Livro conta 5 anos de experiência com moradores de rua
Pesquisadora da Faculdade de Saúde Pública da USP convive com moradores de rua por cinco anos para estudar processos de interação capazes de estimular resiliência
Da Redação
Publicado em 27 de abril de 2012 às 09h26.
São Paulo - Durante cinco anos, a psicóloga Aparecida Magali de Souza Alvarez acompanhou de perto um grupo de moradores de rua da cidade de São Paulo e as pessoas que os auxiliavam. O estudo, realizado com uma abordagem multidisciplinar, tinha o objetivo de compreender os processos de interação que permitem a transformação humana em um cenário social marcado por preconceito, violência e desprezo.
A pesquisa – que foi a base da tese de doutorado de Alvarez, realizada com Bolsa da Fapesp e defendida em 2003 na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo ( USP ), – teve agora seus resultados descritos no livro Transformações humanas: Encontros, Amor Ágape e Resiliência.
O processo investigativo utilizado na pesquisa contou com técnicas que incluíam observação, entrevistas, fotos, gravações e, principalmente, interação. De acordo com Alvarez, o trabalho não foi realizado nos moldes da ciência tradicional, em que o pesquisador não se envolve com o objeto de estudo.
“Para entender as relações de transformação que ocorriam ali, não podia me ater apenas a questionários, era preciso entrar em um processo mais profundo de interação. Apesar de ter trabalhado com os índices e estatísticas amplamente utilizados no âmbito da saúde pública, o estudo se concentrou nas histórias de vida reais. O livro reflete minha própria vivência na interação intensa com os moradores de rua”, disse Alvarez.
As histórias de vida e a relação construída pela pesquisadora com os moradores de rua foram analisadas a partir de conceitos desenvolvidos por diversos autores. Alguns desses conceitos, como o de “resiliência”, foram centrais para a definição do referencial teórico, segundo ela. “A resiliência é a capacidade de fazer frente às adversidades da vida, superá-las e sair fortalecidos ou transformados delas”, explicou.
Alvarez já vinha estudando o conceito de resiliência desde 1993, quando atuava no Centro de Estudos do Crescimento e Desenvolvimento do Ser Humano (CDH) da FSP-USP e teve os primeiros contatos com moradores de rua. Em 1999 iniciou seu mestrado – também com Bolsa da Fapesp – sobre a resiliência no contexto dessa população.
A opção metodológica de privilegiar a vivência e a interação como estratégias de investigação se explica, segundo Alvarez, pela característica da população estudada. Segundo ela, o morador de rua é uma incógnita para a sociedade, que não conhece suas histórias de vida.
“Mesmo para quem tem interesse, em estabelecer contato com essas pessoas não é algo trivial. São pessoas que sofreram e não confiam mais no mundo. Quando procuramos contato, eles se fecham, em uma tentativa de preservar a dignidade que lhes resta. O estudo mostra que é possível restabelecer a esperança dessas pessoas e ajudá-las a recomeçar, a partir de um tipo especial de interação, que chamei de ‘encontros transformadores’”, afirmou.
O pressuposto da tese, segundo Alvarez, é que apenas os encontros transformadores são capazes de possibilitar a resiliência dos moradores de rua. Dentro do tecido teórico e conceitual desenvolvido pela autora, esse tipo de encontro diferenciado apresenta características do chamado amor ágape.
“O ágape é o amor que aceita o outro de maneira plena, não se importando com quem ele é ou com o que já fez. É uma forma de aceitar o próximo simplesmente por ser humano. O ágape tem a capacidade de perdoar e de se doar de forma desinteressada, sem esperar nada em troca. Os encontros transformadores têm em seu cerne a característica de uma ação em ágape”, explicou.
Alvarez conta que, em sua vivência entre os moradores de rua, percebia que essa relação de amor estava presente nos encontros que causavam transformação humana.
Em um pós-doutorado na França, financiado pela Fapesp, Alvarez desenvolveu o instrumento metodológico operacional para promover a transformação humana que foi observada em seu trabalho de pesquisa. “Observei o fenômeno de transformação das pessoas e pensei em uma estratégia capaz de desenvolver esse tipo de ação em uma situação estruturada”, disse.
