12 relógios que contam a história da Seiko
Companhia data do final do século XIX, e está recheada de “primeiros do mundo”
Da Redação
Publicado em 23 de outubro de 2014 às 19h08.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 15h00.
São Paulo - A relojoaria Seiko é conhecida por muitos como uma produtora de relógios de quartzo de baixo custo. Mesmo muitos que descobriram recentemente a linha de alta gama da marca , a Grand Seiko, estão distantes de ter um conhecimento profundo da companhia, que data do final do século XIX e está recheada de “primeiros do mundo”. Leia, abaixo, uma lista com 12 peças que representam a evolução da relojoaria ao longo dos anos.
Kintaro Hattori, fundador da relojoaria, tinha apenas 21 anos quando abriu a loja de relógios K. Hattori, no distrito de Kobayashi, em Tóquio, Japão. Foi ali que ele deu início a uma rede de construção e reparo de relógios. Quando tinha 31 anos, fechou uma parceria com um engenheiro chamado Tsuruhiko Yoshikawa, para montar a fábrica que se chamaria Seikosha, em 1892, antecessora da atual Seiko. Depois de muitos anos produzindo relógios de parede de alta qualidade, Seikosha lançou seu primeiro relógio de bolso, chamado apenas de Timekeeper. A caixa de 54,9 mm em prata era feita no Japão, mas a maior parte do movimento era importada da Suíça. O nome “Timekeeper”, em inglês, veio a partir do senso de mercado de Hattori, já que, sob este nome, o relógio poderia ser exportado futuramente.
Hattori rapidamente reconheceu o crescimento da popularidade do relógio de pulso e logo viu que a demanda por eles ultrapassaria a de relógios de bolso em breve. Por isso o lançamento de Laurel, em 1913, apenas 11 anos depois dos primeiros relógios de parede da marca. O relógio conta com uma caixa de prata com 29,6 mm de diâmetro, mostrador esmaltado de porcelana e movimento de 12 linhas de diâmetro. A princípio, a necessidade de importar componentes significava que a produção era baixa – apenas 30 a 50 relógios por dia – mas, ao redor de 1910, Seikosha gerenciou sua própria produção de rodas de ajuste e, em 1913, de mostradores esmaltados.
O grande terremoto que atingiu o Japão em 1923 destruiu a fábrica Seikosha, acabou com estoques e interrompeu a produção de relógios. No entanto, Hattori decidiu rapidamente reconstruir sua fábrica, apesar dos altos custos, e apenas um ano depois o mundo foi apresentado ao primeiro relógio com o nome “Seiko” no mostrador. Seiko é a abreviação de Seikosha que, em tradução livre, significa “Casa do acabamento requintado”, em japonês. O uso de uma palavra que não fosse em inglês demonstrava que Hattori já estava confiante o suficiente na qualidade de seus produtos e que eles seriam vendidos sem problemas, apesar da crença de que produtos feitos no Ocidente teriam qualidade superior. O relógio tinha uma caixa de 24,2 mm de diâmetro feita em níquel; já seu movimento contava com 9 linhas de diâmetro e possuía sete joias. Seus pequenos segundos foram padrão até a década de 1950, quando o modelo Seiko Super foi lançado – o primeiro relógio japonês com ponteiro de segundos central.
Seiko considera que o modelo Marvel tenha sido um marco em sua história. É o primeiro relógio da marca a ser produzido integralmente in-house, desde seu rascunho. O diâmetro do movimento (26 mm) era maior do que o do Seiko Super (mas batia com as dimensões de Seiko Automatic, que foi lançado no mesmo ano e ficou conhecido por ser o primeiro relógio de pulso com movimento automático japonês). Sua precisão e estabilidade, que incorporou uma outra invenção da marca, o sistema de absorção de choques Diashock, era muito superior aos seus antecessores, assim como outros relógios japoneses da mesma época. Seiko Marvel foi produzido até 1959, suplantado por Seiko Gyro Marvel, com um novo movimento automático com o sistema “Seiko Magic Lever”, que melhorava a eficiência de corda.
