Don Melchor 2019: o vinho para ser bebido em 2057 (por 1.400 reais)
Com potencial de guarda de 35 anos, a nova safra deste cabernet sauvignon que conquistou 100 pontos chega agora ao Brasil
Ivan Padilla
Publicado em 2 de junho de 2022 às 06h30.
O que faz um time depois de vencer uma Champions League? Não resta outra coisa a não ser treinar para a próxima. É um pouco com esse espírito que o Don Melchor 2019, do Chile, chega ao mercado, depois que a safra anterior desse vinho conquistou 100 pontos de parte do crítico norte-americano James Suckling.
A expectativa sobre o Don Melchor 2019, portanto, é alta. Vamos a alguns números sobre este vinho. Sua composição é 92% cabernet sauvignon, 5% cabernet franc, 2% merlot e 1% petit verdot. O teor alcóolico é de 14,8%. E o envelhecimento é de 15 meses em barris de carvalho francês (72% novos e 28% de segundo uso).
Talvez o número mais impressionante sobre o Don Melchor 2019 seja o tempo o de potencial de guarda, mais de 35 anos. Grandes tintos especiais chegam a ter um tempo máximo de guarda estimado em 25 anos. Alguns vinhos excepcionais podem passar esse período, como champagnes safrados, sauternes, portos. E o don Melchor 2019.
O Don Melchor 2019 apresenta cor vermelha violácea profunda, fruta vermelha fresca em abundância, notas florais e de groselha. Tem boa amplitude de sabores, bom equilíbrio com a texturas e sabores. A harmonização sugerida é com carnes vermelhas, especialmente de cordeiro, e carnes de caça silvestres assadas, em guisados, em pratos com molhos de vinho tinto. Também com queijos de vaca ou de cabra, queijos secos e maturados, ou queijos cremosos.
Enrique Tirado, enólogo e diretor técnico do vinhedo homônimo, no Vale do Maipo, no Chile, sabe que o desafio em fazer um novo Don Melchor é sempre grande. “Empregamos todo conhecimento e tecnologia como ferramentas para alcançar uma melhor compreensão de todas as etapas que compõem a produção de Don Melchor, e principalmente, observar e sentir cada planta e vinho”, diz. “É isso o que nos permite conseguir o equilíbrio perfeito em cada safra.”
O frio da Cordilheira dos Andes
Puente Alto, o terroir onde o vinho é cultivado, é responsável por boa parte do sucesso das safras Don Melchor. A denominação está dentro do Vale do Maipo, a região vitivinícola de maior prestígio do Chile, e tem desempenhado um importante papel na história moderna do vinho chileno.
O local fica aos pés da Cordilheira dos Andes, no terraço norte do Rio Maipo a 650 metros acima do nível do mar, em uma das zonas mais frias dentro do Vale do Alto Maipo. O clima por lá é mediterrâneo semiárido, com uma temperatura média anual de 14,4 °C e uma pluviometria média de 335 milímetros.
O vinhedo está plantado com variedades francesas importadas em meados do século 19. Uma das qualidades mais importantes do vinhedo corresponde às características de seu solo: pobre em nutrientes e, ao mesmo tempo, de constituição diversa, de argila, limo, areia, cascalho e pedras grandes arredondadas.
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Esses solos garantem uma boa drenagem e uma baixa fertilidade, o que ocasiona uma restrição no crescimento vegetativo das plantas, favorecendo a concentração e o amadurecimento natural dos cachos.
A Cordilheira dos Andes constitui outro elemento crucial nesse extraordinário terroir. Devido à influência fria, com ventos frescos que descem desde a cordilheira principalmente à noite e que geram uma grande amplitude térmica entre o dia e a noite durante o período de amadurecimento, a maturação ocorre de forma lenta e homogênea.
“Uma nova safra de Don Melchor nasce quando damos forma à arquitetura do ‘assemblage’que irá compor o vinho, proveniente principalmente dos diferentes cabernet sauvignon dos distintos lotes do vinhedo e, em alguns anos, com pequenas participações de outras variedades do vinhedo: cabernet franc, merlot e petit verdot, para aumentar a complexidade do blend final”, explica Tirado.
O Don Melchor 2019 chega agora ao mercado brasileiro por 1.400 reais. Um preço alto, mas compatível à fama a à expectativa da qualidade desta nova safra.