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Ensaio nu questiona estereótipos relacionados ao HIV

O objetivo é acabar, de vez, com o preconceito em relação ao HIV e com os estereótipos criados sobre os corpos positivos

Ensaio nu questiona estereótipos relacionados ao HIV (Reprodução)

Ensaio nu questiona estereótipos relacionados ao HIV (Reprodução)

DR

Da Redação

Publicado em 13 de abril de 2016 às 21h22.

Última atualização em 5 de abril de 2021 às 15h43.

O abraço é um gesto difícil de decifrar. Ao mesmo tempo em que é tão íntimo e pessoal, constrói em alguns segundos uma relação de extrema cumplicidade e cheia de significações, até mesmo entre recém-conhecidos.

Tem abraço quente, forte, fofo, apertado, que enlaça, que afaga... Alguns são longos, outros mais curtos, uns mais distantes, alguns só de praxe, mas outros se encaixam perfeitamente em nossos braços e em nossas agonias.

O corpo fala e o abraço, talvez, seja a expressão mais sincera dele.

O corpo nu é misterioso. Precisa de uma trajetória de autoconhecimento até revelar-se. É empoderador e é forte. É delicado, mas contundente.

O abraço entre corpos nus é capaz de despir qualquer medo, barreira ou preconceito. Convida a uma reflexão, e mais importante, convida a uma interação. Entre corpos. Entre pessoas. Entre histórias. Entre vidas.

Pensando na pureza do gesto e na força do corpo, o Projeto Boa Sorte: um ensaio convidou alguns moradores de Brasília a compartilharem momentos de intimidade, de troca, de compreensão e de convivência em um ensaio fotográfico.

Poderia ser mais um projeto com imagens incríveis, mas a proposta vai além: metade dos modelo é soropositiva. O objetivo? Acabar, de vez, com o preconceito em relação ao HIV e com os estereótipos criados sobre os corpos positivos.

Em entrevista ao HuffPost Brasil, o ativista Gabriel Estrëla, nosso blogueiro e idealizador do projeto, explicou:

"A intenção do projeto como um todo é a de provocar um diálogo muito atualizado sobre o tema. Quando começamos a discutir esse ensaio nu, ficou claro que era uma oportunidade para atualizarmos a imagem que temos do corpo soropositivo para o HIV. E não apenas o corpo do indivíduo, mas também as possibilidades desse corpo se relacionar. A brincadeira com a sorologia favorece isso: não dá pra saber quem tem HIV ou não, são corpos muito variados. E também, o abraço faz que isso não importe: porque todos são corpos capazes de afetar, abraçar, consolar, apertar - enfim, se relacionar. Outros estigmas acabaram sendo questionados também, como por exemplo a antiga e equivocada ideia de que apenas gays têm o vírus."

O ensaio foi realizado em parceria com a Cia Fábrica de Teatro e o fotógrafo Daniel Fama. Entre os 250 inscritos, os responsáveis selecionaram 60 participantes que responderam as seguintes perguntas: Que abraço te dá sorte? Que cor ele irradia?.

Josuel Júnior, responsável pela produção, comentou os detalhes dos bastidores e as dificuldades enfrentadas após a veiculação das imagens:

"Foram cerca de 18 horas em estúdio e mais de 350 cliques brutos. Ao todo, 28 sessões fotográficas, que incluíram, prioritariamente, desconhecidos e casais, famílias e amigos, divididos entre artistas do DF, jornalistas, representantes do Ministério da Saúde, Ministério da Cultura. Crianças, homens, mulheres e uma drag queen. Ninguém, dentre os modelos, sabia a sorologia do parceiro. Tivemos duplas com um soropositivo e um soronegativo, dois soronegativos e dois soropositivos. Não pensamos numa lógica previsível justamente para que a poesia fosse (e seja) maior do que a curiosidade de saber quem tem ou não HIV. O que sabemos é que todos querem falar sobre o HIV. Foi difícil conseguir agendar as duplas, pois era um tal de cancelamento e desistência a toda hora. Agora, a dificuldade, além de levantar verba para montar a exposição física, é lidar com as manifestações preconceituosas em cada publicação em jornal, site ou revista. É normal, a gente sabe que isso iria acontecer, mas nos afeta, claro. Buscamos trocar uma ideia, entender o porquê de ela ter escrito tanta coisa feia. E é neste ponto que percebemos que o diálogo que propomos tem que ir além das fotos. Às vezes, um bom papo com o 'opressor' deixa a gente ver que não existem vilões e mocinhos na internet. O que existe, infelizmente, é a não instrução e a falta de informação. Esse é o desafio que não termina aqui."

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