Flip debate legalização das drogas
O britânico Ioan Grillo e o mexicano Diego Enrique Osorno foram unânimes ao dizer que a guerra ao tráfico é um modelo esgotado
Da Redação
Publicado em 5 de julho de 2015 às 11h16.
Paraty - Política, extremismos e tráfico internacional de drogas foram algumas das questões de destaque no penúltimo dia da Festa Literária Internacional de Paraty, que começou com um impasse: quem substituiria o italiano Roberto Saviano.
Pela quantidade de perguntas que a mediadora Paula Miraglia recebeu, o público parece ter gostado da solução da curadoria, que escalou dois jornalistas que vivem no México e acompanham a questão das drogas em toda a América Latina.
E o britânico Ioan Grillo e o mexicano Diego Enrique Osorno foram unânimes ao dizer que a guerra ao tráfico, como se tenta fazer há quatro décadas, é um modelo esgotado.
Para eles, a solução é atacar economicamente os cartéis, ou seja, legalizando as drogas. Tratar o assunto como uma questão política e de saúde pública, e não de polícia, também ajudaria, disseram.
Mas, antes de o debate chegar a esse ponto, Osorno falou sobre Saviano, que minutos antes havia aparecido em vídeo, que a organização não teve tempo de legendar em sua totalidade.
Foi exibido, assim, um pequeno trecho em que ele dizia sentir "muitíssimo" por não estar em Paraty , além de comentar as dificuldades que envolvem seus deslocamentos - ameaçado de morte pela máfia italiana, ele vive sob proteção policial - e a realidade da segurança do Brasil.
Quem estiver na última mesa do festival, neste domingo (5), às 16 horas, poderá ver a versão completa.
"O que Saviano conseguiu é o que estamos tentando fazer: encontrar essas sombras escuras da sociedade, entendê-las e ter a coragem de denunciar esses acontecimentos", disse Osorno.
Para ele, Saviano, autor de Gomorra, sobre a camorra, e Zero Zero Zero, sobre o tráfico internacional de cocaína, usa a literatura a favor da denúncia e é um grande escritor.
Os dois convidados não evitaram descrições acerca do horror que acompanham: corpos empilhados, cabeças enfileiradas, cidades massacradas, estudantes assassinados.
Osorno comentou que a imprensa local divulgava, todas as manhãs, um "executômetro", chamou a situação de "pornografia do terror" e disse que as pessoas estão se tornando insensíveis a esse tipo de crime. Já Grillo contou que entrevistou alguns traficantes, que não pareciam mentalmente instáveis.
"Eles se veem, em sua mente distorcida, como soldados. E isso também acontece aqui, no Comando Vermelho. E, quando começam a se ver como soldados e a decisão de matar vem de ordem superior, a responsabilidade é deles. Eles se tornam máquinas de matar. Mas não podemos chamá-los de indivíduos loucos porque soldados, em guerra, cometem atrocidades."
Grillo, ao falar sobre sua ideia de descriminalização, perguntou quem da plateia concordava com a legalização da maconha. A maioria levantou a mão.
Depois, perguntou sobre a cocaína. O movimento foi lento, inseguro, mas muitos concordaram. Em entrevista ao Caderno 2, publicada na sexta, ele disse que outro ponto a ser discutido é o tratamento adequado aos usuários.
Os dois jornalistas conhecem a realidade brasileira, e apesar dos pesares, Grillo voltou afirmar que os traficantes daqui são menos sociopatas que os mexicanos.
Ele prepara, para janeiro, livro sobre quatro facções criminosas latinas, e uma delas é o Comando Vermelho. Eles também comentaram sobre a posição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso - Osorno chegou a se encontrar com ele, além de políticos e empresários, há dois anos, em São Paulo. Foi quando FHC causou polêmica ao falar abertamente sobre a descriminalização.
Mais cedo, a América Latina também esteve em pauta na mesa que reuniu a crítica literária argentina Beatriz Sarlo e a jornalista portuguesa Alexandra Lucas Coelho.
"O que me dói é a corrupção que existe no Brasil", disse Sarlo. "A diferença fundamental entre aqui e o meu país é que aqui prenderam José Dirceu; no meu país, ninguém foi preso, o vice-presidente continua sendo vice-presidente", completou.
Crítica dos governos Kirchner e estudiosa das esquerdas latinas, ela se mostrou otimista com relação à Justiça brasileira. "Há resoluções da Justiça que foram acatadas, e essa é a única maneira de enfrentar a corrupção", afirmou.
