Pedro Ribeiro: no comando da vinícola Bojador, em Portugal (Divulgação/Divulgação)
Repórter de Lifestyle
Publicado em 5 de abril de 2024 às 14h48.
Última atualização em 5 de abril de 2024 às 16h36.
"Me chamavam de 'louco' quando comecei a converter os vinhedos para orgânico". Essa afirmação ecoou na cabeça do português Pedro Ribeiro, em 2008, ano em que ele comprou as primeiras terras para fazer o seu próprio vinho na região do Alentejo, em Portugal. A ideia central da filosofia que queria seguir era trazer de volta uvas tradicionais da região que estavam esquecidas. Além disso, queria fazer todo o manejo das videiras sem a aplicação de herbicidas, pesticidas ou fertilizantes.
Anos atrás, essas técnicas eram consideradas pouco ortodoxas para a elaboração de vinhos, em especial em solo português. Mas Pedro Ribeiro acreditava que estava no caminho certo e não deu ouvidos ao que vizinhos de porteira falavam. Assim como tantas histórias de empreendedores que decidiram seguir o que acreditavam, o português colhe os frutos (com o perdão do trocadilho).
Hoje, a vinícola Bojador vende em torno de 400 mil garrafas por ano e tem um portfólio com dez rótulos entre branco, tinto e um espumante. Aqui no Brasil eles chegam importados pela Grand Cru, com preços que variam de R$ 119 a R$ 269 a garrafa. Para além de sua própria produção, Pedro Ribeiro presta consultorias a outras vinícolas da que também querem seguir os mesmos passos que ele trilhou.
"Levei quatro anos para fazer a conversão. No total, são 37 hectares de produção. O vinhedo mais novo tem cerca de 30 anos, e o mais velho tem 90 anos. Também sou um dos poucos que fazem um espumante no Alentejo. São sempre lotes feitos no campo, cofermentados com leveduras indígenas. A madeira é usada com muito cuidado de forma a preservar a autenticidade da nossa fruta", detalha Pedro Ribeiro.
Além da produção orgânica, o enólogo resgatou o uso de ânfora na elaboração dos vinhos. Apesar de o processo secular representar apenas 10% de todo o volume da vinícola, ele confere ao rótulo características muito únicas e especiais, com estruturas mais simples e muito aromáticas.
"É um projeto e uma marca muito focados nos mercados externos, mas começa agora também a ter alguma expressão no mercado português", diz Pedro. Outro processo que ele também faz questão de manter é a pisa das uvas feita de modo tradicional, com os pés. "Meu principal objetivo é obter uma representação extrema do terroir no copo de vinho", explica.
A relação comercial de vinhos entre Brasil e Portugal é de longa data e movimenta cerca de € 70 milhões por no. A importação de rótulos portugueses só perde para a de argentinos e chilenos. "Falamos a mesma língua, e os brasileiros estão buscando vinhos mais caros e com melhor qualidade. Isso é ótimo para nós”, afirma Frederico Falcão, presidente da Vinhos Portugal, agência de promoção dos rótulos lusitanos.
A expectativa global é que o consumo de vinho caia 1% todos os anos até 2026, de acordo com a consultoria IWSR, especializada no mercado de bebidas. Aqui no Brasil a situação é outra. O consumo médio per capita saiu de 1,8 litro em 2019 para 2,7 litros em 2022, e permanece nesse patamar. Nesse cenário, é natural que o olhar dos produtores do Velho Mundo para o mercado brasileiro cresça. Assim como Pedro Ribeiro, os produtores portugueses se sentem mais do que preparados para oferecer produtos de qualidade ao mercado brasileiro e crescer em fatia de mercado.