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Livro do Boni mostra um intolerante adorável

Autobiografia conta a história do homem que, por mais de 30 anos, foi o mais poderoso da Rede Globo

Os capítulos mais bombásticos do Livro de Boni, lançado pela editora Casa da Palavra, vão ficar para o volume 2 (Divulgação)

Os capítulos mais bombásticos do Livro de Boni, lançado pela editora Casa da Palavra, vão ficar para o volume 2 (Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 16 de janeiro de 2012 às 10h49.

São Paulo - José Bonifácio de Oliveira Sobrinho está lançando O Livro do Boni. Como ele bem avisa, logo de início, trata-se de uma “coletânea de episódios”, principalmente de sua vida profissional. As páginas contam desde como Roberto Carlos foi escalado para os especiais de Natal da Globo, até agruras das primeiras transmissões de Carnaval, passando de leve por episódios controversos, como a cobertura das Diretas.

Nada de revelações bombásticas do homem forte da TV Globo? Sem segredos de bastidor da Vênus Platinada? Não. Porque ele não quer se indispor com ninguém e pretende trabalhar e viver – duas tarefas que pratica com maestria – ainda por muito tempo. Até o final dos anos 1990, Boni tinha poder na Rede Globo para decidir sobre tudo: de investimentos a programação, respondendo apenas ao dono, Roberto Marinho. Nos 31 anos em que ficou na empresa, ela se transformou na primeira emissora da América Latina e quarta do mundo. Após sua saída, em 1998, Boni ainda recebeu por quatro anos para atuar como consultor particular de Roberto Irineu Marinho, vice-presidente executivo e filho de Roberto, que assumiu as operações e com quem Boni se desentendeu. Mas nunca foi consultado para nada.

“Escrevi o livro coagido, aquele negócio: ou dá ou desce. Não queria porque sentia psicologicamente como se estivesse terminando minha carreira, quando na verdade estou no meio do meu trabalho”, diz. Aos 76 anos, ele só decidiu quando o amigo Ricardo Amaral, empresário da noite, falou: “Escreve esse e depois faz como no cinema americano: Duro de Matar 1, 2. Livro do Boni 1, 2, 3…”.

Convencido a deitar os tais episódios no papel, Boni abraçou a empreitada com a intensidade que aplica a todos os seus projetos. “Fiz o livro em quatro meses. Sozinho. Mesmo sem qualidade literária, queria que fosse a expressão de meus pensamentos. O Jô levou cinco anos escrevendo o dele. Com auxílio”, cutuca. Boni funciona assim: bota prazo e resolve. Até com doença. Quando seu câncer de próstata voltou, em agosto, o médico lhe prescreveu 38 semanas de radioterapia, com intervalos entre elas, por ser um tratamento cansativo. Ele aplicou seu jeito. “Falei: vamos direto. Se tiver horário no sábado e domingo, eu quero! E pronto, já me livrei do câncer. Só não consegui botar prazo até hoje para emagrecer”, confessa.


Esse seu modo imperativo, expedito, é conhecido e assumido. “Sofro de ansiedade, sou intolerante com tudo. Quem quer ser eficiente não pode tolerar o erro”, diz. Gourmet, Boni prepara jantares nos quais controla obsessivamente cada detalhe. Decide o cardápio, desenha o que vai servir indicando onde deve ser disposto cada acompanhamento, escolhe a louça, imprime o menu, faz a harmonização com os vinhos e serve na ordem, com intervalo ideal entre um prato e outro, vinho perfeito, na temperatura exata. “E se algo não der certo?”, pergunto. “Isso nunca aconteceu. Mas se não der certo eu quebro a cozinha!”, responde rindo.

Uma história ouvida em família por uma das netas de Tom Jobim, um de seus grandes amigos, diz que certa tarde, nos corredores da Globo, Boni encanou com uma pessoa. “Quem é esse cara? Demite esse cara!”, teria dito. Avisado de que a figura em questão não era funcionário, mandou: “Então contrata esse cara. E depois demite!” Tamanha irascibilidade, porém, parece não combinar com a figura amável, educada, que me recebeu em sua casa.

O elevador parou no último andar de um edifício em São Conrado, em frente a uma porta de madeira da largura de um homem deitado, ladeada por duas faixas de vidro. Quando o portão se abriu, a sensação era a de debruçar-se sobre o mar. Boni vive entre o oceano e a pedra Bonita. Está rodeado de belezas naturais, por fora. E de obras de arte, dentro. No andar superior, passando por uma obra de Frans Krajcberg, chega-se a uma ampla sala com um piano. “Você toca?”, pergunto. “Não, esse aqui é do Tom Jobim, Sergio Mendes…”.

Boni cultiva as boas coisas da vida: música, comida, vinhos, amigos. É dono de uma das maiores adegas do Brasil (em parte herança de um avô que resolveu importar vinhos quando ninguém aqui apreciava a bebida). Passa quatro meses do ano viajando, tendo como base Nova York, de onde traz ideias. Uma delas deve entrar em vigor em breve. Boni ingressou no ramo da telefonia. Ou melhor, seu primo Roberto Buzzoni e seus filhos ingressaram, já que a empresa pertence a eles. Mas, por contrato, é Boni quem manda. Eles são também donos da TV Vanguarda, com duas geradoras, em Taubaté e São José dos Campos (SP), que retransmitem programação da Globo.

“Meu jornal dá mais audiência que o Jornal Nacional. O primeiro lugar na região é a novela das 21hs, o segundo é o jornal local. Em São José dos Campos, 58% da população assiste à TV Vanguarda”, diz, orgulhoso. E Boni pretende crescer, se a Globo deixar. Para tanto, vem conversando, carinhosamente. “Sou bom operador, bom afiliado, vamos ver o que consigo.” As relações com Roberto Irineu estão mais assentadas. “Eu o quero bem. Entendo que tenha decidido levar a empresa para outro rumo. Só acho que eu poderia ter continuado a dar uma contribuição, mesmo com as mudanças, se tivesse havido mais transparência na minha saída”, diz. Agora, vamos ter de aguardar O Livro do Boni 2.

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