Iraniana Rakhshan Bani-Etemad no Festival de Veneza em foto de 28 de agosto (Tony Gentile/Reuters)
Da Redação
Publicado em 5 de setembro de 2014 às 17h23.
Veneza - Dois anos atrás, a cineasta iraniana Rakhshan Bani-Etemad sabia não ter chance de exibir sua produção a respeito dos males do desemprego, das drogas e do espancamento de esposas no Irã, por isso fez uma série de filmes de curta-metragem.
O fato de que agora ela os juntou em um longa metragem e concorre ao prêmio principal no Festival de Cinema de Veneza mostra que a nova liderança de seu país tem uma visão mais abrangente, diz ela.
“É verdade que as questões com as quais estamos lidando são iranianas, mas também são globais", afirmou ela à Reuters em uma entrevista em Veneza, onde seu filme recebeu excelentes críticas.
No momento em que o Oriente Médio encabeça a lista de locais problemáticos do mundo, Bani-Etemad espera que uma circulação maior de seu "Ghesseha" (Contos) ajude as pessoas dentro e fora da região a se entenderem melhor.
“O filme se passa no Irã, foi feito no Irã, os personagens são iranianos. Mas estes são problemas que existem ao redor de todo o mundo, e os vejo em minha sociedade”.
O quadro que ela pinta da vida na capital, Teerã, é tudo menos lisonjeiro. Usando o recurso de um documentarista que visita a cidade para gravar vinhetas sobre a vida cotidiana, ela mostra cenas como um abrigo de esposas espancadas onde um marido drogado, que desfigurou a esposa atirando água fervente em seu rosto, implora pelo seu retorno.
Em outro local, um funcionário público se mostra indiferente ao apelo de um ex-colega idoso pelo reembolso de despesas médicas pesadas por estar mais interessado em atender uma ligação de sua amante.
A figura que unifica os relatos é Abbas, interpretado por Mohammadreza Forootan, que dirige um táxi porque suas visões políticas causaram sua expulsão da universidade.
Por se recusar a fazer as concessões necessárias para liberar o filme durante o governo linha-dura do ex-presidente Mahmoud Ahmadinejad, ela escolheu fazer os curtas, que pôde transformar em um longa após a eleição do novo mandatário, Hassan Rouhani, no ano passado.
“O filme recebeu uma licença de exibição no Irã, e torço para que entre em cartaz nos próximos meses”, afirmou Bani-Etemad. “Dadas as mudanças que ocorreram no país, esta foi uma temporada crucial, e a razão de eu conseguir a permissão de exibir o filme”.