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Publicação não pode ser o foco principal, diz Daniel Polansky

''Se você tem a ideia de escrever algo para que seja publicado está perdendo tempo. O processo tem que ser suficiente'', disse o escritor

Polansky teve um êxito notável com seu primeiro livro, ''Cidade das Sombras'' (''Low Town'') (Divulgação)

Polansky teve um êxito notável com seu primeiro livro, ''Cidade das Sombras'' (''Low Town'') (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 17 de abril de 2012 às 19h44.

Brasília - O americano Daniel Polansky, que participa da Bienal do Livro e da Leitura de Brasília, afirma que para um autor o processo de escrever deve causar satisfação suficiente, e se ele escreve pensando na publicação de sua obra ''está perdendo tempo''.

Polansky, que teve um êxito notável com seu primeiro livro, ''Cidade das Sombras'' (''Low Town''), uma mistura de romance ''noir'' e mundo fantástico, disse em entrevista à Agência Efe que escrever é um ''artesanato'' que ele tenta elaborar com a máxima qualidade.

''Se você tem a ideia de escrever algo para que seja publicado está perdendo tempo. O processo tem que ser suficiente'', disse o escritor, acrescentando que após escrever seu romance, se tivesse lançado o material na fogueira também teria ''valido a pena''.

Sobre a mistura de gêneros em sua estreia, o escritor, nascido em Baltimore há 26 anos, disse que não tinha uma ideia clara do que queria quando começou.

Polansky explicou que o romance ''noir'' coloca uma ''clareza na prosa que contrasta com a complexidade moral'' dos personagens e das situações criadas.

Com relação ao mundo de fantasia incorporado em seu relato, ele disse que gostaria de tirar da sua obra os elementos comuns da narrativa fantástica da qual ele não gostava.

''Parte do meu trabalho consiste em ler três ou quatro horas por dia'', disse Polansky, que reconheceu sua admiração pelos textos de Dashiell Hammett, assim como a enorme ''influência'' do ''noir'' em sua obra.


''Quando me sento, quero rebuscar o limitado talento que tenho'' disse Polansky, admitindo que a literatura é para ele um ato ''egoísta'' do qual desfruta enquanto o romance está em gestação.

Para o escritor, uma vez terminado, encadernado e pronto para sua comercialização, o livro deixa de pertencer a ele e passa a ser de muitos outros. ''Este já não é mais meu livro'', disse se referindo a versão em português de sua primeira obra.

Polansky disse trabalhar especialmente nos diálogos, se preocupar que estejam dotados de ritmo e que se pareçam com a forma como o personagem diria realmente.

Apesar de destacar a aparência cinematográfica de seu romance, Polansky diz que quando escreve um livro não pode pensar nos termos de um filme, mas aceitou a influência dos irmãos Ethan e Joel Coen e sua admiração pelo cinema ''noir''.

Polansky diz que não chegou por acaso à profissão de escritor, mas afirma não ter pensado em um dia escrever uma novela. Foi sua insatisfação em seu trabalho com ''chefes horríveis'' que lhe impulsionou a dar o salto.

O escritor, que ofereceu uma conferência na Bienal sobre a mistura de gêneros literários, deve viajar durante algum tempo pelo país, onde moram alguns de seus familiares.


A primeira Bienal Brasil do Livro e da Leitura começou no sábado passado na Esplanada dos Ministérios de Brasília com uma homenagem ao prêmio Nobel nigeriano Wole Soyinka.

No evento, realizado até o dia 23, data que coincide com o aniversário da morte de Miguel de Cervantes e William Shakespeare, acontece a Jornada Literária da América Hispânica para estreitar laços entre as letras do Brasil e da América Latina.

Participam das conversas os argentinos Juan Gelman, Mempo Giardinelli e Samanta Schweblin, o colombiano Héctor Abad Faciolince, o mexicano Mario Bellatin e o chileno Antonio Skármeta, entre outros. 

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