Transformações humanas: encontros, amor ágape e resiliência
Autor: Aparecida Magali de Souza Alvarez
Lançamento: 2011
Preço: R$ 50
Páginas: 300
Mais informações: www.edusp.com.br
São Paulo - Durante cinco anos, a psicóloga Aparecida Magali de Souza Alvarez acompanhou de perto um grupo de moradores de rua da cidade de São Paulo e as pessoas que os auxiliavam. O estudo, realizado com uma abordagem multidisciplinar, tinha o objetivo de compreender os processos de interação que permitem a transformação humana em um cenário social marcado por preconceito, violência e desprezo.
A pesquisa – que foi a base da tese de doutorado de Alvarez, realizada com Bolsa da Fapesp e defendida em 2003 na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo ( USP ), – teve agora seus resultados descritos no livro Transformações humanas: Encontros, Amor Ágape e Resiliência.
O processo investigativo utilizado na pesquisa contou com técnicas que incluíam observação, entrevistas, fotos, gravações e, principalmente, interação. De acordo com Alvarez, o trabalho não foi realizado nos moldes da ciência tradicional, em que o pesquisador não se envolve com o objeto de estudo.
“Para entender as relações de transformação que ocorriam ali, não podia me ater apenas a questionários, era preciso entrar em um processo mais profundo de interação. Apesar de ter trabalhado com os índices e estatísticas amplamente utilizados no âmbito da saúde pública, o estudo se concentrou nas histórias de vida reais. O livro reflete minha própria vivência na interação intensa com os moradores de rua”, disse Alvarez.
As histórias de vida e a relação construída pela pesquisadora com os moradores de rua foram analisadas a partir de conceitos desenvolvidos por diversos autores. Alguns desses conceitos, como o de “resiliência”, foram centrais para a definição do referencial teórico, segundo ela. “A resiliência é a capacidade de fazer frente às adversidades da vida, superá-las e sair fortalecidos ou transformados delas”, explicou.
Alvarez já vinha estudando o conceito de resiliência desde 1993, quando atuava no Centro de Estudos do Crescimento e Desenvolvimento do Ser Humano (CDH) da FSP-USP e teve os primeiros contatos com moradores de rua. Em 1999 iniciou seu mestrado – também com Bolsa da Fapesp – sobre a resiliência no contexto dessa população.
A opção metodológica de privilegiar a vivência e a interação como estratégias de investigação se explica, segundo Alvarez, pela característica da população estudada. Segundo ela, o morador de rua é uma incógnita para a sociedade, que não conhece suas histórias de vida.
“Mesmo para quem tem interesse, em estabelecer contato com essas pessoas não é algo trivial. São pessoas que sofreram e não confiam mais no mundo. Quando procuramos contato, eles se fecham, em uma tentativa de preservar a dignidade que lhes resta. O estudo mostra que é possível restabelecer a esperança dessas pessoas e ajudá-las a recomeçar, a partir de um tipo especial de interação, que chamei de ‘encontros transformadores’”, afirmou.
O pressuposto da tese, segundo Alvarez, é que apenas os encontros transformadores são capazes de possibilitar a resiliência dos moradores de rua. Dentro do tecido teórico e conceitual desenvolvido pela autora, esse tipo de encontro diferenciado apresenta características do chamado amor ágape.
“O ágape é o amor que aceita o outro de maneira plena, não se importando com quem ele é ou com o que já fez. É uma forma de aceitar o próximo simplesmente por ser humano. O ágape tem a capacidade de perdoar e de se doar de forma desinteressada, sem esperar nada em troca. Os encontros transformadores têm em seu cerne a característica de uma ação em ágape”, explicou.
Alvarez conta que, em sua vivência entre os moradores de rua, percebia que essa relação de amor estava presente nos encontros que causavam transformação humana.
Em um pós-doutorado na França, financiado pela Fapesp, Alvarez desenvolveu o instrumento metodológico operacional para promover a transformação humana que foi observada em seu trabalho de pesquisa. “Observei o fenômeno de transformação das pessoas e pensei em uma estratégia capaz de desenvolver esse tipo de ação em uma situação estruturada”, disse.
Transformações humanas: encontros, amor ágape e resiliência
Autor: Aparecida Magali de Souza Alvarez
Lançamento: 2011
Preço: R$ 50
Páginas: 300
Mais informações: www.edusp.com.br