Como a chinesa GWM quer dominar o concorrido mercado de SUVs no Brasil
A montadora, que chegou ao Brasil há pouco mais de um ano com o Haval H6, já entrou nesta briga de gente grande
Repórter de Lifestyle
Publicado em 27 de maio de 2024 às 14h22.
PEQUIM, CHINA - Ao andar pelas ruas das principais capitais brasileiras, você provavelmente vai perder a conta se tentar identificar todos os SUVs que estiverem circulando em um trajeto da sua casa até o trabalho. Não é apenas uma percepção. Os números também ajudam a mostrar que a categoria caiu no gosto dos brasileiros. Os SUVs estão entre os carros mais vendidos no Brasil, com o Volkswagen T-Cross na liderança do segmento, com pouco mais de 19.000 unidades emplacadas entre janeiro e abril deste ano, segundo dados da Fenabrave.
O mercado é extremamente concorrido (com pelo menos 40 modelos à disposição dos clientes) e conta com montadoras que já estão em território nacional há décadas. Para a chinesa GWM, isso não é um problema. A montadora, que chegou ao Brasil há pouco mais de um ano com o SUV Haval H6, já entrou nesta briga de gente grande.
De janeiro a abril, vendeu 5.452 unidades do modelo. No ano passado, foram 10.704 carros do modelo SUV emplacados no Brasil, entrando no Top 20 dos mais vendidos. Em junho, chega a nova versão deste best-seller.
Ricardo Bastos, diretor de Assuntos Institucionais da GWM Brasil, acredita que há espaço para crescer ainda mais no mercado brasileiro, principalmente quando a fábrica começar a funcionar. A montadora chinesa está terminando de adequar uma planta na cidade de Iracemápolis, no interior de São Paulo, que pertenceu à Mercedes-Benz.
Os planos iniciais eram de que a fábrica entregasse o primeiro carro em maio, e seria uma picape. Após o sucesso do SUV Haval, o cronograma foi alterado, assim como a planta, que vai produzir neste primeiro momento o SUV. "A produção deverá iniciar no começo do próximo ano", diz.
Também há a expectativa de que outros modelos da linha Haval desembarquem no Brasil em breve, aumentando as opções do SUV da GWM, com variedade maior também de preços. Isso tudo se soma Ora 03, o 100% elétrico que já está no Brasil.
O executivo explica que a GWM tem uma estratégia 'clara e consistente' de crescimento no Brasil, preocupando-se também com o pós-venda. Está nos planos da montadora trazer ao país a divisão de luxo, chamada Wey, até o fim do ano. O modelo escolhido para o Brasil deve ser o Wey 5 em versão híbrido plug-in. Além do mercado de alto padrão, a marca também deve trazer modelos mais off-road, com a divisão Tank.
As informações foram adiantadas por Ricardo Bastos em entrevista exclusiva à Casual EXAME durante o Salão do Automóvel de Pequim, na China, realizado no fim de abril. Confira abaixo os principais trechos da entrevista.
Quando a fábrica da GWM vai começar a produção no Brasil?
Estamos em processo de conclusão das instalações, com previsão de finalização ainda este ano. A produção deverá iniciar no começo do próximo ano, com um SUV sendo o primeiro produto. Revelaremos em breve qual será o modelo, mas ficará entre o H4 ou H6, que possuem a mesma base. A fábrica deverá empregar inicialmente de 200 a 300 pessoas e, em sua capacidade máxima, chegará a 100 mil unidades anuais. Atualmente, ela está homologada para 50 mil unidades. Atingiremos a capacidade máxima em até dois anos, criando 2 mil empregos diretos e muitos indiretos.
Para o mercado brasileiro, a aposta da GWM para crescer ainda mais em vendas passa pelos híbridos?
Apostamos fortemente no híbrido, devido às dimensões continentais do Brasil e à infraestrutura limitada para veículos elétricos. Porém, também estamos introduzindo modelos elétricos, atendendo à demanda urbana. A autonomia do híbrido plug-in de 170 quilômetros em modo exclusivamente elétrico tem sido bem recebida, permitindo uso tanto urbano quanto para viagens curtas. Vamos lançar um híbrido leve, visando mais alternativas de mercado, e expandir nossa linha premium com as marcas Wey, mais de luxo, e Tank, uma picape adequada para o mercado agropecuário.
O híbrido flex também entra nessa estratégia?
A China não explorou biocombustíveis devido à sua infraestrutura, focando diretamente no elétrico. O Brasil, com uma infraestrutura já estabelecida de biocombustíveis, pode fazer uma transição gradual e estratégica para o elétrico. A GWM lançará veículos flex para complementar nosso portfólio, aproveitando a estrutura existente e explorando o potencial de mercado.
Além da fábrica, qual a estratégia da GWM para atender ao mercado brasileiro?
Vamos ter um centro de pesquisa e desenvolvimento que ficará no estado de São Paulo, possivelmente dentro da fábrica, mas também pode ser na capital. Ele será essencial para homologação de produtos e desenvolvimento de autopeças e componentes. Ter essa estrutura no Brasil agilizará processos, permitindo testes e desenvolvimentos locais, evitando o envio de materiais para a China, economizando tempo e custo. O Mover, incentivo do governo brasileiro, também será crucial para viabilizar esse centro.
*O jornalista viajou a convite da GWM.