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Presidente 'mais pobre do mundo' inspira 'essência do luxo'

O artista Martín Sastre pretende criar um perfume exclusivo inspirado no presidente uruguaio, José Mujica


	O presidente uruguaio, José Mujica
 (Miguel Rojo/AFP)

O presidente uruguaio, José Mujica (Miguel Rojo/AFP)

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Da Redação

Publicado em 6 de maio de 2014 às 09h18.

Montevidéu - O uruguaio José Mujica, considerado por alguns 'o presidente mais pobre do mundo' por causa de sua austera forma de vida, é a inspiração de um perfume exclusivo que o artista Martín Sastre pretende criar com as flores que o líder cultiva e que guardam, assegura, 'a essência do autêntico luxo'.

Este atípico projeto - que como reconhece o artista uruguaio pegou de surpresa o presidente e seu entorno imediato, que ainda não deram o sinal verde para a iniciativa - faz parte da proposta que Sastre apresentou na primeira Bienal de Montevidéu.

Sastre, artista audiovisual e diretor de cinema nascido em Montevidéu em 1976 e que mora em Madri, disse em entrevista à Agência Efe que a ideia por trás do perfume é refletir sobre os conceitos de 'luxo' e 'essência', assim como reconhecer Mujica como 'ícone global por causa de sua filosofia de vida'.

A inspiração para o perfume surgiu por causa das informações da imprensa internacional que dão conta da humilde forma de vida do presidente de 77 anos.

Mujica, um ex-guerrilheiro tupamaro que passou 14 anos preso, a maioria durante a ditadura uruguaia (1973-1985) e alguns em condições difíceis, vive em uma pequena chácara nos arredores de Montevidéu junto com sua esposa, a senadora Lucía Topolansky. Ali cultiva flores e hortaliças que vende nos mercados locais.

Segundo sua última declaração jurada, de abril passado, seu patrimônio e o de sua esposa é de 4,2 milhões de pesos (cerca de US$ 212 mil) e inclui três terrenos, três tratores e dois carros de 1987.

O governante doa cerca de 90% de seu salário como presidente, de cerca de 12 mil pesos (US$ 9,3 mil), para a construção de casas sociais.

Quando não está realizando trabalhos oficiais, o chefe de Estado anda sem motorista em seu automóvel e faz suas próprias compras no bairro, ao mesmo tempo em que é comum vê-lo comendo em restaurantes populares com seus colaboradores no entorno da sede do Governo, no centro de Montevidéu.


'Se tenho poucas coisas, preciso de pouco para sustentá-las. Portanto, meu tempo de trabalho que dedico é o mínimo. E para que me resta tempo? Para gastá-lo nas coisas que eu gosto. Nesse momento acho que sou livre', disse recentemente em uma entrevista à 'BBC' na qual explicava o porquê de sua austeridade.

Sastre disse que considerado assim, um presidente como Mujica 'é um verdadeiro luxo' já que no fundo ele é o mais rico porque 'é o que mais compartilha'.

'O que é realmente o luxo? O que é realmente ser pobre? O presidente mais pobre é o mais rico. Porque não um perfume, símbolo do luxo, quando o que ele faz é cultivar flores? Além disso, perfume também remete à essência, entendida como o que é essencial', raciocinou Sastre.

A fragrância, batizada 'U from Uruguay', só conta por enquanto com um anúncio publicitário divulgado na Bienal, da qual participaram meia centena de artistas de 25 países.

O anúncio na televisão brinca com 'a linguagem do luxo e seus conceitos' para apresentar algo que tem 'um fim social'.

Fontes da Presidência consultadas pela Efe admitiram que Sastre entrou em contato e explicou a proposta, mas esclareceram que estão analisando o que fazer com ela.

Se o projeto for concretizado, a fragrância de 'Pepe' (como o presidente é popularmente conhecido) seria vendida através de fundações públicas para arrecadar dinheiro e criar um fundo de fomento da produção artística.

'O inovador da proposta é que toma a linguagem do capitalismo e do sistema, que não funciona, para transformá-la e fazer algo com um fim que é inquestionavelmente positivo', ponderou Sastre.

Consultado sobre como seria um perfume produzido com as flores do presidente, Sastre raciocinou que 'deveria ser algo fresco e que tenha muito a ver com a terra'.

O artista também reconheceu que existem dúvidas sobre se o próprio governante, reconhecido por seu desapego à moda e às convenções e que nunca usa gravata, usaria a fragrância.

'Há coisas mais importantes para criticar um presidente que se usa ou não usa perfume. Mujica e sua mulher são pessoas que calçam botas e trabalham no campo. E as pessoas decidiram que fossem o presidente e a senadora mais votada do país. Criticar isso seria criticar a grande maioria do povo que votou', concluiu Sastre. 

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