Ativistas jogam sopa de tomate contra quadro "Girassóis" de Van Gogh. (Just Stop Oil/Twitter/Reprodução)
Julia Storch
Publicado em 31 de dezembro de 2022 às 08h00.
No ano em que foi comemorado o centenário da Semana de Arte Moderna, diversos acontecimentos no universo das artes no Brasil e no mundo. Ataques a consagradas obras como forma de protesto, roubos de quadros de Tarsila do Amaral, leilões recordes e inaugurações de museus e galerias são alguns dos destaques deste ano.
Em maio deste ano, uma das obras de arte mais famosas do mundo, La Gioconda — conhecida no Brasil como Monalisa — sofreu um ataque de vandalismo no Museu do Louvre, em Paris.
Segundo informações do jornal El País, um homem, disfarçado com uma peruca de uma senhora e usando uma cadeira de rodas, atirou uma torta no quadro diante de uma sala completamente lotada, como de costume.
Os seguranças expulsaram imediatamente a pessoa do museu e funcionários iniciaram a limpeza da sala. Não se sabe a identidade nem a motivação do ataque.
Diversos visitantes publicaram fotos e vídeos do ocorrido nas redes sociais. Protegida por uma placa de cristal, a obra não sofreu danos.
Em outubro, duas ativistas foram presas após jogar sopa de tomate no quadro 'Girassóis' (1888) de Van Gogh e se colar na parede ao lado da obra, que fica na Galeria Nacional de Londres.
Protegido por uma camada de vidro, o quadro saiu ileso. A arte é avaliada em cerca de R$ 500 milhões (por volta de 80 milhões de libras).
Em outubro, policiais civis da Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade (Deapti) do Rio de Janeiro deflagraram a Operação Sol Poente para desarticular uma quadrilha acusada de roubar mais de R$ 720 milhões uma idosa de 82 anos, entre obras de arte de artistas renomados, joias e transferências bancárias.
A obra de arte "Sol Poente" estava escondida embaixo da cama de Gabriel Nicolau Traslaviña Hafliger.
Segundo a Secretaria de Estado de Polícia Civil (Sepol), “Ao todo, foram 16 obras. Três delas, avaliadas em mais de R$ 300 milhões, foram recuperadas em uma galeria de arte de São Paulo. O proprietário do estabelecimento confirmou que vendeu outras duas para o Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires. Ele não desconfiou por conhecer a família e pelos quadros terem sido entregues a ele pela própria filha da idosa”, informou a secretaria.
Um autorretrato inédito de Vincent Van Gogh, com a orelha intacta, foi encontrado atrás de outra tela do pintor holandês, informou a Galeria Nacional da Escócia em Edimburgo em julho.
A obra foi descoberta graças a um estudo de raios-X da tela "Retrato de Mulher (Cabeça de Camponesa)", feita em 1885 por Van Gogh, antes de uma exposição sobre o Impressionismo no Museu Escocês.
"Quando vimos o raio-X pela primeira vez, é claro que ficamos muito emocionados", disse Lesley Stevenson, curadora principal da Galeria Nacional da Escócia.
O retrato foi encontrado atrás da tela, coberto por camadas de cola e papelão, que aparentemente foram colocadas antes de uma exposição no início do século XX.
Fechado desde 2013, o Museu do Ipiranga, em São Paulo (SP), foi reaberto ao público em setembro como parte das comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil. Tombado como Patrimônio Histórico Municipal, Estadual e Federal, o edifício-monumento passou por obras de restauração e modernização.
"É um patrimônio que é inadmissível que fique fechado e, graças a esse trabalho em conjunto, estamos conseguindo agora devolver à população o que de fato é do povo. Quem chegar aqui vai ficar encantado com a estrutura, a forma como foi feita essa obra", disse Carlos Brito, ministro do Turismo, em visita técnica.
As obras para viabilizar o novo Museu do Ipiranga contaram com R$ 183 milhões autorizados via Lei Rouanet, a principal ferramenta de fomento à cultura no país. Por meio da lei, os projetos recebem uma chancela federal que se reflete em isenções fiscais a apoiadores da ação, quer sejam empresas ou cidadãos comuns.
Segundo o ministro, com o Museu do Ipiranga, o turismo na região será cada vez mais forte. A estimativa é que o número de visitantes do museu passe de 300 mil por ano para 1 milhão. "Não só na região, mas no Brasil porque um patrimônio como esse fortalece cada vez mais a nossa cultura. Vamos fazer esse patrimônio ser um incentivo para trazer novos turistas para o Brasil e para São Paulo", afirmou Brito.
Em um mercado em que artistas tradicionalmente são representados por galerias, ele sempre buscou um caminho próprio. Agora, em uma nova etapa de sua carreira, Gabriel Wickbold inaugurou em julho sua primeira galeria própria fora do Brasil, em Londres.
