Item da mostra de Tomo Koizumi na Japan House (Divulgação/Divulgação)
Daniel Salles
Publicado em 20 de outubro de 2020 às 06h02.
Última atualização em 23 de outubro de 2020 às 15h23.
Fazia tempo que o mundo da moda não se entusiasmava tanto com um novo estilista como está agora com o japonês Tomo Koizumi. Com apenas 32 anos, ele figura na lista das 500 pessoas mais influentes da indústria segundo o site “Business of Fashion”, referência no segmento, após ser o grande assunto da semana de moda de Nova York, e, em setembro, desfilar uma colaboração com a grife italiana Emilio Pucci apresentada durante a semana de moda de Milão.
Nesta terça-feira (20) ele ganhará a primeira exposição fora de seu país. Ao contrário do que se poderia esperar de um designer que já desenhou peças para popstars americanas como Katy Perry e caiu nas graças de gigantes da costura como Marc Jacobs, a mostra irá desembarcar em São Paulo.
A Japan House reabrirá na cidade apresentando 10 looks da carreira explosiva do estilista e outros três vestidos exclusivos, cujos modelos são inspirados na visão de Koizumi sobre o samba e que só serão apresentados no país.
A EXAME conferiu primeiro O Fabuloso Universo de Tomo Koizumi, como foi intitulada a mostra que ficará no térreo do espaço cultural até o dia 10 de janeiro. Dispostos pela sala, os trajes mostram toda a carga dramática que acompanha o designer desde seus primeiros passos na moda há mais de dez anos em seu país natal. Os vestidos, construídos com retalhos de organza costurados um a um, guardam fendas, laços e volumes suntuosos que têm como referência principal o otimismo, “a alegria que une o Brasil e o meu trabalho”, segundo ele disse em entrevista por vídeo.
Não são roupas para o escritório, longe disso, porque para entender o fascínio da moda por esse autodidata e pedagogo de formação, nascido na província de Chiba, é preciso posicionar sua trajetória com a da moda dos dias de hoje. Enquanto parte da indústria defende o utilitarismo, a moda de tendências e, em alguns casos, descartabilidade, Koizumi oferece a festa, o glamour da noite e o sentimento nostálgico –que com o isolamento, parece mais necessário– de se arrumar.
Faz sentido, então, que a primeira celebridade a mostrá-lo ao mundo tenha sido Lady Gaga, que em 2016 usou um dos vestidos volumosos e fantasiosos criados por ele para uma passagem dela pelo Japão. O rótulo de “designer japonês”, aliás, não o incomoda, porque “há vários estilistas com raiz japonesa que são reconhecidos não pela nacionalidade, mas pelo trabalho”, e, para ele, “é gratificante que hoje seja lembrado entre eles”.
O impacto de sua obra foi tão grande que o Metropolitan Museum, de Nova York, correu para comprar uma de suas criações, que já compõe o acervo permanente do luxuoso Instituto de Vestuário do museu.
Para seu país, porém, a presença de Koizumi representa um espírito de renovação numa indústria que só neste ano perdeu dois ícones desse estilo colorido e festivo. Em julho, morreu o designer dos figurinos alienígenas de David Bowie, Kansai Yamamoto, e, no início deste mês, Kenzo Takada, o primeiro a se firmar internacionalmente ainda nos anos 1970.
Quem for à mostra na Japan House poderá ver de perto o mural de referências particular do estilista, em que fotos dos teatros tradicionais do Japão, de imagem tão volumosa quantos os vestidos do estilista, se misturam às das flores borradas que emprestam cores e linhas difusas para os looks.
No painel, montado como se fosse uma das telas vistas nas coxias dos desfiles de semanas de moda, a atriz alemã Marlene Dietrich e a modelo Karen Elson dividem a mesma parede de inspirações, ao lado de desenhos, recortes de editoriais para grandes revistas e cores, muitas cores. Toda a experiência é embalada pela trilha do desfile que o apresentou ao mundo, em fevereiro do ano passado, e é exibido em um dos véus brancos que separam os trajes.
Não vieram, porém, os modelos da coleção feita em parceria com a Emilio Pucci, que só devem chegar ao Brasil no próximo ano na loja da marca no shopping Cidade Jardim, em São Paulo. Essa colaboração representa o tipo de negócio que levará adiante sua ideia de fantasiar a vida e, em alguma medida, as pessoas que gostam de seu trabalho.
“Estou tentando criar um esquema em que fico só preocupado com o design e deixar outras pessoas se preocuparem em vendê-lo. Esse é um desafio que estou enfrentando agora. Eu crio para quem procura uma moda com um pendor artístico, quem se interessa por essa ideia de sonho. Não vou mudar meu estilo para tornar minhas roupas comerciais”, diz ele.
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E se engana quem acha que esse pensamento significa transformar a moda num mercado de nicho. “Não ganhei fama porque sou um japonês, mas porque as pessoas hoje estão procurando isso, essa visão otimista e alegre. Tenho muita sorte, porque quando tudo aconteceu foi um alívio, quando as pessoas passaram a querer usar minha roupa, pensei, ‘ainda bem que faço isso’”.
O Fabuloso Universo de Tomo Koizumi
De 20.10.2020 a 10.01.2020
Onde: Japan House. Avenida Paulista, 52, São Paulo – SP.
Horário de funcionamento: Terça a domingo, das 11h às 17h
Entrada gratuita
Informações e reserva online antecipada:: https://agendamento.japanhousesp.com.br/
Site: http://www.japanhouse.jp/saopaulo