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“Se o mercado quer 100 relógios, eu vou produzir 99”, diz CEO da Zenith

Benoit de Clerck, que acaba de assumir o comando da manufatura suíça, conta como quer manter a demanda alta e tornar a marca mais seletiva

Benoit de Clerck: da Panerai para a Zenith (Zenith/Divulgação)

Benoit de Clerck: da Panerai para a Zenith (Zenith/Divulgação)

Ivan Padilla
Ivan Padilla

Editor de Casual e Especiais

Publicado em 18 de fevereiro de 2024 às 07h00.

Entre a saída da Panerai, em que ocupava o cargo de CCO, e o início de usa jornada como CEO da Zenith, no começo deste ano, Benoit de Clerck ficou seis meses sem trabalhar, em período de não concorrência. Nesse tempo aproveitou para realizar um antigo sonho: percorrer o Caminho de Santiago, na Espanha.

“Andei cerca de 800 quilômetros, pela rota do norte, vendo o mar pela direita. Foi muito interessante porque você conhece as pessoas, os espanhóis são pessoas muito autênticas”, conta De Clerck, sentado em uma das salas da Villa da Star Island, em Miami.

A conversa aconteceu durante a LVMH Watch Week, salão de relojoaria para jornalistas e revendedores do maior conglomerado de luxo do mundo, em que marcas como a Zenith apresentaram suas novidades. De Clerck contou sobre os novos desafios frente a uma das marcas mais reconhecidas do mercado.

Você era do grupo Richmond e agora está no LVMH. Que diferença vê entre os dois grupos?

É muito cedo para dizer quais são as diferenças entre os dois grupos, após menos de um mês no meu novo cargo. Existem diferenças em termos de abordagem, em termos de filosofia. Estou muito feliz de estar na LVMH e sou grato pelo que aprendi e levei comigo do Richemont depois de 23 anos.

Você começou a carreira na TAG Heuer, que agora também faz parte do mesmo grupo em que você está.

Eu estava lá quando a LVMH comprou a TAG Heuer, e foi quando eu fui para o grupo Richemont, em 1999. Comecei a operação do Oriente Médio, abri a da Turquia, da Índia.

Você tem quase 30 anos de carreira. O que mudou no mercado de relógios de lá para cá?

Evoluiu muito. A qualidade dos relógios melhorou, sabe, tecnicamente podemos fazer relógios muito mais confiáveis. Em segundo lugar, o que me chama a atenção depois de tantos anos na indústria de relógios é o conhecimento do nosso cliente. Muitas vezes os clientes sabem exatamente o que querem. Não precisamos explicar muito, obviamente a internet contribuiu muito para esse conhecimento e hoje conhecimento é poder. As pessoas estão muito bem-informadas. E a indústria de relógios tem se saído muito bem nos últimos 20, 25 anos, vem crescendo muito.

Qual você diria que é a essência da Zenith?

Se há uma palavra para definir a marca é autenticidade. Na semana passada passei um dia inteiro com a equipe do museu na manufatura. No dia seguinte, passei o dia todo com toda a equipe de heritage. E fiquei espantado com o quanto a marca é em termos de história. É como um tesouro, você não precisa criar histórias, as histórias estão lá são autênticas. No próximo ano vamos comemorar 160 anos, é uma marca muito importante para a marca, e também para a indústria de relógios, não são muitas marcas de relógios que têm 160 anos. E vamos permanecer por mais 160.

Novos lançamentos previstos para abril

Qual o desafio para comunicar uma marca tão lendária? As pessoas no geral conhecem a Zenith?

Sempre há um desafio, mas sempre que há um desafio há uma oportunidade. Em termos de comunicação nós contamos com pessoas como você, porque vocês são especialistas nesse tema e estão compartilhando esse conhecimento. Mas as pessoas que conhecem a Zenith compram Zenith. Na semana passada eu estava no trem e alguém passou e disse: ah, esse é um Zenit Chronomaster. E ele nem sabia que eu era o CEO da marca. Foi muito aleatório. Ele ficou muito feliz em dizer, porque você automaticamente cria uma conexão. Nós temos esse senso de comunidade que é muito forte também

Os lançamentos agora estão focados em cronógrafos. Podemos esperar mais novidades na Watches & Wonders (maior salão de relojoaria do mundo, que será realizado em abril)?

Sim, absolutamente. Você não ficará desapontado. Os lançamentos permanecerão dentro do DNA da marca, dentro do código. Teremos novos modelos na linha Defy, mais clássica.

Que marcas você quer deixar na Zenith?

Sabe, eu posso ter uma longa carreira, mas me sinto muito jovem, esse é o número um. O CEO anterior fez um trabalho fantástico, levando a marca a esse nível. Meu trabalho é levar a marca a outro nível, e depois a outro nível.

O que você pode dizer sobre o mercado brasileiro?

O mercado brasileiro é muito maduro de certa forma. Os brasileiros são muito educados, leem muito, são informados, viajam muito, estão em Miami, em Paris, em todos os lugares. É um mercado importante para nós. Estamos crescendo com a Frattina, é uma grande apoiadora nossa, e outros distribuidores. Mas queremos permanecer seletivos. Meu objetivo é sempre produzir um relógio a menos do que a demanda. Se o mercado quiser 100, eu quero produzir 99. Se eles querem 10.000, eu quero produzir 9.999.

Muitas marcas sofreram na pandemia, mas se recuperaram rapidamente. Foi o caso da Zenith?

Então eu não estava aqui, mas quando olho para os gráficos dos últimos anos entendemos como o momento foi muito difícil. Depois a marca cresceu muito rapidamente e hoje nosso trabalho é estabilizar esse crescimento. Quanto mais você cresce, mais difícil é se manter. Se você tem pernas fortes, pode correr longe. Se você não tem pernas fortes, você pode ir rápido, mas não muito longe. Então meu trabalho hoje é fortalecer as pernas da marca.

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