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Um dos motivos que calou a voz de angústia e dor do Linkin Park

Nesta sexta-feira completam-se três meses desde que Chester Bennington foi encontrado morto; o músico lutava contra a depressão e o vício em drogas e álcool

Chester Bennington, vocalista do Linkin Park (Frazer Harrison/Getty Images)

Chester Bennington, vocalista do Linkin Park (Frazer Harrison/Getty Images)

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Clara Cerioni

Publicado em 20 de outubro de 2017 às 11h50.

Última atualização em 22 de outubro de 2017 às 17h51.

São Paulo - O vocalista do Linkin Park, Chester Bennington, foi encontrado morto em Los Angeles, na Califórnia, há exatos três meses. Segundo a polícia local, ele se matou enforcado em seu quarto, onde os peritos encontraram uma garrafa de bebida alcoólica vazia.

Um dia antes, o músico parecia estar bem: passava as férias com sua mulher e seus seis filhos, no Arizona, mas decidiu voltar sozinho para casa dizendo que precisava trabalhar. Apesar de não ter deixado nenhuma carta sobre suas reais motivações, já se sabia que Chester havia travado uma luta enorme contra a depressão.

Há tempos, ele falava abertamente de cada batalha contra a doença, que, de certa forma, o levou às graças do público, anestesiado por suas composições permeadas de dores, angústias e sofrimento  após sua morte, os fãs agradeceram pela companhia de suas letras durante períodos difíceis da vida.

Em sua última entrevista, o cantor compartilhou a turbulenta relação com a depressão e vícios em drogas e álcool que vinha enfrentando nos últimos meses, o período mais turbulento dos seus 41 anos. “Minha vida toda eu só senti um pouco. Eu me vejo pego por esses padrões de comportamento, preso em minha cabeça, dizendo sempre que aqui é um bairro ruim. Eu não deveria poder andar sozinho”, declarou.

Ainda na mesma entrevista, Chester revelou que sofreu abuso sexual na infância, por um homem mais velho.

Dos 13 aos 16 anos o vocalista do Linkin Park bebia e usava LSD, mas logo passou para a cocaína e metanfetamina, que usou até os 20 anos, em 1996. Nesse ano, casou com sua primeira esposa. Ficou sóbrio até o divórcio, que aconteceu nove anos depois, em 2005.

Em declaração à revista Rolling Stone, no entanto, ele confessou que teve um deslize nos primeiros anos de Linkin Park (a banda fez sucesso no começo dos anos 2000).

A separação nada amigável o levou mais uma vez ao fundo do poço, de onde parece não ter conseguido mais sair. Nem mesmo o casamento com Talinda Bentley, em 2006, o levantou. A mulher que viveu com o músico até o fim de sua vida enfrentou junto dele diversos episódios de exagero na bebida e nas drogas.

"Dias antes de meu marido tirar sua própria vida. Pensamentos suicidas estavam lá, mas você nunca ia saber", diz Talinda, no tuíte acima, procurando mostrar que a depressão não tem cara e pode esconder-se atrás de um momento como o retratado na foto.

Um dos maiores sucessos da banda, "Crawling" procura representar o transtorno que o cantor passava com a doença mental, que, no seu caso, se retroalimentava com a ingestão exagerada de drogas e álcool.

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Crawling in my skin
These wounds, they will not heal
Fear is how I fall
Confusing what is real

Rastejando na minha pele
Esses feridas, elas não vão sarar
O medo é o que me derruba
confundindo o que é verdadeiro

(tradução livre, em português)

Para piorar a turbulência, Chester teve de enfrentar duras críticas dos fãs, que acusaram a banda de ter se "vendido para o pop" após o lançamento, em maio deste ano, do disco “One more light”, que atingiu o topo da Billboard 200 (ranking que se baseia nas vendas físicas, digitais e streaming dos discos de cada semana nos EUA).

Os ataques, somados à morte de seu amigo músico Chris Cornell, dois meses antes, desestruturaram o vocalista do Linkin Park que chegou a dizer durante um programa de rádio que “mataria qualquer um que falasse que eles tinham se vendido e os socaria na boca”. Após esse episódio, o músico pediu desculpas e reconheceu que havia exagerado.

A depressão, o peso da fama e as turbulências pessoais sufocaram a voz delicada e feroz de Chester, que parece não ter encontrado uma saída viável para lidar com a angústia — não encontramos nenhuma informação sobre se o cantor tomava anti-depressivos.  Sua morte, que foi um choque para o mundo da música, reascendeu a discussão sobre a necessidade de se falar sobre doenças mentais nesse meio.

A pesquisadora Sally Gross, da Universidade de Westminster, em Londres, estudou o porquê de os músicos serem três vezes mais propensos à depressão do que outras profissões. Para ela, a relação entre expectativa e realidade é uma das maiores frustrações desses artistas.

"Muitos deles estudaram muitos anos para se tornarem bons músicos, mas as condições desse trabalho são precárias e instáveis. Ficar longe de casa por meses ou até mesmo ficar semanas parado aumentam a pressão e a ansiedade desses profissionais", explica a pesquisadora ao site EXAME.  

Ou seja, as mortes de Chester e Chris Cornell não foram casos isolados no universo da música. Jim Morrison, Janis Joplin, Jimmy Hendrix, Kurt Cobain e Amy Winehouse, por exemplo, faleceram em decorrência das angústias da vida, do combinado entre álcool e drogas e das consequências da fama.

Sally Gross lembra que a pressão da mídia e das redes sociais são um fator presente na indústria, causando pressão sobre como os músicos e seus trabalhos são vistos.  

A morte de Chris Cornell

Dois meses antes da morte de Chester, em 18 de maio, seu amigo Chris Cornell, vocalista do Soundgarden e um dos fundadores do movimento grunge, foi encontrado morto em um quarto de hotel, em Detroit, após um show na região. Ele também se matou por enforcamento e sofria de depressão.

Seu falecimento abalou o vocalista do Linkin Park que, no velório de Chris, cantou a icônica música "Hallelujah", de Leornard Cohen, e disse estar grato do convite feito por sua família para participar da cerimônia.

Ele também fez uma homenagem ao músico no Twitter: "Sua voz era de alegria e dor, raiva e perdão, amor e mágoa em uma só. Suponho que sejamos todos assim. Você me ajudou a entender isso".

Propositalmente ou não, Chester se matou no dia em que Chris completaria 53 anos.

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