Professor Girafales publica autobiografia e agradece apoio de Bolaños
O nome do livro, que ainda não foi traduzido para o português, remete ao jargão de seu personagem na série, 'Depois da senhora'
Da Redação
Publicado em 12 de fevereiro de 2015 às 05h39.
Depois de criar sete filhos e plantar algumas árvores em seu rancho, Rubén Aguirre, ator que interpretou o professor Girafales no seriado "Chaves", lançou o livro "Después de usted", uma autobiografia na qual registra sua gratidão a Roberto Gómez Bolaños.
O nome do livro, que ainda não foi traduzido para o português, remete ao jargão de seu personagem na série, "Depois da senhora", dita repetidas vezes para a Dona Florinda, vivida por Florinda Meza.
Se não fosse por Bolaños, "mais do que um companheiro de trabalho, seu amigo", Aguirre admite no livro que não teria se tornado uma figura internacional ou mesmo conseguido fazer o que sempre amou: atuar.
Inseparável de seu charuto, "um vício horrível, que não deveria ter", mas que adquiriu aos 19 anos, o ator recordou em entrevista para a Agência Efe como Bolaños o chamou para interpretar o professor Girafales, personagem "pretensioso, vaidoso, prepotente e romântico" e pelo qual é lembrado até hoje.
"Ele foi inteligente, soube escolher cada um e dar o papel que acreditou em que cada um poderia dar o melhor de si", afirmou Aguirre, se referindo ao elenco de "Chaves", cuja união foi o segredo do sucesso da série, nascida na década de 70.
No entanto, o relacionamento entre os atores foi rompido quando alguns deles quiseram monopolizar os direitos de seus personagens e acabaram se indispondo com Bolaños, como foi o caso de María Antonieta de las Neves, conhecida por seu papel como Chiquinha, e Carlos Villagrán, que interpretava o Quico.
"Cada ator tem suas próprias características e a obrigação de encarnar o personagem, mas isso não significa que seja seu. James Bond é de Sean Connery por tê-lo vivido? Não, é de Ian Fleming. Assim como os atores que interpretaram Hamlet não o 'tiraram' de Shakespeare", opinou Aguirre.
Suas opiniões inclusive lhe custaram a amizade de María Antonieta, por ter dito durante uma entrevista que pretender roubar a personagem do seu criador era uma "canalhice".
"A partir de então não falou mais comigo, ficou muito zangada. Eu sinto muito, porque éramos muito amigos e a conheço desde menina", comentou Aguirre, afirmando estar "disposto a pedir perdão e esclarecer as coisas", a fim de recuperar a amizade que um dia tiveram.
Em sua autobiografia, que terminou de escrever pouco antes da morte de Bolaños em novembro de 2014, Aguirre faz referência ao seu papel como professor Girafales, mas conta também o resto de sua trajetória como ator, ofício do qual precisou se afastar há alguns anos por causa do seu estado de saúde.
O ator, que além das artes cênicas também passou por outras profissões, como piloto, toureiro, locutor e apresentador, afirmou que apesar de os atores "morrerem de fome", atuar é o que ele realmente gosta de fazer.
Aguirre lembra também que sempre se manteve discreto em relação à sua vida particular. "Fico chocado com os artistas que vendem seu casamento, um divórcio ou o nascimento de um filho para uma revista ou para um programa de televisão, é uma coisa muito íntima, eu jamais faria isso", destacou.
Amante das redes sociais, o ator mantém uma competição saudável no Twitter com Édgar Vivar, disputando para ver quem alcança o maior número de seguidores.
"Os dias em que os primeiros capítulos de 'Chaves' foram gravados, uns em cima dos outros, no mesmo filme, para economizar, ficaram pra trás. Os avanços tecnológicos foram bárbaros desde então, mas é uma pena que os avanços intelectuais não tenham sido os mesmos", considerou.
"Os textos atuais são ruins, há piadas muito antigas, e você vê atores excelentes, mas se pergunta quem está escrevendo suas falas", completou.
No "crepúsculo de sua vida", como observou com humor, Aguirre lamentou ter deixado algumas coisas por fazer, como interpretar um vilão ou ter sido "árbitro" de beisebol.
Ainda assim, afirmou que ver seus filhos é o que o faz se sentir mais orgulhoso, e está contente por ter desenvolvido sua "criatividade" e não ter sido estigmatizado em seu personagem como professor Girafales.
Embora tenha admitido, com um sorriso de resignação, que o "pagam muito melhor por ser o professor Girafales, do que por ser Rubén Agurire".