reconheceu em entrevista por telefone à Agência Efe que tinha que gravar um processo 'doloroso'.
Período em que milhares de pessoas morreram nos protestos reprimidos pelas autoridades, sob o poder do exército ou pela Irmandade Muçulmana no ano governado por Mohammed Mursi, antes de ser deposto pelos militares em julho do ano passado.
'Agora estamos atravessando um período muito obscuro, mas acho que existe essa ideia de que você pode influenciar o seu próprio futuro, inclusive se vai seguir um longo caminho na luta pela liberdade, dignidade, direitos humanos e justiça social, valores que muitos egípcios compartilham', explicou Noujaim.
Apesar do clima de violência, a produtora diz sentir uma 'profunda esperança' e lembra que não faz tanto tempo que no Egito era 'muito difícil falar de política e agora todos pensam e sonham com o futuro'.
Também se baseia na opinião dos personagens do filme, com quem conviveu dentro e fora de Tahrir. 'Não olham o futuro com pessimismo', disse.
Um deles é Ahmed Hassan, um jovem revolucionário sonhador que tenta unir os egípcios em torno de uma série de ideais, e outro é Magdi Ashur, um islamita barbudo que pertence à Irmandade Muçulmana, embora nem sempre concorde com eles.
Segundo Noujaim, essas diferenças e tensões não impedem que eles se adorem e se ajudem mutuamente de uma forma 'tão dilaceradora quanto bela'.
'Surgiu uma relação orgânica entre os egípcios da qual deveríamos estar orgulhosos', afirmou a cineasta, que define seus compatriotas como 'muito passionais'.
Emoções que atingiram seu auge nos surtos de violência em momentos em que a saúde e a segurança da equipe de filmagem se transformaram em uma questão vital para Noujaim.
'Todos da equipe sofremos o efeito do gás lacrimogêneo, disparos e detenções', conta a diretora, que não pôde evitar ser detida e que agora admite que 'havia tanto interesse por captar a história que chegaram a se colocar em situações de perigo'.
Massacres como o de 30 cristãos em 2011 ou os confrontos sangrentos desse ano na rua Mohammed Mahmoud, perto da praça, têm seu dramático reflexo no documentário, assim como a impotência dos ativistas que querem ser ouvidos e se veem calados por forças maiores, como os islamitas.
Também foram sufocados pela pressão dos militares, cuja imagem foi ponderada no período pós-revolução, e voltou a ser violenta desde a destituição de Mursi em torno da figura do ministro da Defesa, Abdel Fatah ao Sisi.
Está previsto que no futuro o documentário chegue às salas de cinema do Egito. Por enquanto, só circulou uma cópia pirata na internet e foram realizadas algumas projeções privadas.
Noujaim confia que as autoridades autorizem a exibição e deixou a burocracia nas mãos da destacada produtora Misr International Film, após uma troca de acusações com a censura, que nega ter proibido o filme.
Enquanto isso, a diretora prefere 'comemorar' a indicação ao prêmio Oscar com um filme que, falando da 'busca pela consciência', já conquistou os prêmios do público nos festivais de Sundance e Toronto.
Foi precisamente depois da última edição de Sundance quando Noujaim voltou a ver os protagonistas de 'The Square' sair às ruas.
Decidiu segui-los e gravar. Assim as gravações prosseguiram até a queda de Mursi. 'Não podíamos seguir gravando indefinidamente. Então senti que os personagens chegavam a uma conclusão emocional: que não vai cair do céu um cavaleiro branco e solucionar todos os problemas'.