“Existe uma Julieta dentro de cada mulher”, diz a atriz Mia Goth
A britânica foi uma das convidadas para interpretar a heroína de William Shakespeare no novo calendário Pirelli
Guilherme Dearo
Publicado em 3 de dezembro de 2019 às 14h00.
Última atualização em 3 de dezembro de 2019 às 15h58.
Verona - Cada uma das nove mulheres que vamos elencar agora, entre atrizes, modelos e cantoras, fez sua própria interpretação da Julieta de William Shakespeare no calendário Pirelli de 2020, que acaba de ser apresentado.Vamos a elas: Mia Goth, Emma Watson, Kristen Stewart, Rosalia, Yara Shahidi, Stella Roversi, Claire Foy, Chris Lee e Indya Moore.
Julieta, a heroína da tragédia shakespeariana, começa a história como uma adolescente ingênua e termina como uma mulher forte, independente, que desafia convenções e morre por convicções. É um encontro de superlativos. A mais romântica das personagens da história do teatro foi o tema da próxima edição do calendário mais famoso do mundo.
O anuário da Pirelli acaba de ser apresentado para um grupo de jornalistas convidados do mundo inteiro. Não por coincidência, o lançamento aconteceu em Verona, no norte da Itália, palco da fictícia história entre os jovens amantes das famílias Montecchio e Capuleto. A cada ano o calendário tem um tema, mas este ano a Pirelli trouxe também duas novidades.
A primeira é que a folhinha deixou de ser um anuário para pendurar na parede e ganhou o formato de coffee table book, um livro luxuoso de 132 páginas para deixar na mesa da sala, com trechos de"Romeu e Julieta" e 58 fotografias em preto e branco das nove mulheres mencionadas antes.
A segunda novidade é que, junto com a edição impressa, foi apresentado um curta-metragem de 18 minutos em que o fotógrafo Paolo Roversi, autor das fotos do calendário, interpreta um diretor de cinema fazendo o casting das atrizes para o filme. Todas as candidatas queriam ser Julieta – e todas foram, cada uma interpretando uma Julieta diferente.
O título do projeto é “Procurando Julieta”. “Existe uma Julieta dentro de cada mulher”, diz no filme Mia Goth, atriz britânica filha de mãe brasileira, que ganhou fama depois das cenas de sexo no filme Ninfomaníaca. “Li o livro quando tinha 10 anos. Sonhava que era Julieta e o menino que eu gostava era Romeu. Ela passou de menina inocente para mulher madura, sem medo, apaixonada.”
Mia interpreta Julieta nessa primeira fase, inocente, terna, forte, assim como as atrizes Emma Thompson, Yara Shahidi e Indya Moore. Claire Foy, em lágrimas, traz uma Julieta mais trágica. Kristen Stewart é um Romeu desesperado, que toma veneno para encerrar sua agonia. A espanhola Rosalia e a chinesa Chris Lee, ou Li Yuchun, cantam e falam em seus idiomas de origem no curta-metragem.
“Não precisamos falar o mesmo idioma nesse trabalho, o amor é a forma de expressão”, disse o fotógrafo Paolo Roversi no lançamento do calendário. “Também não há idade para uma mulher ser Julieta, não há raça, não há continente. Julieta é uma alma, um espírito.”
Um dos fotógrafos de moda mais reconhecidos, Roversi queria um conceito de trabalho ligado ao amor e à beleza. “Esses são, há muitos anos, os ingredientes da minha busca.” São elementos bastante pessoais, como diz no filme a atriz americana Indya Moore. “Eu sou negra e sou trans. Eu sou negra de pele clara, e muita gente acha isso bonito. Eu acho bonita a pele escura. Da mesma forma, sou uma trans que não parece trans, e para algumas pessoas isso é ser bonito. Esse não é meu tipo de beleza.”
O calendário Pirelli está em sua48ªedição. O primeiro exemplar foi lançado em 1964. Os melhores fotógrafos do mundo são convidados a encabeçar o projeto e têm liberdade total para escolher o tema e os personagens. Paolo Roversi é o primeiro fotógrafo italiano – “por isso quis fazer algo na Itália”, diz. No final do documentário aparece a última legenda: "para Peter". Foi uma homenagem ao amigo e também mestre da fotografia, Peter Lindbergh, autor de três calendários, que faleceu este ano.