Em termos de precisão e confiabilidade, este foi o relógio criado pela Seiko para ser o melhor do mundo. O movimento mecânico, calibre 3180, media 12 linhas, possuía 25 joias e operava à frequência de 18.000 vph. O relógio possuía uma caixa dourada de 39 mm de diâmetro e 10 de espessura. Cada modelo era certificado com um padrão de precisão original estabelecido pela Seiko (que, hoje em dia, é mais restrito do que a agência suíça de certificação COSC ). O relógio, com seu mostrador clean, ponteiros longos e índices aplicados, estabeleceu padrões de design que modelos Grand Seiko aderiram e possuem até hoje.
Com todas as realizações anteriores, não é surpresa que Seiko também foi responsável por criar o primeiro cronógrafo do Japão. Sua história começa com os jogos olímpicos de 1964, sediados em Tóquio, quando Seiko foi cronometrista oficial. A relojoaria providenciou milhares de unidades dos mais diferentes tipos de relógios “cronômetros” para os timers olímpicos. Para comemorar o evento, lançou uma versão comercial de seu cronógrafo de pulso, com um sistema de ativação por um único botão. Seiko Crown Chronograph possuía uma caixa de aço inoxidável de 38,2 mm de diâmetro e 11,2 mm de espessura, que proporcionava 30 metros de resistência à água. O movimento que o equipava era o calibre 5719, de 12 linhas e 21 joias.
Foi apenas um ano depois da apresentação do primeiro cronógrafo de fabricação japonesa que a companhia lançou o primeiro modelo dedicado a mergulhadores fabricado no Japão. Como é possível inferir pelo seu nome, o relógio era resistente a 150 metros sob a água e media 38 mm de diâmetro, por 13,4 de espessura. Ele possuía um bisel de rotação bidirecional e era equipado com o calibre 6217 (17 joias, 18.000 vph). Naquele tempo, mergulho era um hobby relativamente raro, então este era um produto bastante especializado. Como a prática do mergulho foi se tornando mais popular, Seiko continuou a refinar seus modelos para o esporte. Em 1968, uma versão de alta frequência foi apresentada (36.000 vph) e proporcionava 300 metros de resistência sob a água. O primeiro relógio profissional de mergulho, de 1975, suportava pressões de até 1.000 metros – ele também foi o primeiro relógio a ter uma caixa de titânio. Uma outra versão, de 1986, do relógio de mergulho profissional (o primeiro com bisel unidirecional) melhorou ainda mais a resistência sob a água. Os padrões seguidos pela marca neste tipo de modelo ajudou a estabelecer os padrões ISO para relógios de mergulho, usados ainda hoje.
O ano de 1969 foi marcante para a indústria relojoeira, pois ficou conhecido como “a grande corrida de cronógrafos automáticos”. Diversas marcas suíças – e uma japonesa notável – vieram a ser as primeiras relojoarias a produzir e vender um cronógrafo de pulso equipado com um movimento automático. O resultado desta competição trouxe um número considerável de relógios que são ícones até hoje, como Breitling Chrono-Matic, Zenith El Primero e Heuer Monaco. Mas o primeiro deles a estar disponível no mercado (maio de 1969, especificamente) era Seiko 5 Sports Speed Timer. Este é o primeiro relógio do mundo com cronógrafo e movimento automático equipado com alavanca vertical e roda de coluna. O modelo possuía um contador de 30 minutos, escala taquimétrica na porção exterior do dial e uma janela de dia e dia da semana com um sistema bastante inovador: o usuário poderia configurar para ver o dia da semana em inglês ou japonês. O calibre 6129 operava a 21.600 vph e a caixa de aço inoxidável com 30 mm de diâmetro resistia a 70 metros sob a água.
