O escritor chinês Mo Yan: Mo optou pelo silêncio nestes dias que antecedeu a definição do prêmio e deverá permanecer assim (Johannes Kolfhaus, Gymn. Marienthal/ Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 11 de outubro de 2012 às 10h34.
Pequim - Vencedor do prêmio Nobel de Literatura 2012, o escritor chinês Mo Yan, que, na verdade, se chama Guan Moye, passou a usar seu pseudônimo ("Não Fale", em mandarim) a partir da publicação de seu primeiro livro.
Mo, que se fez adulto durante a revolução cultural chinesa, quando o afã intelectual se transformou em algo suspeito, explica que escolheu seu pseudônimo porque tinha fama de ser muito direto ao falar e, ao adotar essa nova identidade, poderia se lembrar facilmente que não devia falar demais.
Outros escritores, como o também chinês Ma Jian, criticam Mo precisamente por não ter defendido outros autores e intelectuais que se viram perseguidos durante a revolução cultural chinesa.
Mas, por outro lado, Mo possui uma enorme fama em seu país, além de ser um dos autores chineses mais conhecidos e traduzidos. No entanto, mesmo com todo reconhecimento dentro de seu país, o escritor também já foi vítima de censura algumas ocasiões.
Por causa de seu romance "Fengru Feitun" ("Peitos grandes e Quadris Largos", em livre tradução), que foi lançado em 1995 e causou uma grande polêmica na China por seu conteúdo sexual, o Exército chinês obrigou o escritor a fazer uma autocrítica, enquanto o livro foi retirado de circulação.
Apesar da rigidez do regime chinês, o novo prêmio Nobel assegura que não se preocupa com a censura quando decide os argumentos de suas obras. "Restrições aos escritores sempre existem em cada país", declarou Mo à revista "Time" em 2010, antes de ter ressaltado que esses limites poderiam representar uma vantagem, já que força o autor a "fugir da estética literária".
Em seu caso, Mo opta por recriar um mundo rural - o de Gaomi, cidade situada na província de Shangdong -, ancorado no tempo e com toques de realismo mágico que popularizou Gabriel García Márquez, de humanismo de William Faulkner e de sátira de Lu Xun (o pai da literatura moderna chinesa), algumas de suas principais influências.
Versátil e prolífico - escreveu "Shengsi Pilao" ("A Vida e a Morte Estão Me Desgastando", em livre tradução) em apenas 43 dias -, a obra de Mo se estende desde o romance histórico "Red Sorghum: a Novel of China" (que inspirou o filme "Sorgo Vermelho") à sátira de "Fengru Feitun" ("Peitos grandes e Quadris Largos", em livre tradução).
Nascido em 1955 em uma família de granjeiros, o Nobel de Literatura 2012 abandonou os estudos na quinta série devido à Revolução Cultural. Após trabalhar no campo e em uma fábrica durante seus anos de adolescência e juventude, Mo entrou para o Exército chinês em 1976. Em 1981, ele começou a escrever contos e, em 1984, se matriculou na Academia de Arte do Exército.
Em 1987, um ano depois de ser formar, publicou o "Red Sorghum: a Novel of China" ("Hong gaoliang jiazu", no original), livro que lhe lançou à fama. Dois anos mais tarde viria "Tiantang Suantai Zhi Ge" ("As Baladas do Alho", em livre tradução).
O livro que ele considera sua obra de maior destaque, "Fengru Feitun" ("Peitos grandes e Quadris Largos", em livre tradução), foi lançado em 1995.
Depois de ter abandonado as Forças Armadas, Mo começou a trabalhar como editor de jornal, embora continuasse escrevendo seus livros, como "Tanxiangxing" ("A Tortura do Sândalo", em livre tradução), de 2001, e "Wa" ("Rã", em livre traduçlão), de 2009.
Nos últimos dias, a imprensa chinesa passou a abordar a possibilidade de Mo ganhar o prêmio, o primeiro Nobel entregue a um escritor chinês radicado no país, já que Gao Xijian, premiado em 2000, residia na França e tinha nacionalidade francesa.
Seguidor do conselho que deu a si mesmo ao escolher seu pseudônimo, Mo optou pelo silêncio nestes dias que antecedeu a definição do prêmio e deverá permanecer assim.
Em algumas ocasiões anteriores, o escritor chinês já tinha advertido que não diria nada em uma situação como esta. "Uma vez que dissesse algo, eles me atacariam, como muitos já criticaram os escritores chineses pela ansiedade em torno do Nobel", declarou Mo.