Lorenzo Bertelli: Diretor Executivo da Prada (MARCO BERTORELLO/AFP/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 14 de dezembro de 2025 às 16h01.
Seis meses após ser acusada de apropriação cultural, a Prada irá lançar uma coleção limitada de sandálias produzidas na Índia, inspiradas no calçado tradicional do país, com cada par estimado em cerca de 800 euros (5 mil reais).
A iniciativa transforma uma polêmica sobre apropriação cultural em uma parceria formal com artesãos locais, afirmou o executivo Lorenzo Bertelli em entrevista à Reuters.
Segundo o grupo italiano de luxo, serão fabricados 2.000 pares nas regiões de Maharashtra e Karnataka, por meio de acordos com entidades apoiadas pelo governo indiano. O projeto pretende combinar o trabalho artesanal típico dessas comunidades com tecnologia e processos industriais da Prada.
“Vamos unir a capacidade original dos fabricantes locais às nossas técnicas de produção”, disse Bertelli, diretor de marketing e responsável pela área de responsabilidade corporativa, à Reuters.
A coleção chegará às lojas em fevereiro de 2026, com distribuição em 40 unidades da Prada no mundo e também no e-commerce da marca.
A iniciativa marca a resposta da empresa às críticas recebidas há seis meses, quando apresentou em um desfile em Milão modelos semelhantes às Kolhapuri chappals, sandálias indianas que remontam ao século XII. As imagens viralizaram e geraram protestos de artesãos e políticos indianos. A Prada reconheceu que o design tinha referências históricas e iniciou negociações com grupos locais para uma colaboração.
O acordo foi firmado com a Sant Rohidas Leather Industries and Charmakar Development Corporation (LIDCOM) e com a Dr. Babu Jagjivan Ram Leather Industries Development Corporation (LIDKAR), instituições que promovem o patrimônio coureiro da Índia. A parceria, prevista para três anos, incluirá programas de formação na Índia e intercâmbios de curta duração na Academia da Prada, na Itália.
As chappals, originárias de Maharashtra e Karnataka, são produzidas artesanalmente por comunidades historicamente marginalizadas. Artesãos esperam que a colaboração aumente a renda, atraia novos profissionais e preserve uma tradição ameaçada pela concorrência de produtos baratos e pela queda da demanda.
“Quando a Prada endossa esse ofício como um produto de luxo, o efeito dominó tende a elevar a procura”, disse Prerna Deshbhratar, diretora-geral da LIDCOM, à Reuters.
Bertelli afirmou que o projeto e o programa de capacitação devem envolver “vários milhões de euros” e ressaltou que os artesãos serão remunerados “de maneira justa”.
Há duas semanas, o grupo Prada concluiu a compra da Versace por um valor de quase 1,3 bilhão de euros, após a aprovação das autorizações correspondentes.
“A Prada anuncia hoje a conclusão da aquisição da Versace da Capri Holdings, após ter obtido todas as autorizações regulatórias exigidas”, informou o grupo em um breve comunicado no dia 2 de dezembro. A Versace será comandada por Lorenzo Bertelli, filho mais velho de Miuccia Prada.
O anúncio da aquisição foi feito em abril deste ano e o valor da aquisição é um dos maiores movimentos da moda italiana que tenta enfrentar os conglomerados de luxo franceses. O grupo é proprietário das marcas Miu Miu e Church's.
"Nosso objetivo é dar continuidade ao legado da Versace, celebrando e reinterpretando sua estética ousada e atemporal; ao mesmo tempo, forneceremos a ela uma plataforma sólida, reforçada por anos de investimentos contínuos e enraizada em relacionamentos de longa data", disse o CEO da Prada, Patrizio Bertelli em um comunicado à época.
Segundo a Prada em um comunicado oficial, a Versace manterá seu DNA criativo e autenticidade cultural. "Ao mesmo tempo em que se beneficiará de toda a força da plataforma consolidada do grupo, incluindo capacidades industriais, execução de varejo e experiência operacional", diz o documento.
Desde o dia 1º de abril, Donatella Versace deixou a direção artística da grife Versace, cargo que ocupou desde 1997. Ela foi substituída por Dario Vitale, que possui passagens pela Miu Miu. O movimento já era um indicativo da aquisição.
Em 4 de março, o grupo Prada, o maior de moda da Itália, anunciou um faturamento de 5,43 bilhões de euros em 2024, alta de 17% em comparação a 2023. Os lucros foram de 839 milhões de euros, 25% a mais que o ano anterior.