(Plateresca/Thinkstock)
Júlia Lewgoy
Publicado em 18 de setembro de 2018 às 05h00.
Última atualização em 18 de setembro de 2018 às 05h00.
Em Saint-Émilion, no Château Corbin, a enóloga Anabelle Cruse-Bardinet está entusiasmada com a colheita deste ano. As geadas da primavera devastaram seu vinhedo no ano passado, como fizeram com muitos outros châteaux em Bordeaux, e ela não produziu nenhum vinho. "Vamos produzir uma safra incrível em 2018", disse ela, por e-mail. "Tivemos um verão seco e ensolarado, o que deu às uvas uma concentração boa e taninos muito maduros." Foi o mês de julho mais quente desde a excelente safra de 1947.
O outono é a época de colheita do vinho no Hemisfério Norte. A maioria dos viticultores da França está sorridente, entusiasmada porque 2018 não repetirá a desolação de 2017, quando eles colheram a menor safra desde a Segunda Guerra Mundial, não graças a grandes geadas, chuvas de granizo violentas e ondas de calor escaldantes. (Surpreendentemente, a qualidade das uvas que sobreviveram foi excelente em muitos lugares, inclusive em Bordeaux.)
Neste ano, além da vitória na Copa do Mundo, a França também é uma das grandes vencedoras do bolão global da safra. Nos últimos 10 dias, enviei um e-mail para produtores de vinho e organizações do setor nas principais regiões da França para saber das últimas novidades. Quanto mais ao norte, melhor parecem estar as uvas.
Como a colheita só terminará no próximo mês, todos estão de olho no céu -- e nos aplicativos de smartphone sobre o clima. A seguir, um panorama sobre algumas regiões da França:
Esta região fria do Nordeste teve uma de suas colheitas mais adiantadas da história e deve produzir vinhos excelentes. "Safras como esta podem ser contadas nos dedos de uma mão", diz Jean-Frédéric Hugel, da famosa vinícola Famille Hugel, onde a colheita começou em 5 de setembro. "Os vinhos serão encorpados, com muita concentração e os períodos de clima mais frio mantiveram uma acidez brilhante. E esta será uma safra generosa, com boa produção."
Nem todas as regiões de Bordeaux tiveram a mesma sorte neste ano. Gavin Quinney, do Château Bauduc, ressalta que uma das piores tempestades de granizo dos últimos tempos atingiu vinhedos no fim de maio e afetou Sauternes e partes de Graves no dia em que a França ganhou a Copa do Mundo. Para outros, um mês de junho quente e chuvoso estimulou a propagação de mofo, o que pode resultar em uma grave perda de uvas.
Ainda assim, a safra global na França está se recuperando 25 por cento em relação a 2017, de acordo com o Ministério da Agricultura francês. Para os consumidores de vinho, esta é uma notícia muito boa.
Para muitos produtores daqui, a colheita começou com três semanas de antecedência, graças ao clima maravilhoso durante a estação de crescimento, que impulsionou o amadurecimento. Colher cedo é uma bênção para os produtores de vinho que se preocupam com a inevitável chegada das chuvas. A maioria dos produtores de vinho está contente, especialmente em relação aos brancos, que, segundo Laurent Drouhin, da Joseph Drouhin, têm sabores florais e frutados. O verão extremamente quente e seco veio a calhar depois de uma primavera úmida que ameaçou criar mofo, e a chuva no fim de agosto manteve a acidez nas uvas.
O entusiasmo é grande e os produtores fizeram comentários como: "Talvez eu não veja outra safra assim na minha vida!" Pela quinta vez nos últimos 15 anos, a colheita começou em agosto e está quase concluída. O amadurecimento precoce também reflete como a mudança climática está alterando a estação de crescimento.