Como a maioria das histórias de ficção-científica mostra, viajar no tempo é uma coisa arriscada. Qualquer pisão em uma flor no passado pode criar furacões no futuro. Exterminador do Futuro: Gênesis, quinto filme da franquia, volta no tempo para apagar o terceiro e quarto filmes da série e marcar o pontapé inicial em um novo universo de histórias no cinema, mas acaba mesmo é bagunçando a cabeça do espectador.

Dirigido por Alan Taylor (de Thor: O Mundo Sombrio e seis episódios da primeira e segunda temporadas de Game of Thrones), Gênesis começa no futuro, com o soldado Kyle Reese (Jai Courtney) narrando a história do dia do julgamento final, quando o sistema de inteligência artificial da Skynet praticamente dizima a humanidade. A última esperança da civilização é a missão comandada por John Connor (Jason Clarke), líder da resistência e potencial salvador da espécie humana, para destruir o mainframe das máquinas.

Enquanto os humanos invadem a base da Skynet, os computadores mandam o T-800 original (um Arnold Schwarzenegger jovem e recriado por computação gráfica) de volta no tempo para matar Sarah Connor (Emilia Clarke), para que John nunca nasça e o futuro seja mudado. Kyle Reese se voluntaria para proteger a mãe do líder da resistência. 

A partir daí, Gênesis se conecta à história do primeiro Exterminador do Futuro de 1984, dirigido por James Cameron — as cenas chegam a ser recriadas tomada por tomada, fazendo dos primeiros minutos de Gênesis uma grande homenagem ao primeiro Exterminador do Futuro, que com estética de filme B e efeitos especiais rudimentares conseguiu se tornar um clássico da ficção-científica.

Mas quando 1984 surge no novo filme, Sarah Connor não é mais uma garçonete indefesa. Ela e um velho T-800, o Arnold Schwarzenegger dos dias atuais, estão esperando a chegada do modelo mais novo. Sim, Schwarzenegger luta contra sua versão 30 anos mais jovem, uma cena que o próprio trailer do filme estraga. Pode parecer ridículo, mas esse é só o começo das reviravoltas de tempo/espaço — e aperte os cintos, porque elas serão muitas.

Exterminador do Futuro: Gênesis tem boas cenas de ação na metade do filme, remetendo ao Exterminador de metal líquido vivido por Robert Patrick em Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final. Essa parte da história diverte, especialmente porque não obriga o espectador a quebrar a cabeça tentando entender em que tempo as coisas estão acontecendo.

Infelizmente, a história é tão preocupada com a renovação da série que aliena completamente quem nunca assistiu a um dos dois primeiros Exterminadores do Futuro. Esse espectador desavisado irá sofrer para entender o que diabos está acontecendo na tela. Gênesis se passa em pelo menos quatro períodos diferentes e duas linhas do tempo (a da série original e da nova narrativa).

Gênesis também tenta criar uma espécie de família disfuncional nas cenas na quais Reese e Papa brigam pela atenção de Sarah, gerando risadas na plateia. O senso de humor do filme é um corpo estranho, com algumas sequências quase pastelão e outras até engraçadas, mas totalmente fora de tom com o resto do filme. Uma certa cena com a música Bad Boys, da banda Inner Circle, é inexplicável.

Quem também está fora de tom é o protagonista Jai Courtney, menos carismático do que um robô desligado. J.K. Simmons entra e sai de cena despercebido. Emilia Clarke, pelo contrário, convence como Sarah Connor e em alguns momentos é assustadoramente parecida com Linda Hamilton, a intérprete original da personagem. Mas a estrela da companhia é Arnold Schwarzenegger, que ganha todas as cenas na qual aparece com sua simpatia que nenhuma viagem no tempo consegue apagar.

“Velho, mas não obsoleto”, é a frase recorrente que o T-800 de Schwarzenegger diz sobre si mesmo algumas vezes durante o filme. Vale para o robô, mas não para seu filme. A atualização de O Exterminador do Futuro não passa de um beta mal feito.