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Cinema vive sua primeira década sem Marlon Brando

Hoje completa-se uma década da morte do ator, considerado um dos melhores da história, mas também protagonista de uma turbulenta e trágica vida pessoal

Marlon Brando: falar de Brando é falar de um antes e um depois na história do cinema (The LIFE Picture Collection/Getty Images)

Marlon Brando: falar de Brando é falar de um antes e um depois na história do cinema (The LIFE Picture Collection/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 1 de julho de 2014 às 09h01.

Los Angeles - Nesta terça-feira completa-se uma década da morte, aos 80 anos, de Marlon Brando, considerado o melhor ator da história do cinema, mas também protagonista de uma turbulenta e trágica vida pessoal.

Brando, o eterno rebelde de talento prodigioso que transformou a atuação para sempre, morreu no centro médico da UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) por causa de uma fibrose pulmonar.

Solitário e extremamente zeloso com sua intimidade, no funeral do ator estiveram amigos próximos como Jack Nicholson, Warren Beatty e Sean Penn, e suas cinzas foram espalhadas nas idílicas águas do Taiti - onde possuía o atol de Tetiaroa, pelo qual se enamorou rodando "Mutiny on the Bounty" (1962) - e nas dunas do Death Valley na Califórnia.

A última vez que Brando deixou a tranquilidade de seu lar foi para visitar o rancho de Neverland, onde tinha a amizade de Michael Jackson.

Na época, seu corpo pesado e envelhecido - havia engordado 40 quilos - requeria um tanque de oxigênio e deixava seu frágil coração por um fio.

Suas últimas atuações quase não deixavam entrever o duplo ganhador do Oscar ("Sindicato de Ladrões", 1954, e "O Poderoso Chefão", 1972) que fez do "método" sua forma de vida e que protagonizou obras memoráveis como "Uma Rua Chamada Pecado" (1951), "Viva Zapata!" (1952), "Júlio César" (1953), "Sayonara" (1957), "O Último Tango em Paris" (1972) e "Assassinato Sob Custódia" (1989). Por todas elas, foi indicado ao Oscar.

Falar de Brando é falar de um antes e um depois na história do cinema.

Todas as estrelas posteriores beberam dele, de James Dean a Paul Newman, de Robert De Niro a Sean Penn, de Al Pacino a Gene Hackman. Seu legado é tal que não há um só intérprete que não use Brando como referência.

O cinema, com ele, abraçou o risco. A imersão na psicologia do personagem até o sofrimento, abandonando técnicas mais tradicionais e convertendo-se em paradigma do método Stanislavski, onde se inculcava a exploração dos sentimentos próprios para oferecer uma interpretação o mais real possível. Tanto que Brando não atuava, ele era.

Poucos ícones do cinema uniram dessa forma talento, beleza e aparência privilegiada. Isso sim, um talento forjado na dor de uma infância dura que resistiu ao desapego e abusos de seus pais alcoólatras.

O "método" o permitiu canalizar essas desgraças e não ter medo de mostrar a ira, a sensibilidade e a naturalidade que o transformaram em um rosto tão carismático quanto temido por seus companheiros de estúdio.

Um deles, Frank Sinatra, o batizou como "mumbles" (murmúrios) por sua maneira de pronunciar os diálogos.

Mas Brando nunca quis a fama. Incomodava-se com a popularidade e com tudo relacionado com os veículos de comunicação, uma situação que se tornou insuportável quando teve que lidar com o escândalo como a prisão de seu filho Christian por assassinar o namorado de sua meia-irmã Cheyenne, ou o suicídio desta anos depois.

O julgamento de seu filho o deixou em uma situação econômica muito precária, já que precisava manter os três filhos que teve com sua empregada doméstica Christina Ruiz.

Brando teve seis filhos mais de mulheres não identificadas, e outros sete reconhecidos.

Sua primeira mulher foi Anna Kashfi. Em seguida, foi a vez da atriz Movita Castaneda e finalmente a nativa de Bora Bora, Tarita Teriipia.

Entre elas, incontáveis romances e relações fracassadas para um gênio que dedicou parte de seus esforços fora da grande tela a ajudar a minorias, especialmente os índios americanos.

Motivo pelo qual rejeitou seu Oscar por "O Poderoso Chefão" e enviou para recebê-lo uma ativista descendente de índios americanos, Sacheen Littlefeather, que pronunciou, entre aplausos e vaias do público, um discurso de Brando crítico à indústria por sua maneira de refletir essa população no cinema.

Dez anos após sua morte, Brando continua sendo sinônimo de coragem. Prova do fato é que quem quiser pode atrever-se a se hospedar em "The Brando Hotel", umas vilas dotadas com energia solar que seus parentes construíram na remota Tetiaroa, o refúgio pessoal do mito, e que estarão disponíveis a partir deste 1º de julho a um preço de US$ 2.450 por noite.

"Minha mente se tranquiliza quando me imagino ali de noite", costumava dizer o ator.

Naquele pequeno cantinho do mundo, essa força indômita da natureza encontrava sua paz interior.

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