No mesmo ano em que a Seiko ganhava a corrida dos cronógrafos automáticos, também revelou uma peça que ameaçou transformar todos os relógios mecânicos obsoletos. Seiko Quartz Astron foi o primeiro relógio de quartzo do mundo e representou um avanço tecnológico sem precedentes. Seu oscilador em forma de garfo deu ao movimento Calibre 35A uma impressionante precisão de +/- 5 segundos por mês, muito mais preciso do que qualquer movimento mecânico. O pequeno e fino movimento conservava energia por movimentar o ponteiro de segundos apenas uma vez por segundo, um novo desenvolvimento para relógios de pulso. O oscilador parece ser bastante resistente a choques e trabalhava a uma voltagem bastante baixa, proporcionando mais de um ano inteiro de vida de bateria. Apesar de os relógios de quartzo hoje em dia quase passarem batido por apreciadores, os primeiros eram definitivamente luxuosos, com caixas de ouro 18 quilates.
A marca não desistiu das inovações nos relógios mecânicos e outros tipos de tecnologias depois da apresentação dos modelos de quartzo. Um relógio movido à energia solar foi apresentado em 1977 e um relógio de quartzo com energia gerada à mão em 1986. Em 1988 apresentou uma nova tecnologia que ajudaria a definir a marca para a era moderna com seu Seiko A.G.S. (Automatic Generating System – Sistema de geração automática. Que viria a ser conhecido depois como Kinetic), um relógio que possuía um peso oscilante que convertia o movimento do pulso do usuário em energia elétrica, que fazia com que o calibre de quartzo se movimentasse.
Uma nova tecnologia foi apresentada pela marca em 1999, com a apresentação do primeiro relógio com um movimento “Spring Drive”, com um oscilador de quartzo, mas com corda, como um relógio mecânico. Desde sua estreia, diversos modelos da marca são equipadas por este sistema, até hoje. Incluindo relógios da linha de alta gama, a Grand Seiko. Talvez o mais notável uso do sistema esteja no Spring Drive Spacewalk, especialmente encomendado pelo magnata dos games Richard Garriott – com pai astronauta da NASA e usuário de relógios Seiko. Em outubro de 2008, Garriott visitou a Estação Espacial Internacional – como sexto “turista” a ir ao Espaço. O relógio, que era limitado a 100 unidades, foi desenhado especificamente para viagens espaciais, com juntas especiais que fechavam hermeticamente e faziam a peça funcional em baixíssimas temperaturas. A caixa de titânio era extremamente leve, o mostrador largo proporcionava fácil leitura dos dados, além de os índices e ponteiros contarem com três vezes mais revestimento luminescente do que os relógios comuns. Além disso, os grandes botões dos cronógrafos eram assim para serem facilmente operados por alguém que estivesse vestindo as grandes luvas de astronautas.
O atual CEO e presidente da companhia, Shinji Hattori (descendente do fundador), mandava uma forte e inconfundível mensagem quando optou por ressuscitar o nome “Astron” para o relógio de energia solar e funcionamento GPS, apresentado com muita celebração durante a Baselworld de 2012. Como o primeiro modelo Astron, que introduziu a cronometragem via quartzo, o novo Astron GPS Solar representa o lançamento de uma tecnologia completamente nova e que pode virar o jogo. Ele é um relógio analógico, que funciona com energia solar e recebe sinais GPS para determinar a localização da peça e ajustá-la automaticamente com o fuso-horário em que ele se encontra. Ele reconhece todos os 39 fusos (relógios mecânicos apresentam apenas até 37) e possui um sistema de reset manual. Astron cobre o planeta, primeiro ao definir sua localização com o uso do GPS, depois compara o resultado com uma base de dados interna que divide a superfície da terra em milhões de quadrados, cada uma voltada para um fuso específico. O sistema do relógio é superior até mesmo àqueles controlados por rádio, que recebem sinais terrestres de relógios atômicos, que automaticamente reconhecem o novo fuso em que se encontra.