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Qual é o papel do RH em tempos de inteligência artificial?

Desafios e oportunidades da tecnologia foram tema de evento promovido pela HRTech mineira Sólides com gestores de recursos humanos de empresas do Pará

Evento Conecta Brasil, organizado pela HRTech Sólides, em Belém: plateia atenta aos rumos da gestão de pessoas em meio às novas tecnologias (Divulgação/Divulgação)
Leo Branco

Editor de Negócios e Carreira

Publicado em 21 de setembro de 2023 às 14h47.

BELÉM (PA) — Em meio ao sucesso do ChatGPT, ferramenta de inteligência artificial que foi ao ar em novembro do ano passado e já é utilizada ativamente por mais de 100 milhões de pessoas, uma porção de dúvidas sobre o futuro dos empregos veio à tona. Não tem sido diferente nos recursos humanos.

O que é o evento

Nesta quinta-feira, 21, um grupo de 105 gestores de recursos humanos e empreendedores reuniu-se num hotel de Belém para discutir esses e outros temas.

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A conclusão foi quase uníssona: a tecnologia pouco ou nada colabora num cenário de times (e sobretudo lideranças) desconectadas com a estratégia de uma organização. E, portanto, humanos serão cada vez mais necessários para, veja só, buscar pontos de conexão com outros humanos.

Chamada de Conecta Brasil, a reunião desta quinta-feira foi promovida pela Sólides, uma HRTech fundada em Belo Horizonte em 2010 para fornecer um software na nuvem com módulos úteis ao RH em várias frentes.

Na lista estão desde funções tradicionais, como a gestão da folha de pagamento e dos processos de admissão de pessoal, a tarefas mais estratégicas, como a análise de perfis comportamentais e desempenho individual dos funcionários — algo que convencionou-se chamar de people analytics.

Em 2022, a Sólides captou 530 milhões de reais de um grupo de investidores de peso e que inclui o americano Warburg Pincus.

Foi a maior rodada de investimento feita por uma HRTech brasileira até agora.

Logo após o aporte, a Sólides expandiu seu negócio com a compra do Tangerino, solução para automação de processos de departamento pessoal.

Atualmente, as duas empresas têm mais de 25.000 clientes.

No centro do modelo de negócios da Sólides estão as pequenas e médias empresas. Para elas, uma contratação acertada e um desempenho excepcional de um funcionário podem fazer toda a diferença para um bom resultado.

E, daí, a gestão de pessoas acaba estando no topo da lista de prioridades dessas organizações.

"Está cada vez mais claro que trazer a gestão de pessoas para o centro das tomadas de decisão estratégicas impacta diretamente nas finanças e nos resultados", diz Mônica Hauck, cofundadora e CEO da Sólides.

"Não por acaso, temos visto um crescimento bastante significativo na maioria dos nossos clientes, bem acima da média nacional."

Por que Belém

Como pano de fundo para o evento em Belém está a visão por parte da HRtech de uma assimetria de conteúdos para os times de recursos humanos no Brasil.

Se, por um lado, esses profissionais ganharam muita relevância nas empresas nos últimos anos em função das mudanças no jeito de trabalho trazidas com a pandemia, por outro, os encontros para discutir as tendências desse setor seguem concentrados no eixo Rio-São Paulo.

"Quatro dos cinco maiores eventos de RH no Brasil acontecem no eixo Sudeste", diz Rafael Kahane, CMO da Sólides.

No primeiro ano do Conecta Brasil, pelo menos 800 tomadores de decisão no RH das empresas deverão participar de encontros presenciais em quatro capitais com apelo regional relevante: Recife, Brasília, Curitiba e Belém.

O da capital paraense trouxe sobretudo lideranças de empresas médias e grandes com atuação na cidade, cuja economia pautada no comércio e serviços foi beneficiada pelo dinamismo do Pará, porta de saída de boa parte de matérias-primas brasileiras como minério, grãos e proteína animal.

Quem já usa o ChatGPT?

Questionados por Isabella Furbino, coordenadora de gente e gestão da Sólides, sobre quem já estava utilizando o ChatGPT no dia a dia do trabalho, praticamente 100% da sala respondeu que sim.

Aqui e ali, contudo, havia dúvidas sobre os limites da inteligência artificial. Será que a tecnologia veio para roubar empregos? Ou trazer uma camada a mais de complições numa agenda já concorrida como é a de um gestor de RH?

"Façam as pazes com o ChatGPT e parem de gastar tempo com atividades que podem ser feitas por ali", diz Furbino, citando tarefas manuais como análise das qualificações no CV de algum candidato a vaga aberta.

"A tecnologia vem para ajudar o RH a ser mais estratégico inclusive no dia a dia."

Denyze Santos, a palestrante seguinte, ilustrou de maneira bastante didática o efeito da tecnologia sobre o dia a dia do RH.

Natural do Pará, ela mudou-se há pouco mais de cinco anos para João Pessoa, na Paraíba, por motivos pessoais.

Na ocasião, ela precisou começar praticamente do zero uma carreira até então bem-sucedida na gestão de departamento pessoal em diversas empresas do Pará.

Ao investir na própria página de LinkedIn, e publicar ali conteúdos relacionados ao dia a dia dela como gestora de RH de uma maneira descomplicada, ela ganhou seguidores e influência no tema.

Atualmente, ela tem 493.000 seguidores, o suficiente para fazer dela uma Top Voice, alcunha dada pelo LinkedIn a perfis com capacidade de engajar os demais usuários da rede social em algum determinado assunto.

No caso de Santos, os temas em questão giram ao redor de transição de carreira, recolocação e reestruturação de currículo, três atividades que ela precisou fazer ao mudar de cidade.

"Trabalhei minha marca empregadora nas redes", diz ela, para quem a tecnologia está aí para dar eficiência ao trabalho do RH.

"Quem ainda usa caneta marca-texto para marcar os pontos fortes num currículo de um candidato?", perguntou Santos à plateia. Alguns levantaram a mão afirmativamente.

"Há muito espaço para inovação no RH, sobretudo nos processos seletivos."

Como integrar cultura e tecnologia

A tecnologia deverá ajudar bastante o dia a dia do RH, mas não resolve tudo sozinha.

Ter gente engajada é o que move uma empresa, diz Marina Cançado Guimarães, diretora de customer sucess na Sólides.

E, para isso, ter uma cultura organizacional forte é o que vai fazer a diferença entre uma empresa capaz de usar a tecnologia a favor dela.

"A cultura é o pêndulo da organização", disse ela.

Parte importante de uma cultura bem azeitada passa por expectativas alinhadas — da liderança para com o restante da empresa e, sobretudo, da base da empresa em relação às perspectivas de desenvolvimento numa organização.

Um exemplo de como colocar a ideia na prática foi dado pela própria Marina. Em processos para contratação de novos integrantes ao time dela na Sólides, ela costuma apresentar uma série de desafios a serem resolvidos pelo futuro funcionário.

A seleção dos "abacaxis" é entregue ao candidato, por escrito, junto com a lista de benefícios da vaga, como salário, plano de saúde e por aí vai.

"Isso cria já na largada um consenso entre funcionário e empresa sobre o que deve ser feito e onde é possível chegar", diz ela. Algo que, por mais inteligente que o ChatGPT possa ser, ele ainda não consegue fazer.

*O jornalista viajou a convite da Sólides

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