Difícil pensar em uma localização melhor. A galeria fica no Ham Yard Village, um charmoso espaço com lojas, restaurantes e ateliês dentro do Ham Yard Hotel, no Soho. O bairro costuma concentrar galerias de arte e fotografia, como a Frith Street Gallery e a The Photographer’s Gallery.
Uma pintura do mestre renascentista italiano Sandro Botticelli, cujas obras em coleções particulares são raras, foi arrematada por mais de US$ 45 milhões em janeiro, em um leilão na Sotheby's de Nova York.
Após uma disputa de 7 minutos entre dois compradores que fizeram seus lances pelo telefone e repetidamente fizeram ofertas adicionais de US$ 100 mil, o lote número 14 (a pintura The man of sorrows) foi vendido por US$ 39,3 milhões, mais taxas e comissões, elevando o total para US$ 45,41 milhões.
O preço está acima da estimativa da Sotheby's (US$ 40 milhões), mas bem abaixo do recorde estabelecido no ano passado (US$ 92,2 milhões) para uma pintura do mestre renascentista italiano, Jovem segurando um medalhão.
A pintura é um retrato de Jesus em um fundo preto, com um olhar profundo, uma coroa de espinhos em volta da cabeça e cercado por anjos. Suas mãos, machucadas, estão amarradas com cordas.
Já em maio, foi feita, através de um leilão, a compra do famoso retrato de Marilyn Monroe, feito pelo americano Andy Warhol (1928-1987), causando frisson no mundo cultural e colocando em evidência um discreto investidor de artes. Larry Gagosian desembolsou US$ 195 milhões pelo quadro, elevando-o ao status de obras mais cara já produzida no século 20.
Aos 77 anos, Gagosian é dono de um império de galerias de arte, com 19 espaços de exibição espalhados pelo mundo, de Nova York a Hong Kong. Ele é considerado um dos maiores negociadores de arte do mundo, com vendas anuais estimadas em US$ 1 bilhão.
A imagem de 1964 do rosto de Monroe com cabelo amarelo brilhante, pele rosada e sombra azul claro é uma das cinco pinturas que Warhol fez de Monroe.
Outra obra de Warhol também foi vendida por altas cifras neste ano. A pintura monumental e icônica de Andy Warhol de 1963, "White Disaster", foi vendida por US$ 85 milhões, o equivalente a R$ 464 milhões, em novembro em um leilão organizado pela Sotheby's em Nova York.
Os lances entre dois compradores duraram dois minutos e o leiloeiro baixou o martelo em US$ 74 milhões. Incluindo comissões, o preço total foi de US$ 85,3 milhões. A Sotheby's estimou a pintura em mais de US$ 80 milhões.
Desastre Branco não é exibida ao público há 15 anos e atualmente é propriedade de um colecionador de arte que permanece anônimo.
Com o surgimento e a expansão do mercado de tokens não fungíveis (NFTs), novas portas foram abertas para profissionais do setor artístico. Nos últimos anos, obras de arte digital registradas em blockchain movimentaram quantias milionárias, ganhando o reconhecimento de instituições tradicionais, como as casas de leilão Sotheby’s e Christie’s.
De acordo com a consultoria alemã Statista, desde o ano passado o Brasil é o segundo país do mundo no ranking global de pessoas que possuem um NFT. Com cerca de 5 milhões de usuários, o país fica atrás apenas da Tailândia. Estes números mostram que os NFTs, além do retorno financeiro, servem como uma espécie de “vitrine” para artistas, graças ao seu alcance global.
Uma galeria de arte em um metaverso brasileiro acaba de receber um quadro de um dos nomes mais importantes da arte: Pablo Picasso. O quadro Fumeur V, que foi queimado para viver eternamente no blockchain, vai integrar a exposição da NFTFY, empresa especializada no investimento em tokens não fungíveis (NFTs) a partir da fracionalização.
Apelidado de The Burned Picasso ou “o Picasso queimado” após uma iniciativa de um grupo de artistas anônimos dos Estados Unidos, o token não fungível gerado após a queima do quadro estará no prédio da NFTFY no metaverso brasileiro Xepa.World.
Um milionário também resolveu colocar fogo em uma obra da pintora mexicana Frida Kahlo (1907-1954) depois de digitalizar a imagem, transformada em 10 mil tokens não fungíveis (NFTs).
O episódio, que aconteceu em Miami (EUA) e foi publicado no final de julho no YouTube, além de gerar uma enxurrada de críticas dos internautas, é objeto de uma investigação aberta pelo Instituto Nacional de Belas Artes e Literatura (INBAL) do México, que tenta descobrir se a pintura queimada por Martin Mobarak é mesmo o original da obra "Fantasmones Siniestros" (fantasmas sinistros), de 1944, avaliada em 10 milhões de euros, R$ 51,5 milhões pela cotação da moeda europeia.