Entre esses dois debates, os cartunistas Plantu, do Le Monde, Riad Sattouf, ex-Charlie, e o brasileiro Rafa Campos falaram sobre os limites do humor, sobre o ataque à publicação satírica francesa por grupos extremistas, e sobre a associação Cartoonists for Peace. Para Plantu, não é preciso humilhar ninguém para fazer humor com política e religião.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Paraty - Política, extremismos e tráfico internacional de drogas foram algumas das questões de destaque no penúltimo dia da Festa Literária Internacional de Paraty, que começou com um impasse: quem substituiria o italiano Roberto Saviano.
Pela quantidade de perguntas que a mediadora Paula Miraglia recebeu, o público parece ter gostado da solução da curadoria, que escalou dois jornalistas que vivem no México e acompanham a questão das drogas em toda a América Latina.
E o britânico Ioan Grillo e o mexicano Diego Enrique Osorno foram unânimes ao dizer que a guerra ao tráfico, como se tenta fazer há quatro décadas, é um modelo esgotado.
Para eles, a solução é atacar economicamente os cartéis, ou seja, legalizando as drogas. Tratar o assunto como uma questão política e de saúde pública, e não de polícia, também ajudaria, disseram.
Mas, antes de o debate chegar a esse ponto, Osorno falou sobre Saviano, que minutos antes havia aparecido em vídeo, que a organização não teve tempo de legendar em sua totalidade.
Foi exibido, assim, um pequeno trecho em que ele dizia sentir "muitíssimo" por não estar em Paraty , além de comentar as dificuldades que envolvem seus deslocamentos - ameaçado de morte pela máfia italiana, ele vive sob proteção policial - e a realidade da segurança do Brasil.
Quem estiver na última mesa do festival, neste domingo (5), às 16 horas, poderá ver a versão completa.
"O que Saviano conseguiu é o que estamos tentando fazer: encontrar essas sombras escuras da sociedade, entendê-las e ter a coragem de denunciar esses acontecimentos", disse Osorno.
Para ele, Saviano, autor de Gomorra, sobre a camorra, e Zero Zero Zero, sobre o tráfico internacional de cocaína, usa a literatura a favor da denúncia e é um grande escritor.
Os dois convidados não evitaram descrições acerca do horror que acompanham: corpos empilhados, cabeças enfileiradas, cidades massacradas, estudantes assassinados.
Osorno comentou que a imprensa local divulgava, todas as manhãs, um "executômetro", chamou a situação de "pornografia do terror" e disse que as pessoas estão se tornando insensíveis a esse tipo de crime. Já Grillo contou que entrevistou alguns traficantes, que não pareciam mentalmente instáveis.
"Eles se veem, em sua mente distorcida, como soldados. E isso também acontece aqui, no Comando Vermelho. E, quando começam a se ver como soldados e a decisão de matar vem de ordem superior, a responsabilidade é deles. Eles se tornam máquinas de matar. Mas não podemos chamá-los de indivíduos loucos porque soldados, em guerra, cometem atrocidades."
Grillo, ao falar sobre sua ideia de descriminalização, perguntou quem da plateia concordava com a legalização da maconha. A maioria levantou a mão.
Depois, perguntou sobre a cocaína. O movimento foi lento, inseguro, mas muitos concordaram. Em entrevista ao Caderno 2, publicada na sexta, ele disse que outro ponto a ser discutido é o tratamento adequado aos usuários.
Os dois jornalistas conhecem a realidade brasileira, e apesar dos pesares, Grillo voltou afirmar que os traficantes daqui são menos sociopatas que os mexicanos.
Ele prepara, para janeiro, livro sobre quatro facções criminosas latinas, e uma delas é o Comando Vermelho. Eles também comentaram sobre a posição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso - Osorno chegou a se encontrar com ele, além de políticos e empresários, há dois anos, em São Paulo. Foi quando FHC causou polêmica ao falar abertamente sobre a descriminalização.
Mais cedo, a América Latina também esteve em pauta na mesa que reuniu a crítica literária argentina Beatriz Sarlo e a jornalista portuguesa Alexandra Lucas Coelho.
"O que me dói é a corrupção que existe no Brasil", disse Sarlo. "A diferença fundamental entre aqui e o meu país é que aqui prenderam José Dirceu; no meu país, ninguém foi preso, o vice-presidente continua sendo vice-presidente", completou.
Crítica dos governos Kirchner e estudiosa das esquerdas latinas, ela se mostrou otimista com relação à Justiça brasileira. "Há resoluções da Justiça que foram acatadas, e essa é a única maneira de enfrentar a corrupção", afirmou.
Entre esses dois debates, os cartunistas Plantu, do Le Monde, Riad Sattouf, ex-Charlie, e o brasileiro Rafa Campos falaram sobre os limites do humor, sobre o ataque à publicação satírica francesa por grupos extremistas, e sobre a associação Cartoonists for Peace. Para Plantu, não é preciso humilhar ninguém para fazer humor com política e religião.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.