Roman Polanski: apesar dos protestos, a organização do César defendeu a indicação do cineasta (Charles Platiau/Reuters)
AFP
Publicado em 29 de janeiro de 2020 às 12h55.
Última atualização em 29 de janeiro de 2020 às 12h58.
O filme "J'accuse" ("J'accuse - O Oficial e o Espião"), de Roman Polanski, lidera as indicações ao prêmio César do cinema francês, o que provocou protestos de associações feministas, contrárias ao reconhecimento de um cineasta acusado de estupro.
O filme histórico sobre o julgamento do militar judeu Alfred Dreyfus, premiado com o Grande Prêmio do Júri no Festival de Veneza, recebeu 12 indicações, incluindo nas principais categorias de melhor filme e melhor direção.
Também supera "Os Miseráveis" - candidato ao Oscar de melhor filme estrangeiro - e "La belle époque", com 11 indicações cada.
Os prêmios César não devem "adotar posições morais", disse o presidente da Academia, Alain Terzian, anunciando as indicações nesta quarta-feira.
"A menos que eu esteja errado, 1,5 milhão de franceses foram assistir ao filme" de Polanski, acrescentou, destacando o sucesso de bilheteria de "J'accuse", título homônimo do famoso romance de Emile Zola.
A estreia do longa-metragem no final de 2019 na França foi marcada por pedidos de boicote depois que uma fotógrafa francesa, Valentine Monnier, garantiu à imprensa que Polanski a estuprou em 1975, aos 18 anos.
O diretor franco-polonês, de 86 anos, negou a acusação por meio de seu advogado.
Polanski é um fugitivo da justiça dos Estados Unidos, onde em 1977 foi acusado de estuprar uma menor de 13 anos.
Outras mulheres alegaram nos últimos anos terem sido vítimas de agressões sexuais pelo diretor de "O Pianista".
O anúncio das indicações para o César, cuja cerimônia será realizada no dia 28 de fevereiro no Pleyel Hall, em Paris, provocou uma onda de reações nas redes sociais.
"Doze indicações para o filme 'J'accuse'. 12 como o número de mulheres que o acusam de estupro! Que pena @LesCesar!", tuitou a associação Osez le feminisme.
"Nos encontraremos no Pleyel Hall, estaremos lá como na Cinemateca em 2017", quando houve protestos contra uma retrospectiva dedicada ao cineasta, acrescentou a organização.
Em 2017, Polanski acabou desistindo do convite para presidir a cerimônia de premiação do César, sob pressão dessas associações.
A polêmica em torno desse diretor remonta há muitos anos, enquanto o cinema francês quase não foi abalado pelo escândalo #MeToo.
No final de 2019, a primeira denúncia de uma atriz conhecida pareceu quebrar o silêncio sobre essa questão no cinema francês.
A atriz Adele Haenel, que está entrando no cenário internacional com o filme "Retrato de uma jovem em chamas", acusou o diretor Christophe Ruggia de assediá-la quando era adolescente. O diretor foi processado este mês por agressões sexuais.
Haenel está entre as indicadas a César como melhor atriz por este filme sobre um amor lésbico, em competição no ano passado no Festival de Cannes.