Dupla indicação de melhor filme estrangeiro e direção, surpreende no Oscar
O filme Druk - Mais uma Rodada é o favorito ao Oscar de filme estrangeiro. O diretor do longa, o dinamarquês Thomas Vinterberg, surpreendeu ao ser indicado como melhor diretor
Julia Storch
Publicado em 17 de março de 2021 às 09h13.
Última atualização em 17 de março de 2021 às 09h13.
Todo o mundo esperava que Druk - Mais uma Rodada concorresse ao Oscar de filme estrangeiro - na verdade, o filme é o favorito da categoria. Mas quase ninguém apostava na indicação do dinamarquês Thomas Vinterberg como melhor diretor. "Essa é uma notícia maravilhosa. Muito obrigado à Academia e parabéns aos meus colegas indicados. É uma honra receber essas indicações. Fiz alguns filmes ao longo da minha carreira, mas nenhum deles significou tanto para mim como esse", disse o cineasta em comunicado.
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Curiosamente, Druk - Mais uma Rodada, que tem estreia prevista no Brasil para 25 de março nos cinemas que estiverem abertos, é uma espécie de reação aos sistemas de medidas do mundo. "Tudo agora é racional, medido, contado, numerado e avaliado com notas", disse Vinterberg em entrevista ao Estadão. "Até mesmo esta entrevista vai ser medida pela quantidade de cliques. Aqui está uma certa reação a isso tudo, uma certa rebelião."
Na trama, Mads Mikkelsen, que volta a trabalhar com o diretor depois de A Caça, é um professor de história desanimado com a vida. Junto com seus colegas professores Tommy (Thomas Bo Larsen), Nikolaj (Magnus Millang) e Peter (Lars Ranthe), Martin resolve colocar à prova uma suposta teoria do psiquiatra norueguês Finn Skårderud de que o ser humano tem um nível alcoólico no sangue 0,05% abaixo do ideal. Para alcançar o nível correto, basta ingerir bebidas alcoólicas.
O álcool, aqui, é apenas uma ferramenta, e o filme é bem mais profundo do que quatro amigos bebendo durante o dia. "Queríamos fazer um filme sobre substituir o tédio pela vitalidade, a curiosidade, a exploração, o risco", disse Vinterberg.
O longa não é autobiográfico, frisa o diretor. Mas ele descreveu como uma "horrível circunstância" o fato de, como artista, estar constantemente esperando um veredicto. "Ou são as críticas, ou a bilheteria, ou a resposta sobre um roteiro, de um investidor ou um ator, ou os festivais. E é fácil de lidar quando os resultados são bons. Mas não quando são maus, porque é um fluxo constante de resultados", disse o diretor. "Claro que isso não é privilégio só dos cineastas. Todo mundo está passando por isso, até por causa das redes sociais. Tudo é curtido ou não curtido."
No caso de Druk, os resultados têm sido quase todos positivos, desde a seleção do filme para o Festival de Cannes, que não aconteceu em 2020. Mas o cineasta tem um motivo a mais para comemorar os festivais de que participou, incluindo Toronto, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e San Sebastián, os quatro prêmios no European Film Awards (filme, direção, ator e roteiro), as quatro indicações para o BAFTA e, agora, as duas para o Oscar.
Em maio de 2019, poucos dias depois do início da produção, sua filha Ida, de 19 anos, morreu num acidente de carro. Druk era um projeto que Ida amava e adorava - e, segundo seu pai, ela era muito sincera em suas opiniões. Foi por causa dela que o longa foi em frente apesar da tragédia, e foi por causa dela que se tornou uma obra sobre a celebração da vida. "Então agora, quando o filme ganha prêmios, atenção, indicações, é extraespecial, porque parece que é para ela", disse Vinterberg. "É uma homenagem à sua memória, e há um elemento cicatrizante nisso."