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García Márquez, o fiel amigo de Cuba

Como sua natal Colômbia ou seu adotivo México, Cuba se transformou em um dos portos da vida do romancista


	Gabriel García Márquez: sua relação com Fidel Castro ultrapassou camaradagem de contemporâneos ilustres e se transformou em amizade à prova de balas
 (Wikimedia Commons)

Gabriel García Márquez: sua relação com Fidel Castro ultrapassou camaradagem de contemporâneos ilustres e se transformou em amizade à prova de balas (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 17 de abril de 2014 às 20h16.

Havana - A amizade pessoal entre Gabriel García Márquez e o líder cubano Fidel Castro e a fidelidade e simpatia que o escritor nutria pela ilha e sua revolução transcenderam as críticas, as mudanças políticas e o simples passar do tempo, com um vínculo que se manteve por mais de cinco décadas.

Como sua natal Colômbia ou seu adotivo México, Cuba se transformou em um dos portos da vida do romancista, onde viveu, trabalhou e podia ser encontrado em uma apresentação, dando aulas de roteiro cinematográfico ou percorrendo uma plantação de tabaco.

"Não é que eu viva em Cuba, é que viajo tanto para cá que parece que estou permanentemente", afirmou em 2007 o Nobel colombiano.

Segundo confessou em um de seus textos jornalísticos, García Márquez nunca teve a curiosidade de conhecer Cuba antes do triunfo da revolução em 1959, quando viajou à ilha pela primeira vez como jornalista e conheceu pessoalmente Fidel Castro.

Sua relação ultrapassou a camaradagem de contemporâneos ilustres e se transformou em uma amizade à prova de balas, sobretudo por parte do escritor, a quem setores intelectuais e políticos censuraram por sua atitude pró-Castro até nos momentos iniciais do regime cubano.

"Gabo" evidenciou sua admiração e respeito por Fidel em entrevistas, artigos e semelhanças nos quais louvou seu "inteligência política", seu "instinto" e sua "curiosidade infinita", ao tempo que o acompanhava em discursos, festas e eventos.

No começo dos anos 70, a detenção do poeta e diplomata cubano Heberto Padilla, que foi obrigado a se retratar publicamente de suas críticas ao regime, criou um cisma entre muitos intelectuais e em seus vínculos com a revolução.

O chamado "caso Padilla" representou para Cuba o afastamento e a inimizade de escritores como o peruano Mario Vargas Llosa, mas García Márquez se manteve ao lado da ilha, e alguns opinam que esse foi o momento crucial em sua relação com Fidel Castro.


O próprio Fidel apreciou o valor de sua amizade quando, em 2008, em plena convalescença, qualificou uma visita de García Márquez e sua esposa Mercedes Barcha como as "horas mais agradáveis" desde que adoeceu em 2006 e teve que delegar todos seus cargos.

Uma década antes, em 1998, o escritor colombiano o acompanhou na histórica missa que o papa João Paulo II oficiou na Praça da Revolução de Havana.

Em 1996, o líder cubano decidiu retornar, após 15 anos de ausência, à casa onde nasceu na cidade de Birán, no leste da ilha, e incluiu Gabo e sua mulher na comitiva de convidados.

Quando Cuba celebrou os 80 anos de Fidel Castro, em 2006, García Márquez viajou a Havana e inclusive acompanhou o então presidente interino, Raúl Castro, na inauguração de um mural dedicado a seu irmão no Museu Nacional de Belas Artes.

"Depois virei a seu centenário", disse o escritor naquela ocasião, quando o estado de saúde do líder cubano ainda era uma incógnita.

Essa leal intimidade com o governo cubano o pôs no centro de polêmicas e acusações: o ex-presidente da Argentina Carlos Menem o mandou "viver em Cuba" se não gostava que criticassem seu regime; a escritora americana Susan Sonntag lamentou sua "passividade" perante a situação dos Direitos Humanos na ilha e Vargas Llosa o chamou de "cortesão de Castro".

Outros colegas, como o escritor peruano Alfredo Bryce Echenique, destacaram, por outro lado, seu papel de intermediário para "salvar" dissidentes e intelectuais em Cuba.

O jornalista e romancista cubano Norberto Fuentes, exilado nos Estados Unidos e antigo amigo e colaborador de Fidel Castro, rotulou Gabo como "milagroso" ao sair da ilha em 1994 graças a sua mediação.


Após a onda repressiva contra dissidentes em Cuba conhecida como a "Primavera Negra" de 2003 e a reação internacional que provocou, o próprio García Márquez ressaltou sua oposição total à pena de morte e disse que tinha ajudado a libertar vários presos políticos cubanos.

O certo é que, na ilha, García Márquez realizou algumas "incursões" políticas. Quando Cuba e Colômbia restabeleceram relações diplomáticas em 2004, Bogotá chegou a qualificá-lo como seu "embaixador sem título".

Em 2005, Fidel Castro revelou que o escritor foi portador em 1997 de uma mensagem sua para o então presidente dos EUA, Bill Clinton, na qual alertava sobre atos terroristas contra Cuba.

Além disso, Gabo participou de conversas em Havana com delegados do governo colombiano e do Exército de Libertação Nacional (ELN) no marco de um diálogo para abrir um processo de paz em seu país.

Mas talvez sua "missão" mais importante em Cuba esteve relacionada com o cinema, sua grande paixão junto com a literatura e o jornalismo. Ele foi fundador na ilha do Festival Internacional do Novo Cinema Latino-americano, da Escola Internacional de Cinema e Televisão (EICTV) e da Fundação do Novo Cinema Latino-americano (FNCL), que presidia.

Sua última aparição pública em Cuba foi em dezembro de 2010, quando assistiu ao 32º Festival de Cinema de Havana, onde sua presença era tradição.

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