James Cameron e Linda Hamilton (Brenda Chase/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 24 de novembro de 2011 às 12h25.
São paulo - O cineasta James Cameron é um cara que deveria ser exemplo para todos nós. Está (quase) sempre na hora certa e no lugar certo. Cabelo grisalho cortado bem rente, a aparência é de geração saúde, mas não o suficiente para disfarçar seus 55 anos. Frequentador da Amazônia, onde vai para “pesquisar” material para as sequências milionárias da epopeia new age Avatar, ele gosta de repetir histórias e argumentos. Um deles: “A usina de Belo Monte é um projeto malfeito, que só vai trazer prejuízos à população local e à floresta”. Para os desavisados, passa por engenheiro florestal ou biólogo, tal a segurança com que combate o projeto da hidrelétrica, a ser implantada no alto Xingu, com inauguração prevista para 2015.
Ouvindo esse discurso, é difícil imaginar que ele, há alguns anos, passeava de moto pelas estradas da Califórnia com seu amigo Arnold Schwarzenegger, ex-governador daquele Estado, “fofocando a respeito da vidinha de Hollywood”, como o próprio definiu, tal como qualquer milionário com tempo de sobra, como contou a ALFA. Talvez sua maneira de pensar tenha mudado desde que deixou aflorar seu romantismo para fazer Titanic. Seja como for, a vocação ambientalista veio à tona quando realizou o filme de maior bilheteria da história, Avatar, obra-prima do pensamento politicamente correto, com mensagens a favor de uma antiquada tese pela internacionalização da Amazônia. “Avatar é um filme sobre uma floresta e seu povo”, diz. Para a produção das duas sequências da trilogia, ele promete levar o elenco inteiro “para aprender a vida na mata”.
Cameron faz eco às vozes estrangeiras que alçam o Brasil à condição de protagonista de uma nova era. “A Amazônia vive de seus fluxos d’água, que são como artérias. Quando interrompidos, podem provocar um colapso”, discursou no último Fórum Mundial de Sustentabilidade, no qual era possível encontrá-lo nos corredores do hotel de Manaus vestindo bermuda ou calça cargo, camiseta básica, garrafinha de água na mão e tênis de marca.
Belo Monte é mesmo um projeto polêmico. Permaneceu vinte anos em debate pelos corredores de Brasília antes de o governo resolver partir para a execução, modernizando alguns aspectos tecnológicos da construção. As correntes ambientalistas, em geral, são contra devido ao impacto que provocará no entorno, mas há também aqueles que enxergam vantagens no desenvolvimento da região, muito pobre e carente de oportunidades. As críticas incluem o fato de que a eletricidade produzida pelas turbinas serviria principalmente para a produção de lingotes de alumínio feitos com o minério extraído da área, considerada uma prática predatória dos recursos da floresta. Também se discute a capacidade de produção de energia, já que o fluxo do rio Xingu é sujeito à sazonalidade: quando está cheio, pode gerar muita energia, quando vazio, nem tanto. Muitos técnicos, políticos e especialistas brasileiros apoiaram ou questionaram Belo Monte. Opiniões pró e contra devem mesmo se confrontar e, principalmente, procurar a transparência.
A pergunta é: o que James Cameron tem a ver com isso?
Provavelmente preparado para esse questionamento, ele costuma citar o cacique Raoni Txucarramãe, que já declarou que “o governo não ouviu os índios, mas deu atenção aos que querem ganhar dinheiro”. A segunda pergunta é: por que Cameron não faz seus protestos nos EUA e na China, que produzem 40% de todo o gás carbônico emitido no planeta? Sua resposta vem ensaiada: “Antes de mais nada, eu defendo um tesouro do planeta que vem sendo ameaçado. Além disso, alguns amigos brasileiros me pediram essa ajuda”. Não se sabe quem pediu ajuda, nem mesmo se isso aconteceu, mas Cameron pretende dá-la, de qualquer maneira.